O meu blog é apolítico. Por isso, ao fazer este “post”, apenas o faço por se tratar de denunciar a opressão sobre os Direitos Humanos. Já aqui falei, há muito, do meu desagrado sobre que acontecia na Venezuela e venho agora, novamente, dar voz às atrocidades que estão a acontecer naquele belo país, onde fui residente por dois anos. Como têm vindo a acompanhar nos meios de comunicação social, cerca de três mil manifestantes, vestidos de branco e envolvidos na bandeira tricolor venezuelana, a maioria dos quais estudantes, juntaram-se no sábado, na zona leste de Caracas para protestar contra o governo de Nicolás Maduro. Ao mesmo tempo, noutras áreas da capital venezuelana, partidários do actual regime também saíram à rua, vestidos de vermelho e com cartazes do falecido Hugo Chávez, numa espécie de confronto à distância que tem marcado os últimos dias, desde que os estudantes pró-oposição começaram a manifestar-se. Estes apoiantes do Presidente Maduro davam resposta ao seu apelo, feito para que saíssem à rua para desfilar “pela paz e contra o fascismo” – termo habitualmente usado pelas autoridades sempre que se refere m à oposição. O Governo diz que os partidos da oposição estão a tentar provocar “um golpe de Estado”, segundo a AFP. As manifestações pacíficas contra o custo de vida – que não pára de aumentar devido a uma inflação galopante de 56%, que é a mais alta do mundo – a insegurança e outras misérias deste país rico em petróleo, mas onde há falta de tudo, resultaram em confrontos que fizeram quatro mortos. Mas até hoje, dia em que morreu uma Miss, baleada em protestos anti-governo. Génesis Carmona é, assim, já a quinta morta resultante de protestos no país, desde a semana passada. A jovem de 22 anos, que ganhara o concurso Miss Turismo Carabobo 2013 morreu nesta quarta-feira (dia 19), após ter sido baleada na cabeça durante os protestos na véspera, em Valencia. Segundo números oficiais, 66 pessoas ficaram feridas e 69 foram detidas. O Departamento de Direitos Humanos das Nações Unidas tem manifestado preocupação com a violência e apelou a que todas as partes dialoguem para resolver a crise de forma pacífica. “Recebemos também relatos preocupantes de intimidação de jornalistas, alguns dos quais viram o seu equipamento apreendido, e alguns repórteres foram atacados enquanto estavam a fazer a cobertura dos protestos”, disse o porta-voz da ONU Rupert Colville, em Genebra. O Presidente Maduro tentou retomar a iniciativa política anunciando um plano para lutar contra a violência que torna a Venezuela o país com a segunda taxa de homicídios mais elevados do mundo – na ordem de 79 para 100.000 habitantes, segundo a organização não governamental “Observatório Venezuelano da Violência”. Desarmar a população civil – num país onde as armas abundam – e reforçar as patrulhas de polícia, fazem parte do seu plano. Mas a investida contra os Media, e em particular a televisão, também está incluído neste plano de segurança. O plano diz “iniciar uma nova cultura comunicacional para a paz” que, segundo o Nicolás Maduro, estabelecerá “normas claras para todas as televisões venezuelanas, a cabo e aberta”. Ou seja, mais opressão da liberdade de expressão… E o crescendo de opressão contínua… As Forças Armadas da Venezuela emitiram, nesta terça-feira, um comunicado em que afirmam que não vão permitir um golpe de Estado no país. “O Presidente da República, Nicolás Maduro, e as Forças Armadas estão a trabalhar unidos e não permitirão que se repita a história de 11 de Abril de 2002. Recordamos Bolívar: Unidade, unidade, unidade ou a anarquia devora-nos”. Tal comunicado foi lido na televisão pública pela Ministra da Defesa, Carmen Meléndes, que envergava uniforme militar. No texto, as Forças Armadas manifestam o seu “total respeito pela Constituição e pelas leis da República que em momento algum contemplam a tomada do poder político sem ser por via eleitoral”. Coisa que a oposição não proclama, apenas que o actual Governo seja destituído…
Entretanto, a polícia deteve, nas ruas de Caracas, o líder do movimento de oposição que, desde há duas semanas, tem vindo a mobilizar muitos milhares de venezuelanos nas ruas. Leopoldo López, que encabeçava a gigantesca manifestação contra o “chavismo” na praça Brión, tinha-se entregado à guarda civil, no seguimento de uma um mandato de captura em seu nome, emitido pelo Governo do Presidente Nicolás Maduro. As televisões filmaram o momento em que, ao entrar para o carro da polícia, gritou “esta é uma luta pela Venezuela” e registaram a despedida da sua mulher, que permaneceu na manifestação enquanto o marido era levado… López foi acusado de incitamento à violência e pode ser acusado pela morte de quatro pessoas no dia 12 de Fevereiro — três manifestantes anti-chavistas e um pró-regime, todos devido a