Quem não se lembra da Máquina de Furos da Regina? Pessoas que rodam os 40 anos, como eu, ou mais, lembrar-se-ão, certamente. Pois é, ela está de volta! Desaparecida há mais de 20 anos, regressou numa réplica, em madeira, das originais, que datam da década de 40. A mesma ressurgiu para alimentar a nostalgia dos consumidores actuais, ao sabor de uma das tendências atuais do marketing: o chamado retromarketing, que recupera e revitaliza este e outros produtos emblemáticos. E venho fazer uma breve reflexão sobre o tema. Ora, vejamos… O relançamento da emblemática Máquina de Furos Regina veio dar resposta a esta nova tendência de consumo, que nos leva a nós, consumidores, a outras épocas, às quais associamos bem-estar e felicidade. Reproduções fiéis de objetos ou produtos de antigamente; marcas antigas relançadas para o mercado adaptadas aos standards de qualidade actuais; serviços de antigamente com a funcionalidade da comodidade do presente… ou seja, numa palavra, retromarketing. “A nossa cultura é composta de repetições, de renascimentos, de reedições, relançamentos, recriações, adaptações, recordações e coleções de discos de nostalgia”, diz o norte americano George Carlin, no seu best-seller “Brain Droppings”, e vem explicar, em grande parte, a recente moda pelo relançamento de marcas e produtos antigos. Empresas dos mais diversos ramos têm aderido a esta nova onda saudosista: brinquedos, eletrodomésticos, refrigerantes, biscoitos, chocolates, automóveis ou até cosméticos. Diversos académicos têm vindo a discutir este tema recentemente, chegando a um ponto comum: o sentimento de nostalgia, de uma época em que o mundo parecia mais seguro, compreensível e menos comercial, onde os produtos eram mais artesanais e duradouros. A própria definição do conceito de nostalgia, diz: termo que descreve uma sensação de saudade idealizada, e às vezes irreal, por momentos vividos no passado, associada com um desejo sentimental de regresso, impulsionado por lembranças de momentos felizes e antigas relações sociais. Com base neste conceito, Fred Davis, no seu livro, Yearning for Yesterday: a Sociology of Nostalgia, afirma que as marcas antigas vinculam consumidores ao seu próprio passado, assim como estimulam a dividi-la com outras pessoas que tenham as mesmas lembranças, criando comunidades nas quais impera um sentimento de cuidar e partilhar. E como exemplos aponta os clubes de colecionadores de automóveis antigos e os proprietários de motas Harley Davidson, nos seus animados encontros.
Com o advento da internet, este trabalho ficou mais transparente aos olhos dos gestores de marketing, os quais podem acompanhar discussões e lançar produtos com base nas comunidades. Tome-se o exemplo do gelado Fizz Limão, a cargo do humorista Nuno Markl, ou o do chocolate para o leite Milo. Ambos relançados, com a mesma receita e identidade visual, após insistentes pedidos e comentários nas redes sociais. Nenhuma marca adianta números, mas crê-se que a facturação seja bem superior à expectativa original, demonstrando o positivo retorno financeiro de tais revivalismos. Por outro lado, as empresas que precisam de atualizar tecnologicamente os seus produtos, combinando formas antigas com funcionalidades atuais, têm uma tarefa bem mais complexa. Um bom exemplo tem sido o ramo automóvel, como foi o caso do modelo PT Cruiser, da Chrysler, cujo design recriava os modelos da década de 40, contudo, com tecnologia ultra moderna. Outros foram o VW Beetle e o Mini Cooper, e mais recentemente, o Fiat 500. Ou ainda os frigoríficos Smeg… Portanto, o reavivamento de marcas antigas pode ajudar a criar um importante factor de diferenciação e autenticidade às empresas, no actual cenário de feroz concorrência, globalização e constante actualização de tecnologias, no qual as mesmas precisam de lançamentos cada vez mais frequentes, reduzindo o ciclo de vida dos produtos ou, muitas vezes, canibalizando os seus próprios produtos, antes que a concorrência e os imitadores o façam, derrubando preços e destruindo margens de lucro…
Voltando à Máquina de Furos Regina, a mesma era usual em muitos eventos populares, estimando-se ter sido lançada na década de 1940. Existem referências de 1963, documentadas em fotografias, como por exemplo, o presidente da República – Américo Tomáz, numa visita ao stand da Regina no "V Salão de Artes Domésticas". Referências mais recentes às Máquinas de Furos datam de 1993, o que perfaz um período de cerca de 50 anos em que as Máquinas de Furos Regina animaram feiras populares e feiras do livro, alimentando as expectativas e preenchendo um lugar único e insubstituível no imaginário de gerações inteiras. A actual Máquina de Furos Regina é uma réplica fiel das primeiras, respeitando formatos, dimensões e cores. Cada máquina apresenta uma cartela amovível com 140 furos, que liberta bolas coloridas, variando entre sete cores possíveis. Cada cor corresponde a um produto, sendo que o consumidor paga um preço fixo para fazer um furo e tem sempre direito a um chocolate. Os chocolates incluem tabletes Aromas Fruta, Sombrinhas, tabletes Regina Classic Chocolate com Amêndoa, Floc-Choc Balls, tablete Floc-Choc, Caixa de bombons Regina Coração ou ainda, com a bola dourada – a mais desejada, uma caixa de Sortido Bombons Recheados Regina. Este não é o único produto que a Imperial está a recuperar. Na procura de ajustar a sua oferta às necessidades ou expectativas dos consumidores, a marca reparou que uma das formas de o fazer é, efetivamente, através da recuperação de produtos históricos de produtos da marca Regina, como aconteceu com as “Sombrinhas de Chocolate” ou o “Coma com Pão”. Posto este nosso recente caso, é esperado um aumento do retromarketing. Sabores, gostos, paladares, cheiros, aromas, fragrâncias, odores, brincadeiras, simulações e experiências positivas de um passado que já não volta, poderão novamente vir a fazer parte da nossa vida diária, seja desfrutando sozinhos, partilhando com amigos ou apenas demonstrando aos mais novos como era giro viver no passado…

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