Sabem porque o Dia Internacional do Orgulho LGBT é assinalado a 28 de junho? Eu explico! O Dia do Orgulho, ou Pride Day, é celebrado nessa data por comemorar os distúrbios de Stonewall, considerado o evento mais importante do movimento de libertação gay nos Estados Unidos (e do mundo). Isto porque 1969, ano em que nasci, foi emblemático a vários níveis. Não só se chegou à lua, como se assinalou, de forma infeliz, o movimento gay. Tudo aconteceu no “Stonewall Inn”, um bar de Greenwich Village em Manhattan, Nova Iorque, popular na época entre a comunidade LGBT. As manifestações começaram no início da manhã de 28 de junho de 1969, após a polícia ter invadido o “Stonewall Inn”.

Quando meia dúzia de policias invadiu este bar gay mal eles sabiam que as suas ações iriam desencadear um movimento que remodelaria as vidas das gerações futuras. Cerca de 200 pessoas - lésbicas, gays, transgéneros e drag queens - foram forçosamente empurradas para a Christopher Street. Porém, subitamente, uma multidão voltou-se contra os policias, que se retiraram para sua segurança. Os gays estavam habituados a fugir da polícia, porém, desta vez eram eles que avançavam e os uniformizados que se retiravam.

O movimento pelos direitos dos homossexuais não começou apenas na noite daquele dia, mas foi revigorado pelo que aconteceu horas e dias depois. E todos os avanços feitos desde então, como a igualdade no casamento e uma sociedade mais receptiva, devem muito aos jovens que lutaram contra a polícia e aos activistas que se organizaram depois.

Stonewall foi descrito como o momento Rosa Parks pelos direitos dos homossexuais. E tal como a recusa de Parks em ceder o seu lugar, num autocarro do Alabama, a um homem branco teve o efeito de animar o movimento pelos direitos civis 14 anos antes, Stonewall “eletrificou” o impulso pela igualdade gay. Na América dos anos 1960, gays e lésbicas eram, efectivamente, fora da lei, vivendo em segredo e com medo. Eles foram rotulados de loucos por médicos, imorais por líderes religiosos, desempregados pelo governo, predatórios por programas de televisão e criminosos pela polícia. Na época, as relações sexuais consensuais entre homens ou mulheres eram ilegais em todos os estados dos EUA, exceto Illinois. Os Gays não podiam trabalhar para o governo federal ou militar, e assumir a homossexualidade negaria a licença em muitas profissões, incluindo direito e medicina.



Apesar de um número crescente de homens e mulheres gays se terem mudado para a cidade de Nova Iorque vindos de todos os Estados Unidos, milhares eram presos todos os anos na cidade por "crimes contra a natureza", aliciamento ou comportamento obsceno. Alguns tiveram os seus nomes publicados em jornais, o que significava que perderam os seus empregos. Até o facto de alguém possuir menos de três peças de roupa podia colocá-lo em algemas. O ambiente que se vivia era tal como um barril de pólvora à espera de pegar fogo. E foi isso que aconteceu no dia 27 de Junho de 1969. Na noite mais quente do verão, tudo o que essa caixa de pólvora precisava era de uma simples faísca.


Cerca de seis policias - incluindo aqueles que lideravam a divisão de moral pública do NYPD - atravessaram a Christopher Street e entraram no bar, onde colegas disfarçados já se encontravam dentro. As luzes acenderam-se, a música parou e a polícia instruiu as pessoas a mostrarem as suas identidades ao saírem. Os clientes expulsos espalharam-se pela rua. No início, a atmosfera era calma, até festiva. Porém, o clima mudou quando uma lésbica foi maltratada pela polícia enquanto tentavam colocá-la num carro. E o que começou com moedas a serem arremessadas contra a polícia, logo se transformou em pedras e garrafas.


As rusgas em bares gay eram uma ocorrência regular, mas desta vez os agentes agressivos foram desafiados por clientes furiosos e perderam o controlo da cena. Clientes e transeuntes começaram a se reunir do lado de fora do bar e a situação transformou-se num tumulto total. Seguiram-se mais três noites de agitação.

 

Como já havia dito, tal evento é considerado um marco na defesa da comunidade LGBT nos Estados Unidos, uma resposta coletiva à frustração gerada pela homofobia da época, em particular a hostilidade da aplicação da lei e a ausência de qualquer lei para proteger os gays. Em 2016, o ex-presidente dos EUA, Barack Obama, estabeleceu o Monumento Nacional Stonewall na área, como um lembrete do poder de permanecerem juntos contra aqueles que procuravam dividir.