ferimentos de balas. “É notória a violência com que este grupo de pessoas tem actuado, chegando a causar a morte de algumas pessoas, o ferimento de outras e a destruição de bens da nação e de propriedade privada”, dizia o comunicado das Forças Armadas. Mas Maduro, por seu turno, demitiu o chefe da polícia política (Sebin), Manuel Bernal Martínez, após a difusão de um vídeo gravado pelo jornal “Ultimas Noticias” em que mostra funcionários da Sebin a disparar contra manifestantes, no passado dia 12. O dia 11 de Abril de 2002 a que os militares se referiam como uma data que não querem ver repetida, foi o dia do golpe falhado contra Hugo Chávez, curiosamente o militar que também tentou chegar ao poder via golpe. A 4 de fevereiro de 1992, o então tenente-coronel Hugo Chávez e mais 300 homens, tentou derrubar o Presidente Carlos Andrés Pérez. Não conseguiu, mas o aparato catapultou-o para a cena política, acabando por ser eleito Presidente e inaugurando uma república bolivariana — “socialismo do século XXI”, chamava-lhe Chávez, que morreu de cancro, em Março de 2013. Infelizmente, Nicolás Maduro, seu “herdeiro” designado, ganhou as presidenciais que se seguiram. A morte de Chávez veio agravar a crise económica e social que já se vivia na Venezuela, um país onde a escassez de bens, a fraca produtividade das empresas, a elevadíssima e galopante inflação, o apertar dos limites à liberdade de expressão e a desvalorização da moeda abriram uma ferida social tal, que fez Leopoldo López tentar capitalizar, através do seu movimento, a adesão de uma importante fatia da população e dos movimentos estudantis. Perante uma vaga de contestação inédita e que parece imparável, a ministra da Defesa anunciou que parte das Forças Armadas foram mobilizadas para as ruas. “Vimo-nos obrigados a usar parte das nossas forças, forças legítimas do Estado, e vamos continuar a fazê-lo em defesa das leis e em respeito pelos direitos humanos”. A ministra acabou a sua intervenção dizendo “Chávez vive e a luta continua”. Mais opressão! Mais violação dos direitos em protestar pacificamente… O Governo continua a acusar a oposição de ser responsável pelos problemas que a Venezuela enfrenta, falando até em "sabotagem". A equipa de Nicolás Maduro também diz que o país está a enfrentar uma guerra organizada a partir do exterior, cujo objectivo é derrubar o chavismo, e acusa os Estados Unidos de estarem por trás dela. “A alegação de que os Estados Unidos estão a ajudar os organizadores dos protestos na Venezuela são falsas”, disse a porta-voz do Departamentro de Estado Americano, Jan Psaki, após Caracas ter expulso três diplomatas compatriotas. Para além de negar a acusação, Washington disse que o uso das Forças Armadas para reprimir protestos é “alarmante” e pode contribuir para o agravamento da situação. Maduro indicara a expulsão de três funcionários da embaixada americana porque, segundo ele, estariam a recrutar estudantes para participar no actos de violência. Ontem, os manifestantes anti-chavismo continuavam a ocupar a praça Brión e a Avenida do Libertador, numa zona tutelada por um “oficialista”, Jorge Rodríguez. O aparato policial e militar foi engrossando ao longo do dia, havendo relatos no jornal venezuelano “El Universal” de colunas de polícia motorizada a investirem contra os manifestantes, tentando separá-los e intimidá-los. Os tanques da Guarda Nacional percorriam outras ruas onde não havia protestos ou manifestações de apoio ao Governo. Noutras cidades, havia protestos e cenários policiais idênticos. Esta é a mais grave crise política enfrentada pelo actual presidente da Venezuela e já levou a reações mistas na América Latina. De um lado, aliados como Bolívia, Equador e Argentina correram para demonstrar apoio ao governo chavista. De outro, países como Colômbia, Peru e Chile pediram calma e respeito aos direitos humanos e de manifestação. Declarações do presidente colombiano, Juan Manuel Santos, irritaram Nicolás Maduro. Santos pediu que os canais de comunicação entre as diferentes forças políticas da Venezuela sejam restabelecidos para garantir a estabilidade do país. Discurso similar ao de Santos foi adoptado pelo Peru e Chile. O presidente chileno, Sebastián Piñera, fez um apelo para que os direitos humanos fossem respeitados durante os protestos contra Maduro, iniciados há duas semanas em meio à insatisfação popular com a violência crescente, a economia frágil e a pressão do governo sobre a imprensa. “A defesa dos direitos humanos em todo o tempo, em todo o lugar e em toda circunstância são valores que hoje são universais e que não reconhecem fronteiras”, afirmou Piñera. Na terça-feira, o ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, disse que o Brasil espera "uma convergência dentro de um respeito à institucionalidade e à democracia" na