O Super-Homem está de volta e, desta vez, com um coração maior do que o próprio planeta Terra. É raro sairmos do cinema com a sensação de que acabámos de assistir a algo que marca um novo ponto de viragem. Mas foi exatamente isso que senti ao ver “Superman”, o novo filme de James Gunn, que não só relança o universo cinematográfico da DC Comics, como recupera a essência do herói mais icónico da cultura pop com alguma frescura, humanidade e… um toque de Portugal.
Sim, Portugal. Porque entre os nomes sonantes do elenco, como David Corenswet como Superman, Rachel Brosnahan como Lois Lane e Nicholas Hoult num Lex Luthor deliciosamente maquiavélico, está também Sara Sampaio, a nossa top model que dá agora um passo firme no mundo da representação. Sara interpreta Eve Teschmacher, a assistente (e amante) do vilão Luthor, numa versão da personagem que ganha mais protagonismo e carisma do que nunca. E a verdade é que ela está fantástica: segura, divertida e cheia de presença. Nota-se que está a levar esta nova fase da carreira muito a sério.
Mas voltemos ao filme. Gunn, que já nos conquistou com “Guardiões da Galáxia”, troca aqui os heróis desajustados do espaço pelo mais icónico dos escuteiros intergalácticos, e fá-lo com uma visão clara: este não é apenas o Superman dos músculos ou dos feitos impossíveis. É o Superman do olhar compassivo, do gesto gentil, da esperança inabalável na bondade da humanidade. E isso, no meio do ruído atual do mundo e do cansaço do próprio género de super-heróis, é revolucionário.
O filme abre em plena ação, como se estivéssemos a folhear uma BD a meio da história e, estranhamente, isso funciona. Clark já é Superman há três anos, já salvou o mundo algumas vezes, e já começou a sentir o peso das dúvidas da humanidade sobre a sua presença. James Gunn recusa-se a perder tempo com a enésima recontagem da origem kryptoniana, apostando antes numa narrativa que confia no público e mergulha de cabeça num universo já a fervilhar de meta-humanos, dilemas éticos e ameaças políticas.
David Corenswet, até agora um rosto promissor, mas pouco conhecido, surpreende com uma prestação que combina doçura e força. O seu Clark Kent é tímido e bem-intencionado, o seu Superman, imponente, mas acessível. É fácil gostar dele o que, acreditem, faz toda a diferença. E a química com Rachel Brosnahan é explosiva: divertida, tensa, romântica e até política, como uma boa relação entre jornalistas e deuses deve ser.
Visualmente, o filme é um delírio. Luz, cor, acção coreografada com alma de banda desenhada e efeitos práticos que deixam a boca aberta, tudo aqui grita “aventura”, sem nunca se tornar ruidoso ou gratuito. A banda sonora é arrebatadora, e há sequências (como a batalha final ou a cena de salvação com o esquilo, sim, um esquilo) que ficam na memória como pequenos hinos à esperança.
Claro que nem tudo é perfeito. Há momentos em que o filme tenta agarrar demasiados fios narrativos de uma só vez, e algumas personagens secundárias parecem apenas preparar terreno para os próximos capítulos do DCU. Mas mesmo isso, essa construção de mundo, é feita com cuidado, e dá vontade de ver mais. E sim, há várias surpresas, easter eggs e cenas pós-créditos finais que vão deixar os fãs, como eu, com um sorriso cúmplice.
Em tempos de cinismo e sarcasmo fáceis, “Superman” ousa ser sincero. Ousa acreditar que um herói ainda pode ser bom, que salvar uma criança (ou um cão, ou um esquilo) ou ainda por ficar emocionado com a "morte" de um robot, ainda é suficiente para fazer a diferença. Ousa mostrar que, no fundo, o verdadeiro poder de Clark Kent não vem apenas do sol amarelo ou da Fortaleza da Solidão no Alasca, mas da sua humanidade. E é isso que torna este filme especial.
Ah, e quanto ao sucesso nas bilheteiras? Só nas pré-estreias nos EUA, “Superman” já arrecadou mais de 21 milhões de dólares, a maior de 2025 até agora e um recorde na carreira de Gunn. A DC espera ultrapassar os 500 milhões a nível mundial. Tudo indica que vai conseguir. E, se o resto do DCU mantiver este nível, podem contar comigo na primeira fila.