Portanto, os motins de Stonewall foram protestos importantes que ocorreram em 1969 nos Estados Unidos e que mudaram os direitos dos homossexuais para muitas pessoas na América e em todo o mundo. E hoje, quando se fala de “Orgulho” (Pride) trata-se de referir a celebração de pessoas que se unem em amor e amizade, para mostrar o quão longe os direitos LGBT chegaram e como em alguns lugares, infelizmente, ainda há trabalho a ser feito.

 

Por isso, Junho é mês do “Orgulho” por excelência, sobre aceitação, igualdade, celebração do trabalho das pessoas LGBT, educação na história LGBT e aumento da conscientização sobre as questões que afetam a comunidade LGBT. Também lembra as pessoas como a homofobia foi e ainda pode ser prejudicial...

 

A sugestão de chamar o movimento de “Orgulho” veio de L. Craig Schoonmaker que em 2015 disse: “Muitas pessoas eram muito reprimidas, estavam em conflito interno e não sabiam se expor e se orgulhar. É assim que o movimento foi mais útil, porque eles pensaram: Talvez eu deva ficar orgulhoso.” Porque “Orgulho” é ter orgulho de quem se é, sem importar quem se ame.



Já agora, convém clarificar o que a denominação LGBT significa. Esta é a mais usada, assim como a LGBTQ+. Contudo, há algum tempo, o movimento passou a usar a sigla LGBTQIA+, mais composta e que irei esclarecer abaixo. Ela é uma versão reduzida de LGBTT2... 

 

Portanto, LGBT, LGBTQ+, LGBTQI+, LGBTT2QQIAAP… afinal, o que significam todas essas letras que designam a comunidade de pessoas com orientação sexual e identidade de género que divergem da heterossexual/cisgénero?

 

Antes da explicação, é importante entender por que esta sigla existe e como se deu a sua evolução. O seu principal objetivo é unir as pessoas que fazem parte da comunidade para que se sintam reconhecidas e representadas.

 

A primeira sigla a tornar-se conhecida foi a GLS, que significa gays, lésbicas e simpatizantes. Criada em 1994, ela logo caiu em desuso, pois "simpatizantes" poderia designar qualquer pessoa, inclusive quem fosse hétero e apoiasse a causa, tirando o protagonismo da comunidade. Então, a sigla passou a ser GLBT (gays, lésbicas, bissexuais e transgéneros), até finalmente se tornar LGBT pela pressão feita por mulheres que sofriam desigualdade de género e invisibilidade dentro do movimento.

 

De alguns anos para cá, o Q e o + foram acrescentados para englobar também outras identidades de género, e a sigla LGBTQ+ passou a tornar-se a mais conhecida (e correcta) para designar a comunidade. Mas o que significa: 

Esta sigla tem duas partes. A primeira, LGB se refere à orientação sexual do indivíduo, que pode ser:

L: lésbica, mulher que se identifica como mulher e tem preferências sexuais por outras mulheres.

G: gays, homens que se identificam como homem e têm preferências por outros homens.

B: bissexuais, que têm preferências sexuais por ambos os géneros.



A segunda parte, TQI+, diz respeito ao género em si:

T: transexuais, travestis e transgéneros, que são pessoas que não se identificam com os géneros masculino ou feminino atribuídos no nascimento com base nos órgãos sexuais.

Q: questionando ou Queer, palavra em inglês que significa “estranho” e, em alguns países, ainda é usado como termo pejorativo. É usado para representar as pessoas que não se identificam com padrões impostos pela sociedade e transitam entre os géneros, sem concordar com tais rótulos, ou que não saibam definir o seu género/orientação sexual.

I: intersexuais, que apresentam variações em cromossomos ou órgãos genitais que não permitem que a pessoa seja distintamente identificada como masculino ou feminino. Antes, eram chamadas de hermafroditas.

+: todas as outras letras do LGBTT2QQIAAP, que não pára de crescer — os “as”, por exemplo, significam assexuais (pessoas que não sentem atração sexual) e aliados (pessoas que se consideram parceiras da comunidade).



E com o fim do mês do “orgulho” (hoje termina Junho), não se pense que a causa fica adormecida até por um ano. Nada disso! O “Orgulho Gay” não só é comemorado pelo público gay, como também por todas as pessoas que apoiam a diversidade e respeitam o amor. E isso prossegue, não tem fim. E além disso, há uma mobilização constante para consciencializar a população mundial sobre a importância da inclusão, da igualdade e do combate à LGBTfobia. Porque é muito mais do ser-se apenas gay, é um sentir orgulho por poder ser-se quem é sem qualquer medo ou constrangimento. E lembrar que somos todos iguais, que todos devemos ter direitos iguais, acesso e respeito iguais.




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