E que show! Valeu a pena esperar... Rita Lee, nome grande da música pop brasileira, figura indissociável da irreverência dos primeiros passos do rock em terras de Vera Cruz, veio, finalmente, actuar em Portugal. Porque há razões que a razão desconhece, apesar de sucessivos êxitos como “Banho de espuma”, “Lança perfume”, “Baila comigo” ou “Desculpe o Auê”, Rita nunca fez parte das vindas de artistas brasileiros aos palcos portugueses.

Passando primeiro pelo Casino de Espinho, foi na capital que Rita Lee fez a festa. Entre portugueses e brasileiros, foram três mil os que assistiram aos sucessos da cantora ao vivo, no Coliseu dos Recreios. Fontes próximas da cantora alegam que esta foi, provavelmente, a mais eufórica apresentação da tourné PicNic até ao momento. E quem pôde assistir, percebe bem porquê.

A PicNic Tour, que teve início em Dezembro de 2007, no Brasil, vem assinalar os 40 anos de carreira de Rita Lee e os seus já 60 de vida. Mas não se pense que esta sexagenária "arrumou as botas". Rita continua vibrante e comunicativa, capaz de sínteses que vão da MPB ao forró, do rock à bossa nova, do psicadelismo dos anos 70 ao ambiente circense. Rita está muito bem e recomenda-se!

Acompanhada no palco pelo seu companheiro de longa data, Roberto de Carvalho ("pai dos seus três filhos e avô da sua neta") e do filho Beto Lee, que lhe deu, recentemente, a sua netinha Isabela, Rita, "babada", deu-nos duas horas de muita festa e alegria, ao som dos seus maiores sucessos. O excelente repertório, a sua voz inconfundível, a sua irreverente e mordaz presença e algumas actuações bem-humoradas, com imagens da sua carreira a serem continuamente projectadas em painéis, fizeram deste PicNic um autêntico festim muiscal, na passada noite de 1 de Julho.

Em jeito de conversa, a "avozinha" do rock brasileiro partilhou connosco que, aos 28 anos, se sentia mais velha do que nunca. "Eu olhava no espelho e via a Madre Teresa de Calcutá. Hoje, 30 e alguns anos depois, volto a olhar e digo: Essa é a avó de Madre Teresa de Calcutá", brincou, antes de deixar uma mensagem: "Jovens, envelheçam!". Rita também confessou que ficar velha tem algumas vantagens: “a gente pode falar os maiores absurdos que todo o mundo respeita”. O tom humorístico prosseguia, com a versão “sertaneja” de "I Wanna Hold Your Hand" dos Beatles - "O bode e a cabra", precedido por um "f***-se para a japonesa!" por não ter deixado incluir esta versão no disco de Rita de homenagem aos quatros jovens de Liverpool, o albúm "Aqui, ali, em qualquer lugar". Outos momentos “hilários”, como dizia Rita, foram-se sucedendo, com grande sentido de oportunidade. Luiz Felipe Scolari foi um dos visados - "ele vai ensinar aos gringos, que inventaram o futebol, como se joga futebol! Pode?".

O espectáculo foi sendo preenchido com baladas, entoadas em massa pelo entusiasmado público, com alguns dos maiores êxitos a ficarem confinados ao encore, para uma despedida em grande ("Mania de você", "Banho de espuma", "Desculpe o auê", "Papai me empresta o carro", "Erva venenosa" e "Lança perfume"). Rita deu-nos, sem dúvida, um excelente concerto - despretensioso, intimista, divertido... que a todos contagiou com felicidade. Como diz uma das suas letras, em "Saúde": "Enquanto eu for viva, cheia de graça, talvez ainda faça um monte de gente feliz..." Por isso, queremos mais, Rita! Que esta seja a primeira de muitas visitas aos nossos palcos.

Vejam uma entrevista recente de Rita Lee na SIC - http://www.youtube.com/watch?v=1W6VJDi_OqM

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