Fui à antestreia deste filme, do qual pouco sabia, e saí de lá deveras impressionado. E a perceber porque o filme de Greta Gerwig estava nomeado em cinco categorias dos últimos Óscares.

Este é um filme que versa sobre a vida interior das mulheres e das miúdas adolescentes, em particular. Christine McPherson (Saoirse Ronan, que estava nomeada para o Óscar de Melhor Actriz) é uma rapariga de liceu que se autointitulava de Lady Bird e que tem uma relação turbulenta com a sua mãe (Laurie Metcalf, nomeada para Melhor Actriz Secundária) - uma enfermeira que trabalha horas extra para sustentar a família, especialmente depois de o seu marido e pai de Christine, consultor informático, ter perdido o emprego. Porém, na verdade, ela é exactamente como a sua mãe: de opiniões fortes, apaixonada e empenhada e com uma enorme força de vontade.

Aos 34 anos, Gerwig, que já tem um percurso ligado ao cinema indie como actriz, teve aqui a sua estreia na realização. E obteve a proeza de acumular a nomeação na categoria de Melhor Realização (foi apenas a quinta mulher a consegui-lo e poderia ter sido a segunda mulher a recebê-lo na história dos Óscares) com a de Melhor Argumento. Gerwig consegue, com esta comédia dramática, criar personagens muito autênticas, onde nos identificamos com elas com a mesma empatia que costumamos reservar para os nossos amigos mais íntimos…

De facto, na corrida aos Óscares, "Lady Bird" era uma espécie de cavalo de corrida, com muitas apostas em cima, devido a ser diferente, irreverente e bem actual, só que este insólito e genial filme passou ao lado de todas as nomeações para as que estava indicado.

Saoirse Ronan tem aqui mais uma genial prestação (aos 24 anos, já acumula três nomeações aos Óscares), de uma rapariga que se eleva da mediania das suas colegas de liceu. No primeiro desgosto amoroso, quando surpreende o namorado (Lucas Hedges) aos beijos com um outro rapaz, ela progride na sua maturidade, dando conta da sua complexa idade, feita de diversos conflitos. Muitos deles travados com a sua mãe, como já referi. Enquanto vai atravessando algumas pequenas depressões e incoerências próprias da adolescência, Christine planeia secretamente a sua ida para Nova Iorque, para ingressar na universidade, como uma saída para poder lidar com a sua rapidez de raciocínio e a extrema lucidez que possui perante a vida. Sacramento era pequena demais para o seu espírito. Ao mesmo tempo, ela atravessa uma América a lidar com um pós-11 de Setembro, em 2002, em plena guerra do Afeganistão, incorrendo em romances mais ou menos fugazes (um outro foi com Timotée Chalamet, de “Chama-me Pelo Teu Nome”), assumindo amizades por interesse e um relacionamento caseiro algo incerto.

Resumindo, “Lady Bird” é daqueles filmes singelos que se revelam uma verdadeira preciosidade. Um dos mais inteligentes, modernos e conseguidos olhares sobre o turbulento e inconstante período da adolescência. Aconselho vivamente!

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