Foi ontem à noite, no Parque da Bela Vista, a lembrar que rainha da pop há só uma. Que excitação a minha, estar novamente no mesmo espaço que o ídolo que me “acompanha” desde os meus 13 anos de idade. Esta foi já a quarta vez em que vi Madonna ao vivo, embora, em termos de concertos, este seja apenas o terceiro. Foi também a terceira vez em que Madonna andou por terras lusas...

Ao nascer da lua cheia, enquanto chegávamos e nos íamos “arrumando” pelo recinto, fomos sendo acompanhados pela sueca Robyn, que fez a primeira parte do concerto. Logo aqui, uma novidade. Antes desta digressão, Madonna nunca tinha contado com nenhum outro artista para lhe anteceder em palco. Este foi, certamente, um desafio difícil para Robyn, pois abrir um concerto de Madonna não deve ser tarefa fácil...
Robyn, igualmente pequena de tamanho, esteve à altura e na sua estreia em Portugal ao vivo, foi cantando temas do seu álbum homónimo, já editado em 2005, mas que só agora alcançou êxito na Europa e nos Estados Unidos. "Nunca tinha visto tanta gente junta", confessava Robyn. Ante de se despedir e condicionada à sua “pequenez” em termos de curriculum pop, perguntava: "Estão prontos para Madonna?". E acrescentava: “Vai ser um grande espectáculo”, retirando-se para, mais tarde, o recinto receber a atracção principal da noite. Robyn foi muito querida e profissional, talvez por isso tenha sido tão bem recebida e acarinhada pelo público presente, que se deixou entreter ao som das suas músicas.

Cerda de uma hora depois, dando resposta à ansiedade e à expectativa de 75 mil pessoas, o palco transforma-se para dar largas à grandiosidade, ao profissionalismo, à excelente boa forma e ao sex appeal desta poderosa artista, que tem vindo a pautar a música pop nos últimos 25 anos. Por entre um turbilhão de luzes e imagens, surge Madonna, sentada num trono que leva as suas iniciais. Na tela, uma a uma, vão aparecendo as letras que compõem o nome do seu último álbum – Hard Candy. O show começa com "Candy shop", logo seguida de "Beat goes on", com Madonna em dueto, nas vozes gravadas e nos ecrãs, com Pharell Williams e Kanye West. Seguiu-se "Human nature", acompanhado por um vídeo, onde vemos uma Britney Spears enclausurada num elevador, numa alegoria ao desepero da fama. Depois, em "Vogue", já se ouve o típico "tic-tac" que percorre a canção "4 Minutes". Aliás, “Vogue” já foi cantado sobre um ritmo diferente e todo o alinhamento do espectáculo veio mostrar-nos o quanto Madonna gosta de misturar e/ou alterar as suas canções, para marcar alguma distância dos originais, renovando-as para o nosso tempo.

Chega-nos, depois, "Into the groove", com Madonna em jeito sport, a saltar à corda, com ecrãs a passarem bonecos animados adaptados da arte de Keith Harring, um amigo seu pessoal, em jeito de homenagem póstuma. Depois deste “quadro” divertido, muito 80s, Madonna cai no chão. Vê-se agora, no ecrãs, a linha de um batimento cardíaco a dar espaço a "Heartbeat", que logo a seguir dá entrada a "Borderline", o seu primeiro hit, agora em versão rock. Nesta “Sticky&Sweet Tour”, Madonna fez-se acompanhar, em alguns temas bem conhecidos, pela sua guitarra eléctrica, tornando-os mais electrizantes. "She's not me" exibe, no palco, quatro fases de Madonna, com mulheres a comportarem-se como bonecas, fazendo jus ao seu passado de looks camaleónicos. Segue-se "Music", que faz dançar o público.

Depois de um "Devil wouldn't recognize you" fabuloso, com Madonna a cantar dentro de um cilindro, onde iam sendo projectadas imagens de gotas de chuva ou água em movimento (que já vinham do instrumental "Rain"), tem inicio o quadro "Gipsy" ao ritmo de "Spanish lesson", numa autêntica festa cigana. "Miles away" é a que se segue e depois, “La isla bonita”, é tocada no registo “Lela pala tute”, o mesmo usado no "Live Earth", com os Gogo Bordello. Mais uma vez, a reinterpretação de um clássico seu.

A seguir a um "You must love me" muito bem interpretado e a parecer que vamos finalmente acalmar, entra o acto "Rave". Uma sequência alucinante, recheada de êxitos, que fez levar ao rubro as 75 mil pessoas ali presentes, ou não se tratassem de canções contagiantes, como a actual "4 Minutes" (aqui também procedendo a um dueto virtual com Justin Timberlake) e as mais “antigas”: "Like a prayer" (que pôs toda a gente a delirar e a pular), "Ray of light" e "Hung up" (estas duas em versão rock). A culminar, "Give it 2 me", num ritmo mais dance do que a versão do álbum, torna o recinto numa gigantesca pista de dança, acompanhada, nos ecrãs, por um visual de jogos de computador, que dá azo à mensagem final: “Game over”. E acabou mesmo. Só quem não está habituado aos concertos de Madonna é que poderia esperar um encore. Madonna é rigorosa e os seus espectáculos são desenhados de modo a serem contínuos na música, na estética e na dança e, ao fim de duas horas, de vermos uma mulher que aparentemente só tem 50 anos no BI, a saltar, dançar e a cantar sem parar, não poderíamos esperar muito mais. Todo um show é um pacote multimedia, que deixa pouco espaço para os improvisos, como os encores e afins, reservando-se apenas para conversas com o público, como um “Hello, Lisbon” ou “Motherfuckers”.

Por outro lado, tal como nas últimas digressões, Madonna aproveita os momentos “mortos” de mudança de visual (que nunca o são verdadeiramente), para alertar consciências. De modo que vamos vendo, no gigantesco vídeowall, várias mensagens: políticas (com o negativismo de Hitler e outros verdugos de história e, também, John McCain, com os arautos de paz de hoje e sempre: Mandela, Bono, Lennon, Luther King… e confirmando o seu apoio a Barack Obama, numa perspectiva de futuro, onde também vemos Al Gore) ou mensagens sociais e ecológicas (com os olhos postos no materialismo excessivo e nas atrocidades que se cometem). Também houve espaço para uma mensagem mais espiritual, como que a convidar ao convívio e à aceitação dos vários deuses das várias religiões, mas aqui servindo de fundo a uma das suas canções (“Like a prayer”).

Este foi um concerto para todos os sentidos. Um grande espectáculo que se traduziu num entretenimento ininterrupto, onde Madonna se sente como "peixe na água". E se este concerto foi um festim para os olhos, foi também onde se sentiu mais a sua presença, onde Madonna conseguiu revelar-se mais artista, aguentando-se sozinha em palco mais do que o habitual, com uma menor participação dos seus dançarinos. Conhecendo bem os seus limites, como a voz, por exemplo (“entremeada” por tantos saltos e passos de dança só podia, por vezes, sucumbir ao cansaço), ela consegue dar-nos o seu melhor. Dança num ritmo intenso, toca guitarra por diversas vezes (algo que tem vindo a aprender de há um tempo a esta parte) e nunca cessou de cantar ao vivo, demonstrando, tal como na imagem do início, a hipotéticas aspirantes ao seu trono, que continua imparável e inigualável. Como Madonna, não existe ninguém. Uma autêntica "show-woman" sem pares no seu "metier". Estou certo de esta "Sticky & Sweet Tour", que passou por Lisboa, é já o concerto do ano.

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