No passado dia 4 de Maio, morreu um dos maiores expoentes da animação em Portugal. Não por ser autor do género, mas por ter sido seu grande divulgador deste sempre… Não poderia deixar passar em branco a morte de uma pessoa que sempre me cativou e que muito contribuiu para a minha imaginação e formação em criança, graças aos desenhos animados que, semanalmente, fazia passar na RTP. Vasco Granja veio a falecer, em Cascais, na madrugada do passado dia 4. É altura de o recordar...

Em 1974, deu início a um programa de televisão inovador, denominado "Cinema de Animação", que viria a durar 16 anos consecutivos, somando mais de mil programas transmitidos. Em cada um, ia dando a conhecer a animação de todo o mundo, desde a que era realizada nos países da Europa de Leste, que predominava, até à proveniente da América do Norte. Portanto, era um programa muito eclético, com grande variedade de animação. Víamos desde marionetas de sombras à dupla Chapi Chapeau, passando por os Barbapapa, a Pantera Cor-de-Rosa, alguns de Tex Avery e Chuck Jones ou os mais “comerciais” Looney Toons, com Speedy Gonzalez, Beep Beep, entre outros…

Era sempre uma grande excitação, quando Vasco dava inicio ao “Cinema de Animação”, com o seu característico: “Olá, amiguinhos!” Ficávamos “pregados” ao ecrã de televisão, pois não havia mais nada, naquela época, que preenchesse o nosso imaginário. Com muita dedicação, ele explicava sempre os filmes antes de os vermos, o que era essencial para compreendermos os respectivos argumentos, pois nem todas as crianças conseguiam acompanhar as legendas. Vasco Granja pretendia, com este seu programa, divulgar, para além do que de melhor e mais expressivo se fazia na animação, uma certa mensagem de paz, que considerava estar presente em muitos dos filmes do Leste que passava.

Mas não se pense que Vasco Granja apenas tinha um papel preponderante no cinema de animação. O seu nome é também associado à divulgação da banda desenhada em Portugal. Aliás, consta que o termo “banda desenhada” foi utilizado, pela primeira vez, pelo próprio, num artigo publicado no “Diário Popular”, em 1966. Nesse âmbito, Vasco veio a integrar a equipa fundadora da revista francesa de crítica e ensaio de banda desenhada “Phénix”, ainda nos anos 60 e participou regularmente no Salone Internazionale dei Comics, em Itália, o mais importante encontro do género na década de 70. Em Portugal, a sua actividade de divulgação da banda desenhada veio a intensificar-se com o aparecimento da edição portuguesa da revista “Tintin”, em 1968, onde escrevia e traduzia artigos com frequência, para além de ser o responsável pela secção de cartas dos leitores. Chegou a ser Director da segunda série da edição portuguesa da revista “Spirou” e coordenador da edição de banda desenhada da Editora Bertrand. Em 74, foi membro do júri do Festival Internacional de Banda Desenhada de Angoulême. Um ano depois, em 1975, criou um curso de cinema de animação, a partir do qual veio a nascer a Associação Portuguesa de Cinema de Animação. Em 1978, também esteve associado à fundação da primeira livraria especializada de banda desenhada em Lisboa, “O Mundo da Banda Desenhada”. Um curriculum de respeito, sem dúvida.

Mas ninguém esquece “Cinema de Animação” e, muito menos, o seu apresentador, Vasco Granja, que com amabilidade e simpatia, entrou pelas nossas casas 1040 vezes. Reformou-se em 1990, mas continuou sempre muito activo em prol da animação e da BD.
Vasco Granja foi, de facto, uma figura incontornável na divulgação do cinema de animação e da banda desenhada. Hoje em dia, os canais de cabo têm animação para crianças durante todo o dia, mas na altura da minha infância, Vasco era o único que nos fazia sonhar... Deixou-nos aos 83 anos. Nesse dia, uma grande tristeza invadiu-me. Ele fez parte do meu passado. Cresci e enriqueci com a sua animação, sempre tão diversa… Termino, como ele fazia, na sua fraca pronuncia polaca: “Koniec” (Fim).

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