Venezuela e demonstrou preocupação com a situação no país vizinho. No passado fim-de-semana, num comunicado conjunto, os países-membros do Mercosul repudiaram a violência na Venezuela e a organização de direitos humanos “Human Rights Watch” também se manifestou e criticou severamente a detenção de López. A polarização que se tem vindo a sentir no país, também se reflete no Twitter, Facebook, Instagram e ouras redes sociais. O clima de tensão tem desencadeado uma verdadeira “batalha virtual” online. Algumas das “hashtags” mais populares entre a oposição estão em inglês (#prayforVenezuela e #sosVenezuela) e, até terça-feira desta semana, haviam sido twetadas mais de 1,2 milhão de vezes. Elas ganharam muita popularidade não apenas na pátria de Simón Bolivar, mas também nos Estados Unidos, que alberga uma considerável colónia de expatriados venezuelanos, e um pouco por todo o mundo. Organizações Não Governamentais da Venezuela têm vindo a denunciar as restrições cada vez maiores à liberdade de expressão e de imprensa no país. Representantes de várias entidades estiveram na sede da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, em Washington, em Outubro do ano passado, onde afirmaram que houve um aumento de quase 90% nos casos de censura em relação ao ano de 2012. O governo da Venezuela, claro, nega tudo e disse que “as denúncias são invenções da imprensa”… O país ainda não conseguiu reduzir a sua histórica dependência em relação à exportação do petróleo produzido pela estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA) e melhorar estruturas económicas como a agricultura. Além disso, a inflação é galopante, prejudicando o poder de compra, principalmente na fasquia de população mais pobre. Faltam, ainda, produtos básicos como leite e papel higiénico nas prateleiras dos supermercados. Quando disponíveis nas lojas, os venezuelanos têm de fazer longas filas para os poder comprar… "Nicolás Maduro é apenas um herdeiro, mais dos problemas do que da própria ideologia chavista. A oposição tende a crescer, principalmente por causa da péssima situação económica do país. Inflação alta desestabiliza os pilares estruturais e económicos de uma nação, e a oposição está a usar muito este discurso", diz Roberto Gondo, professor de comunicação política da Universidade Mackenzie. Segundo especialistas, o desastre de Maduro, principalmente na economia, dá munição à oposição e coloca o governo numa posição particularmente difícil diante das circunstâncias. Para eles, se a economia fosse bem e se tivesse estabilizado índices como da inflação e da criminalidade, certamente o Presidente não estaria a passar por estas dificuldades políticas. E a escalada de violência não para… Para Stefan Peters, especialista em Venezuela, da Universidade de Kassel, da Alemanha, a situação deixa clara a polarização no país entre o governo e a oposição. As manifestações devem continuar nos próximos dias, e uma solução rápida para a crise não é fácil de ser encontrada. Com isso, segundo o analista, os dois lados deveriam evitar uma escalada do conflito. "Caso isso não aconteça, diante do grande número de armas e do alto nível de violência no país, teme-se o claro agravamento da situação", defende Peters. "Vive-se o agravamento da situação na Venezuela. O país está politicamente dividido, mergulhado numa crise econômica profunda e que tem piorado massivamente a situação da população, principalmente a mais pobre." E aqui termino o meu post! Tenho acompanhado de perto esta realidade, por me sentir emocionalmente ligado à Venezuela. Não que não me preocupe com o que está a acontecer na Ucrânia, mas o que me motiva a escrever sobre a crise venezuelana é o facto de ver um país que foi tão próspero e rico quando lá estive, estar a afundar-se, fazendo cair grande parte da sua população em situações limite… Não consigo estar pacificamente a assistir a uma verdadeira ditadura em pelo século XXI. A uma derrocada dos Direitos Humanos, da dignidade humana... Espero que este meu “artigo” ajude a iluminar muitas cabeças. Partilhem, divulguem o que está a acontecer. Ou façam fotografias e coloquem nas redes sociais, fazendo uso dos “hashtags” #prayforVenezuela e #sosVenezuela. Ajudem a fazer da Venezuela uma nação livre, de novo… Obrigado!
E termino com algumas frases do ilustre Libertador Simón Bolívar, bem apropriadas: "Se apenas um homem fosse necessário para sustentar o Estado, esse Estado não deveria existir; e ao fim não existiria.” "Compadeçamo-nos mutuamente do povo que obedece e do homem que manda só." "Mais custa manter o equilíbrio da liberdade do que suportar o peso da tirania." "Os bons costumes, e não a força, são as colunas das leis; e o exercício da justiça é o exercício da liberdade."

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