Quando um GPS pode mudar o destino… Assim, de arrebatador, começa este filme, onde várias pessoas, sem ligações entre si, vão se cruzando em situações de extremo desespero. Num determinado momento, algo de inesperado lhes acontece e que irá mudar radicalmente o rumo das suas vidas… Cabe, a cada uma das personagens, moldar o seu próprio destino, de modo a perseguir a felicidade. Mas há destinos que só se alcançam depois de se alterarem o dos outros…

O argumento do filme é da autoria do também realizador português, Fernando Fragata. Autor, entre outros, de "Sorte Nula" e "Pesadelo Cor-de-Rosa", desta feita, Fragata traz-nos um poderoso drama humano, em que destinos sem relação entre si passam a estar entrelaçados das formas mais bizarras. É um filme convincente e muito interessante. Faz-nos pensar o modo como as nossas acções podem desencadear outras, bem mais definitivas…

O entorno do enredo, ou seja, o pano de fundo onde se desenvolve a acção, é sublime. Percebe-se que o realizador procurou (e se apaixonou por) a beleza e a evasão das paisagens americanas, fazendo bom uso da paisagem natural e urbana dos E.U.A. Contudo, o grande trunfo do filme surge na escolha do elenco. E a grande mais-valia de Fernando Fragata é, com efeito, a direcção de actores. Aqui, com actores portugueses e americanos, desde Ana Cristina Oliveira, Evelina Pereira e Joaquim de Almeida a Michelle Mania, Scott Bailey e Skyler Day (uma fantástica e credível adolescente), os desempenhos nunca nos parecem forçados. E as emoções das personagens soam-nos muito espontâneas.

O filme peca um pouco pela pobreza dos diálogos. Um mal menor disfarçado pelo facto de acontecerem em inglês… Já a banda sonora cai, por diversas vezes, em algum exagero, como se de um épico se tratasse, tornando-se demasiado presente em alturas em que deveria estar mais contida. E no universo "confortável" dos filmes, em que todas as personagens têm direito a um final feliz, quando este termina, temos uma sensação agri-doce, com um encontro "demasiado" fatal com o destino. O que deixa a nossa mente a divagar...

“Contraluz” é um filme “competente”, que está à altura do pretendido e cumpre o seu papel, denotando uma preocupação do realizador/autor pelo actual estado do Mundo e pelas complexas relações entre as pessoas. Recomendo, não o digo apenas com o valoroso intuito de apoiarmos o cinema português, mas porque vale mesmo a pena.

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