Pois é, desde os Oscars, nunca mais me refiz de tantos filmes que vi de seguida. E que bons que foram: "O leitor", "Slumdog Millionaire", "A duquesa", etc. Mas com o ritmo de trabalho, não tive tempo de falar neles todos, de modo que retomo agora, com os mais recentes...

The Spirit

Em Junho de 1940, Will Eisner criou o herói Spirit e uma série de BD com o seu nome, The Spirit, que passou a ser publicada num jornal dominical. Spirit foi um dos nomes de Denny Colt, um homem que foi considerado morto, mas que na, verdade, vivia secretamente como um anónimo combatente do crime. As histórias deste paladino da justiça envolviam-no nas mais variadas situações: crime, romance, mistérios, horror, comédia, drama e humor negro…

Volvidos 69 anos, o The Spirit surge em carne e osso, nos ecrãs de cinema. Este grande clássico chega às telas pelas mãos de Frank Miller. Aqui a história é semelhante: o polícia novato Denny Colt (Gabriel Macht), após ser morto em serviço, regressa e assume uma nova identidade: Spirit. O seu objectivo, esse, manteve-se, na essência: lutar contra todas as forças do mal em Central City. Sobretudo, o criminoso e impiedoso assassino Octopus (Samuel L. Jackson). Octopus tem uma missão diferente. Ele quer “limpar” a cidade tão amada por Spirit, bem como prosseguir na sua “própria” versão de imortalidade.

Tal como no universo da BD, glamour e beleza não faltam. O nosso cruzado mascarado vai tentando encontrar o seu arqui-inimigo, em catacumbas húmidas e armazéns duvidosos, ao mesmo tempo que se depara com um sem fim de belas mulheres, que o querem seduzir, amar ou, simplesmente, matar. À sua volta surgem a doce médica Ellen Dolan (Sarah Paulson); Silken Floss (Scarlett Johansson), uma assistente punk e rígida vixen ; Plaster of Paris (Paz Vega), a dançarina francesa de nightclub e assassina; Lorelei (Jaime King),uma sereia fantasmagórica; e Morgenstern (Stana Katic), a sexy jovem polícia. Sem esquecer, claro, Sand Saref (Eva Mendes), a ladra de jóias com perigosas curvas. Ela é o amor da vida de Spirit, que a vida a fez tornar-se na má da fita. Irá ele salvá-la ou irá ela matá-lo?

“The Spirit” vai-nos mostrando a resposta a esta e muitas outras questões. Mas embora se denote, no filme, o génio criativo de Frank Miller, também se nota, neste realizador, alguma repetição e pouca fidelidade em relação ao original. Talvez por isso, não tenha tido muito boa aceitação entre a comunidade cinéfila, e muito menos entre os admiradores do herói. Frank "cola-se" demasiado ao universo plástico que criou para “Sin City”, quando aqui se pretendia uma outra coisa, mais fidedigna a Eisner, mais “vintage”, por assim dizer. Lembro-me de “Dick Tracy”, de Warren Beatty, muito bem adaptado, sem perder o traço original da personagem da banda-desenhada. Depois, também nos provoca uma sensação algo incómoda, devido a uma certa confusão. Estamos perante uma estética tipo anos 40, mas onde existem telemóveis e outros avanços tecnológicos que nos aborrecem, que nos levam a achar que não deviam estar ali…

Mas depois, pensamos: estamos perante um universo BD, logo, as coisas têm de ser leves e divertidas. Caricaturas da vida real. Exageradas e irreais. Portanto, se por um lado, "The Spirit" não enche as medidas dos fãs do género “super-heróis”, não deixa de ser um bom filme de entretenimento para o público em geral.

Quanto à sua versão em BD, cuja origem e máscara lembram o também popular The Lone Ranger, a DC Comics está a pensar relançar a série The Spirit. Entretanto, uma última aparição do Spirit (produzida por Eisner) surgiu num número recente da "The Escapist", publicação da Dark Horse Comics. E, em 2008, foi publicado um encontro entre Batman e The Spirit, escrito por Jeph Loeb, com arte de Darwyn Cooke. Provas de que, afinal, a sua imortalidade perdura...


Marley & eu

O filme homónimo é uma adaptação do livro best seller de John Grogan, sobre a vida de um incorrigível Labrador retriever. Marley é o cão em causa, que é adoptado por John (Owen Wilson), um colunista do “Philadelphia Inquirer” e a sua recente mulher, Jenny (Jennifer Aniston). A ideia era a de virem a ter uma sensação de paternidade (Jenny queria testar o seu talento materno antes de enveredar pela gravidez. A mesma temia não ter esse “dom” ao ter morto uma planta por excesso de cuidado: afogando-a), mas com a hiperactividade do cachorro, a sensação passou a ser outra, bem diferente… A vida desta família nunca mais foi a mesma!

Marley rapidamente cresce e torna-se num labrador trapalhão de 44kg. Ele rebenta com as portas, uiva desmedidamente por ter medo de trovoadas, abocanha as roupas dos vizinhos, e come praticamente tudo que vê pela frente, incluindo jóias. Mas apesar de Marley “comer” sofás, ser “expulso” de uma escola de obediência para cães e ficar ainda mais irascível com a chegada das crianças, ele também prova ser um elemento indispensável na família. Acima de tudo, Marley demonstra ter um coração puro e ser possuidor de uma lealdade incondicional.

Por isso, preparem-se. O cartaz do filme engana. "Marley & eu" não é a comédia que possam imaginar, embora se passem alguns momentos bem hilariantes. É, antes, um intenso drama. No final, era ver as muitas as pessoas a abandonarem a sala ainda emocionadas. Eu próprio não consegui reter as lágrimas… Uma verdadeira lição de vida, é o que vos digo. “Marley & eu” retrata uma grande amizade incondicional, daquelas que só se vivem com um animal de estimação. E mostra-nos o valor que estes animais podem ter nas nossas vidas.

Com a realização a cargo de David Frankel e as convincentes interpretações por parte de Owen Wilson e de Jennifer Aniston, a maior interpretação cabe ao cão Labrador. Aliás, aos cães. Foram usados vários daquela raça, ao longo do filme.

Não li o respectivo livro, mas “Marley e eu” é um filme que recomendo. Ah, e não se esqueçam de levar um pacote de lenços para aguentarem o final…

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