No Centenário da República Portuguesa, celebrado no passado do 5 de Outubro, muitas foram as efemérides que o assinalaram e o comemoraram. Uma delas, bem mais discreta, foi a que ocorreu no dia 9, do mesmo mês, na Galeria António Prates. Intitulada “Cem República”, foi inaugurada uma exposição que aborda o tema do Centenário com o respeito que o tema merece, mas sempre de uma forma dinâmica, contemporânea e, por vezes, irreverente, como só a arte permite. A mesma conta com a participação de 14 jovens artistas, que se debruçaram sobre o Centenário e o seu significado, por diversos prismas. O que significa a República nos tempos actuais? O que tem a nova geração a dizer sobre este evento que moldou a sociedade e o país em que vivemos? O título da exposição pretende jogar com estas questões, marcando o evento, mas também deitando um olhar crítico, com algum toque de ironia e humor.

As obras apresentadas são, por isso, bastante diversificadas entre si, indo desde a pintura, à escultura, ao desenho e à instalação, e da figuração à abstracção. Tudo vale! Para promover ainda mais esse sentimento, os artistas convidados realizaram “in loco”, a pintura de uma tela colectiva, inspirada na temática da exposição. Com cerca de 7 metros de largura, e inspirados nos retratos múltiplos de Warhol, cada artista trabalhou a sua visão sobre a imagem do busto oficial da república, fazendo uma proposta individualizada para a actualidade.

Aqui, o destaque vai para Catarina Pestana, que proporcionou uma celebração muito própria da República, com a apresentação de “Boost”, a sua proposta de busto para a República inspirada na figura de Lili Caneças. A própria Lili Caneças esteve presente e fez uma pequena performance na Galeria. Vestindo-se a rigor e cantando o Hino Nacional, Lili surgia no espaço expositivo ao mesmo tempo que Catarina, trajada de enfermeira, ia retirando a gaze que envolvia o busto. Como se de um "peeling" à República se tratasse…

"Ela aceitou, com muito agrado, ser o rosto deste busto. Escolhi-a também por isso, porque é uma pessoa que vive muito bem com a sátira em volta da sua figura", afirmou Catarina. A artista tem consciência de que as suas peças podem, eventualmente, chocar algumas pessoas, mas garante que essa não é, de todo, a sua primeira intenção: "Existe um lado lúdico na minha obra. Independentemente dos comentários suscitados e das questões sociais e políticas envolvidas, a verdade é que devíamos olhar para as coisas com mais positivismo. Portugal devia ter mais sentido de humor." Se devia…

Talvez por isso, à entrada da Galeria António Prates, encontramos dois galos da sua autoria. Um galo, com mais de três metros de altura, tem a cara do Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, e um outro, ligeiramente mais pequeno, com a face do primeiro-ministro, José Sócrates. Tirem as conclusões que quiserem…
Por tudo isto e muito mais, a exposição “Cem República” merece ser visitada. Até 6 de Novembro! Mais informações em www.galeriaantonioprates.com

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