Após vários adiamentos, devido ao infame Coronavírus e ainda com limitações, o novo e aguardado filme de Christopher Nolan finalmente estreou nas salas de cinema. E mal chegou já começou a produzir os efeitos desejados pelo mercado cinematográfico, tendo sido, em Portugal, o filme mais visto do passado fim-de-semana, com perto de 38 mil espectadores. Embora ainda não tenha estreado no gigantesco e cinéfilo mercado norte-americano, é já o nono filme mais bem-sucedido do ano nos cinemas a nível mundial.

John David Washington assume-se como o novo protagonista no filme de acção e sci-fi de Nolan. Armado apenas com uma palavra – Tenet – e lutando pela sobrevivência do planeta, este “herói” viaja pelo mundo penumbroso da espionagem internacional numa missão que irá desvendar algo além do tempo real. Não se trata de uma viagem no tempo. Mas sim, uma inversão. Confusos? Também fiquei… e igualmente, remeteu-me para um outro filme de Nolan, “Memento” (2001), cuja narrativa depende das lembranças difusas de um protagonista que sofre de um tipo de amnésia que não lhe permite guardar memórias recentes. Resultado: temos também uma acção que nos faz imergir em dois tempos.

Mas voltemos a “Tenet”, um filme complexo e intenso, com cenas de tirar o fôlego. Ajudado pela banda-sonora de Ludwig Göransson, a nova obra-prima de Christopher Nolan prende-nos do início ao fim, com um visual deslumbrante, onde o enredo com o tempo nos leva a equacionar intrigantes suposições. Nolan manobra o elemento de ilusão, editando uma realidade paralela e de tempo no seu interior.

 


Volto a lembrar que tal procede ou já foi explorado em filmes anteriores: “Inception – A Origem” (2010) e “Interstellar” (2014), mas sobretudo em “Memento”, onde Nolan opera uma permanente revisitação do futuro ao revés. Em “Tenet”, regressamos a um controlo temporal, que permite operar interferências no passado e onde a justificação científica usada é a do “paradoxo do avô”, uma especulação em caso de viagem temporal onde a possibilidade de matar o avô no passado, impossibilitaria a própria experiência e existência. No entanto, como também nos faz ver o filme, tal não passa mesmo de um paradoxo. E o anagrama intraduzível Tenet dá a possibilidade de poder jogar com essa ideia, bem como a de equacionar uma nova Guerra Mundial.


 

John David Washington, ao lado de Robert Pattinson, não deixa de sublinhar que “a nossa ignorância é a nossa missão”. E essa “nossa” missão, qual é? Salvar o mundo! Mas o seu heroísmo é vivido de forma individual e neutra, pois pouca gente sabe da sua existência, razão pela qual ele até diz no final “ninguém se importa com a bomba que não explodiu”.

 

Mas embora pouco tenha dito, nada mais direi, pois o que importa neste filme é mesmo não saber nada dele, a não ser que "Tenet" vale a pena ver. No grande ecrã, claro! Depois de algum tempo longe do cinema, assistir a um filme deste calibre com máscara não foi uma das melhores experiências, mas acreditem, tal como aconteceu com Tom Cruise, “Tenet” é mesmo a escolha certa para voltar, pois vale cada segundo.

Etiquetas:

Comente este artigo