Foi há exactamente uma semana. O Pavilhão Atlântico, em Lisboa, recebeu a primeira actuação de Kylie Minogue em solo português. Após uns gloriosos 20 anos de carreira, a cantora australiana, deu a sua primeira performance no nosso país, onde a própria fez questão de o lembrar, assegurando ao público que tinha valido a pena a espera. E o público, comigo, concordou em pleno. Kylie, que já tem dez álbuns lançados, venceu recentemente uma dura batalha contra o cancro e já na casa dos 40, continua a demonstrar ser uma mulher sensual mas, sobretudo, uma “pequena” grande artista (Kylie mede apenas 1,52 metros).

Contudo, a estreia de Kylie Minogue em palcos portugueses ficou longe de encher o Pavilhão Atlântico, em Lisboa. Os motivos? Não podemos julgar pela dimensão e trabalho da cantora, que é inquestionável, portanto, a falta de público pode ter resultado das férias de muitos, da falta de dinheiro de outros (têm sido muitas as estrelas que têm cá vindo ultimamente) ou, ainda, pelo facto de Kylie não estar actualmente na “berra” (não edita um álbum há dois anos, e portanto, não está a promover nada de novo…). Mas apesar da ausência de público, o espectáculo da artista australiana deixou de nos encantar.

Assim que as luzes se apagaram e a troupe de Kylie tomou o palco de assalto, o ambiente do Pavilhão Atlântico entrou em euforia e não deve ter havido uma única pessoa que não tenha passado a hora e meia de show a dançar, ao compasso da enérgica cantora de metro e meio. Com figurinos assinados por Jean-Paul Gaultier, Kylie surgiu como uma pop diva. Durante todo o concerto e com várias mudanças de visual, Kylie foi acentuando uma certa aura de divindade entre mortais. Começou com “Speakerbox”, logo seguida de um dos grandes momentos da noite, com “Can’t get you ouf of my head”. E mais se seguiram… “Slow”, “Love boat”... Muitos hits foram cantados, mas muitos outros ficaram de fora, o que causou um certo desconforto: as inéditas “Ruffle My Feathers” e “Flower” e as conhecidas “Like A Drug”, “Come into my world”, “Nu-di-ty”, “I believe in you”, “No more rain” e “The one” (embora cantada uma sua primeira estrofe a capella). Quer isto dizer que, embora tenha sido um bom concerto, fiquei com a sensação de ter sabido a pouco. Hora e meia apenas? Diria que foi um show encurtado e feito a um preço especial para compensar as falhas nas vendas. Senão, como se explica que outros shows da mesma tourné, por esse mundo fora, tenham incluído estes temas que acabei de enunciar e terem a duração de duas horas... Para que conste, Kylie Minogue apresentou um espectáculo que já correu mundo em 2008, naquela que foi a sua digressão mais cara de sempre, com custos que ultrapassaram os 11 milhões de euros. Aqui, ao que constou, apenas tivemos direito a um “cheirinho” disso…

Num palco algo despido de adereços, o enorme ecrã vídeo prendia a atenção de todos. Quem estava à espera de ver um espectáculo ao estilo de Madonna, não se desiludiu por completo, pois encontrou alguns pontos de encontro: uma certa força visual, coreografias no ponto, músicas interpretadas sem falhas... Mas também neste campo, o concerto voltou a saber a pouco. O corpo de baile era demasiado pequeno, sem expressão. E apesar do ecrã gigante, o palco estava vazio, ocupado apenas com a banda, fazendo sobressair a pequenez de Kylie. É que, sendo muito boa, ao contrário de Madonna, falta-lhe todo o carisma e personalidade desta... Inclusive, as imagens video do ecrã fizeram lembrar a Rainha da Pop por momentos, quando Kylie surge com a cara coberta de tricot, bem ao jeito de “The beast within” de Madonna. Mas paremos as comparações, pois cada uma tem o merecido lugar no universo Pop.

Voltando ao concerto, faltou também "The Locomotion", mas o movimento constante (Kylie não cantou uma única balada) acabou por cativar os entusiastas que estavam no Pavilhão Atlântico. Quem lá esteve, conhecia bem Kylie Minogue, pelo que se entregou, sem reservas, à primeira actuação da australiana em Portugal. "Valeu a pena a espera", confessou Kylie Minogue durante o concerto. E, de facto, no final do espectáculo, a grande ovação do público não deixava margem para dúvidas: valeu mesmo a pena esperar para ver a pequena grande Kylie em acção. No encore, “Love at first sight” acabou com uma explosão de confettis, em clima de festa. E os fãs mais “velhinhos” foram brindados com «I should be so lucky», primeiro êxito do álbum de estreia, que encerrou uma actuação deliciosamente pop. Kylie é uma verdadeira "showgirl", disso não restam dúvidas e comprovou-o em Lisboa, com um suave toque de estrela inatingível, comme il faut, mas ao mesmo tempo humana no sorriso e na entrega aos fãs. Em grande forma aos 41 anos, Kylie deu um espectáculo que, como ela disse, compensou a longa espera. E, apesar das limitações que senti, concordo que merecia ter sido visto por muito mais gente.

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