Fui assistir à ante-estreia de "Ensaio Sobre a Cegueira" com uma grande antecedência à sua data de estreia, o que não é comum. Tal deveu-se à presença em Portugal do Realizador do filme, Fernando Meirelles e do autor do livro que lhe deu origem, o nosso Nobel, José Saramago. Tudo aconteceu no passado dia 30 de Outubro, nos Cinemas UCI do Freeport, graças à XN Brand Dynamics. Fernando Meirelles, realizador brasileiro, reconhecido internacionalmente e já nomeado para os Óscares (“O Fiel Jardineiro” e “Cidade de Deus”), transportou para o cinema uma das mais reconhecidas obras de Saramago. O filme, esse só o poderão ver a partir desta Quinta-feira. Mas vale a pena!

"Ensaio Sobre a Cegueira" conta a história de uma inédita epidemia de cegueira que se abate súbita e inexplicavelmente sobre os habitantes de uma cidade. Essa "cegueira branca", chamada assim pelas próprias pessoas infectadas, dado passarem a ver apenas uma superfície esbranquiçada ao invés do caracteristico negro da cegueira normal, começa por se manifestar num homem asiático, no meio do aparatoso trânsito. A partir daí, vai-se espalhando, lentamente, por todo o país. Aos poucos e no meio de um pânico geral, todos acabam por ficar cegos e reduzidos a meros seres que lutam pelas suas necessidades básicas, expondo os seus instintos mais primários...

À medida que as pessoas vão ficando infectados pela epidemia da cegueira, elas vão sendo colocados numa espécie de quarentena, pelas autoridades governamentais, alojadas numas antigas instalações hospitalares que carecem de saneamento básico e afins, onde qualquer semelhança com a vida quotidiana começa por desaparecer… No centro desta narrativa, temos uma mulher (Julianne Moore), casada com um médico oftalmológico (Mark Ruffalo), como a única pessoa não afectada pela doença.

O propósito do filme, contudo, não é fazer-nos acompanhar o desvendar da causa da doença ou a sua cura, mas mostrar-nos o desmoronamento de uma sociedade, que acaba por perder tudo aquilo que consideramos civilizado. É, por isso, um filme violento, pois nunca esperamos ver reflectida a verdadeira essência do ser humano, que é intrinsecamente má. Sentimentos humanos como egoísmo, oportunismo e indiferença prevalecem, mas felizmente, também a capacidade de nos compadecermos, de amarmos e de perseverarmos.

Ao mesmo tempo em que assistimos ao colapso da civilização, um grupo de internados, da tal zona de quarentena, tenta reencontrar a humanidade perdida. Cada dia que passa, aparecem mais “cegos” e esta zona de deportados acaba por entrar em colapso, quando um grupo se apodera de uma arma e se sobrepõe aos restantes, racionando-lhes a comida e obrigando-os a cometer os actos mais horríveis e desprezíveis.

Mantendo o seu segredo, a única pessoa que vê guia sete desconhecidos, para além do seu marido, que se tornam, na sua essência, numa verdadeira família. Armada de uma coragem ímpar, ela acaba por os levar para fora da zona de quarentena até às ruas deprimentes da cidade, onde já não restam vestígios de civilização. Depois de algumas adversidades, esta verdadeira heroína acaba por os guiar para um novo mundo de esperança.

Através das personagens principais, a história torna-se num registo da sobrevivência física das multidões cegas, mas, também, das suas emoções e da dignidade que tentam manter. Mais do que poder ver, importa reparar no outro. Só dessa forma o Homem consegue voltar a humanizar. Para além da excelente e viva realização de Fernando Meirelles, o retrato da fragilidade da sociedade que é "Ensaio Sobre a Cegueira", conta com um espectacular e diversificado elenco. Para além de Julianne Moore e de Mark Ruffalo, temos Alice Braga, os asiáticos Yusuke Iseya e Yoshino Kimura, Danny Glover e o mexicano Gael García Bernal.

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