“Bem Bom", o filme sobre as Doce já está em exibição nas salas de cinema e que alegria foi poder reviver canções que fizeram parte da minha infância e inicio de adolescência. Bom, eu disse “já está”, mas deveria ter dito “finalmente”, pois este biopic musical de Patrícia Sequeira, um dos filmes nacionais mais aguardados dos últimos tempos, teve a estreia adiada várias vezes devido à infame pandemia de Covid-19. O filme inspira-se “livremente” em factos reais para contar a história das Doce, uma das mais icónicas bandas portuguesas.

Com Carolina Carvalho, Bárbara Branco, Ana Marta Ferreira e Lia Carvalho nos papéis principais, “Bem Bom” retrata a história da formação da girl band portuguesa. Além de se focar nos primórdios da banda e em todos os obstáculos que, enquanto mulheres, ultrapassaram na indústria musical portuguesa da época, é também mostrada a vitória do grupo no Festival da Canção 1982, com a canção que dá título ao filme. No fundo, é a história de como Fátima Padinha, Helena Coelho, Teresa Miguel e Laura Diogo se juntaram para formar aquela que foi uma das primeiras bandas femininas da Europa e a primeira – e sem dúvida a mais icónica – de Portugal.

As Doce originais (imagem de 1982)

Tudo começou pelas mãos do cantor e compositor Tozé Brito e do brasileiro Cláudio Condé, presidente da Polygram, uma das maiores editoras musicais do mundo à época, que surgiram com a ideia de criar um grupo musical diferente. Assim, quatro jovens são contratadas para formar o quarteto feminino Doce, que se estreou em 1980 com o single "Amanhã de manhã", o primeiro entre vários sucessos do grupo. Com quatro mulheres fortes, mas com personalidades muito diferentes, o início não foi o mais fácil – nem sequer o resto do trajeto – porém, conseguiram alcançar um sucesso desmedido e uma popularidade ímpar. O filme expõe os diversos obstáculos que as Doce foram ultrapassando ao longo da carreira, até à vitória no Festival da Canção de 1982. Apenas se centra neste período específico, pois as Doce não terminaram neste ano, ficando activas até 1986, mas consegue mostrar como, ao longo do seu percurso, conseguiram alterar completamente o panorama musical e social português, no início dos anos 80. Isto porque seguir de forma fiel a premissa do filme, a de contar a história do início da banda e da importância que a mesma teve no panorama musical e no contexto social do país, foi mais importante do que centrar-se em todos os pormenores, de todos os anos, da existência do grupo. Em Portugal, as Doce marcaram – e muito - a primeira metade da década de 1980, tendo contado com quatro participações no Festival da Canção. Apenas saíram vencedoras da edição de 1982, à qual concorreram com "Bem bom", canção que levaram ao Festival Eurovisão (realizado no Reino Unido) e que veio dar o nome ao filme.


No seguimento de um considerável número de filmes biográficos sobre artistas, tanto portugueses – “Variações”, como estrangeiros “Rocket Man” (Elton John) ou “Bohemian Rhapsody” (Freddie Mercury), “Bem Bom” também chega com a difícil missão de fazer jus ao trabalho de quatro mulheres que encantaram (e chocaram) todo um país. No entanto, esta longa-metragem de Patrícia Sequeira – a mesma cineasta de "Snu" e "Jogo de Damas", bem como de séries televisivas como "Conta-me Como Foi", "Terapia” ou "Depois do Adeus" –, consegue, de forma livre, fazer isso e muito mais, ao retratar a realidade portuguesa da época. O casting não poderia estar mais perfeito: a actriz Carolina Carvalho surge como Helena Coelho, Bárbara Branco como Fátima Padinha, Lia Carvalho como Teresa Miguel e Ana Marta Ferreira como Laura Diogo. Para desempenhar as Doce neste seu filme, Patricia Sequeira queria actrizes muito especiais. E conseguiu! O seu trabalho conjunto é a grande riqueza de “Bem Bom”, para além do ritmo muito bem conseguido e de uma fotografia sublime. José Raposo, Ana Padrão, João Vicente e José Mata também fazem parte do excelente elenco.

Não percam este filme que recria muito bem o nascimento e afirmação do saudoso grupo pop “Doce”, que interpreta as histórias e dramas das quatro mulheres que deram vida àquele grupo ousado que veio a chocar tanto puritanos, quanto feministas. De tudo o que foram e representam, e do seu legado, que merece ser respeitado e celebrado, como faz este “Bem Bom”. E, acreditem, vão sair de lá a cantar, a dançar e muito bem-dispostos. Pelo menos foi isso que aconteceu na minha sala de cinema...



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