Novamente, tive de agregrar dois filmes que vi. A ver se retomo o ritmo a que vos habituei - um por semana.

Os Estranhos

Eis um filme constrangedor. Para lá do bom suspense existente, este é um filme que incomoda quem o vê. Porque, para além dos sustos, muito bem conseguidos, ninguém esperaria por um final assim… Mas vejamos.

Tudo começa quando o casal Kristen McKay (Liv Tyler) e James Hoyt (Scott Speedman) chegam a uma remota casa de veraneio dos pais deste, onde pretendem pernoitar, depois de um dia difícil. Logo no início, somos confrontados com o facto de que “os terríveis factos ocorridos na casa de férias da família Hoyt, no nr. 1801 de Clark Road, a 11 de Fevereiro de 2005, não são ainda totalmente conhecidos”. Ficamos, sem dúvida, sugestionados. O medo começa logo ali, naquela frase...

Voltando ao casal, aquela era, supostamente, uma noite de comemoração. Em pleno casamento de um amigo comum, James propõe casamento a Kristen. Mas esta recusa... Portanto, ao saírem da festa de casamento e rumarem à tal casa, ambos iam muito constrangidos. Uma vez ali chegados, dão-se conta que as suas vidas entraram num colapso... mal sabiam no inferno que ainda se viriam a tornar. Às quatro da manhã, uma estranha bate à porta e, com uma voz pouco amigável, pergunta: “a Tamara está?”. A partir daí, o casal entra numa espiral de terror… E nós assistimos, impávidos, ao medo que lhes vão incutindo uns estranhos.

São três, os estranhos mascarados. Têm um prazer doentio em aterrorizar o jovem casal, levando Kristen e James ao limite da sobrevivência, onde apenas os seus instintos mais brutais lhes podem valer para salvarem as suas vidas… Toda a noite é passada envolta em medo e suspense. Infelizmente para nós, as cenas são pouco ou nada previsíveis, pelo que vamos sofrendo com as personagens. Dito, isto, sublinho que este é um bom thriller. Bem elaborado e realizado.

O que nos aterroriza mais, é o final, que, para além de não acabar como desejaríamos, leva-nos à conclusão de que não havia propósito algum que justificasse aquele mal. O único norte dos três estranhos era o prazer de fazer o mal pelo mal, sem quererem chegar a um objectivo, fosse qual fosse. E esse mal fazer gratuito é que choca. Para além de nos pormos a imaginar sobre o que teria sido encontrado naquela casa, as provas do que poderia ali ter acontecido, que tenha dado origem a esta realidade fílmica…

O autor e realizador, Bryan Bertino, explora em “os Estranhos” o nosso medo mais universal. E no fim, nunca conseguimos saber quem eram, realmente, aqueles estranhos. Nada é revelado sobre os visitantes, a não ser para o casal de protagonistas. O mistério prossegue nas nossas mentes…

Gran Torino

Mais um grande filme de Eastwood. “Gran Torino” conta a história de Walt Kowalski, um velho rezingão, veterano da Guerra da Coreia, que tem a infelicidade de morar perto de asiáticos, povo que passou a odiar. Este pode bem ser um dos últimos papéis interpretados por este grande actor e excelente realizador, que tem vindo a anunciar a sua intenção em retirar-se. Felizmente para nós, apenas e só como actor.

Aqui, Clint Eastwood interpreta um velho racista, que trata todos os asiáticos com desdém. Os Hmongs, nome pelo qual são conhecidos o imigrantes do sudeste asiático, são quem ele mais despreza. Até que uma família coreana, que passa a viver na casa ao lado da sua. Uma vez que vive sozinho e não mantém relações com ninguém, nem com a própria família, Walt é levado, pelos vizinhos imigrantes, a confrontar os seus próprios preconceitos.

Após a tentativa gorada do seu vizinho adolescente Thao, de lhe roubar o seu estimado carro, um Gran Torino de 1972, devido à pressão de um gang de Hmongs, Walt, vê-se, inesperadamente a defender o rapaz, o que o faz tornar-se no herói do bairro. A mãe de Thao e a irmã mais velha, Sue, com gratidão, insistem em que Thao trabalhe para Walt como forma de lhe pedir perdão. Walt, que nada quer ter a ver com estas pessoas, acaba por pôr Thao a trabalhar, o que vem dar origem a uma amizade improvável mas sincera, que vai mudar as suas vidas para sempre.

Kowalski é um ser humano fantástico, que vemos evoluir ao longo do filme. No início, despreza os imigrantes asiáticos com atitudes pouco dignas, como cuspidelas, sempre que os avista. Mas assim que começa a dar-se melhor com eles, demonstra ser um ser humano excepcional. Eis que surge uma personagem importante, o Padre, que faz com que Walt olhe para as coisas aparentes de outra maneira. Contudo, é na relação que Walt mantém com o jovem Thao, que o velho resmungão se vai redimindo.

Quando Walt sabe que Thao está a ser constantemente importunado pelo gang Hmong, decide actuar à sua maneira, contra tudo e todos. Uma atitude que leva a uma única solução. No final, Walt decide sacrificar-se para salvar o rapaz que inicialmente desprezara...

A coragem de Walt, que acha que os seus dias estão perto do fim, é admirável e o seu sacrifício, muito louvável. O velho senhor, sabendo que não poderia fazer mais nada para melhorar o mundo, encarrega-se de assegurar um futuro melhor para Thao e a sua família. Uma espécie de redenção, por todo o mal que fizera ao longo da sua vida, particularmente na guerra. E mesmo no final, mais uma surpresa: Kowalski deixa, em testamento, o seu muito venerado Gran Torino a Thao, em vez de o deixar à neta, como a sua família ansiava. Este é o maior legado de Walt. Um carro que simboliza um dos bens mais preciosos da vida - a amizade!

O filme mostra-nos a rudeza de carácter de um homem, mas também o seu lado mais maravilhoso. E é nisto que Clint Eastwood é mestre. Em nos mostrar a realidade, pura e dura, mas envolta de uma simplicidade e sensibilidade, que nos toca profundamente.

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