"Por detrás do Candelabro" não é apenas mais um filme de Steven Soderbergh, embora não tenha sido estreado no cinema nos EUA. Antes, foi mesmo produzida como telefilme para o conceituado canal HBO. Tudo porque este versátil realizador norte-americano decidiu entrar no universo de Liberace. Um universo que, segundo os principais estúdios norte-americanos, foi considerado, logo à partida, "demasiado gay" para passar nas salas de cinemas. Razão pela qual a HBO se adiantou e comprou os seus direitos de exibição, decidindo transformar a longa-metragem "Por detrás do Candelabro" num telefilme irreverente e biográfico, tão característico deste canal de televisão por cabo. Contudo, perante o potencial da sua obra e do seu resultado final, Soderbergh foi mais longe e avançou na corrida ao grande prémio de um dos mais conceituados festivais de cinema do mundo: Cannes. Assim, dada a sua qualidade, quer técnica, quer interpretativa, "Por Detrás do Candelabro" conseguiu vir a ser distribuído e exibido em inúmeros países europeus, tal como em Portugal. O filme acompanha a última década de vida, acompanhando o seu apogeu mediático, do cantor e pianista Liberace, talentoso mas extravagante entertainer, que sempre viveu uma vida de excessos, dentro e fora do palco. E, embora tenha conseguido esconder a sua homossexualidade dos fãs, chegando a alimentar junto dos media um suposto namoro com uma conhecida mulher, no seu círculo mais íntimo Liberace não fazia qualquer questão de a ocultar, fazendo-se acompanhar de vários amantes de ocasião, sempre mais jovens e "descartáveis". De entre esses, eis que surge Scott Thorson (Matt Damon), que viria a viver um tórrido romance com Liberace (Michael Douglas), por cinco anos. É a relação entre ambos que serve de base a este filme, não fora o mesmo adaptado a partir do livro escrito por Thorson. Este, na narrativa, deixa-se fascinar facilmente pelo estilo de vida do pianista. Valentino Liberace, apesar da grande diferença de idades, acaba por se tornar manipulador qb, fazendo uso das fragilidades do jovem, tais como o abandono parental, por exemplo, para o atrair em definitivo. E, assim, veio a nascer entre ambos uma ligação de afecto, mas que, com o passar do tempo, se veio a revelar impossível...
Entre plumas e muito brilho, com bastante bling-bling, Steven Soderbergh vem demonstrar, mais uma vez, o seu eclecticismo e sai da sua “zona de conforto” para criar um filme de ambiente extravagante, transformando "Por Detrás do Candelabro" num festim de excentricidades e de brilho, mas ao mesmo tempo fascinante e credível, graças ao extraordinário desempenho dos actores principais. Michael Douglas tem uma excelente interpretação como o showman Liberace, tornando-o egocêntrico mas frágil, manipulador mas generoso. Douglas dá-lhe muito carácter, não deixando que a personagem caia no mero estereótipo gay, nem se torne caricatural. Igualmente com um desempenho sólido e confiante, Matt Damon também convence na sua personagem, ora insegura mas sexy, ora ingénua mas determinada. "Por Detrás do Candelabro" torna-se, por isso, num filme corajoso, emanando uma realização segura na abordagem que Soderbergh faz de um universo de obsessões e excessos, de narcisismos, glamour e extravagâncias. Mas o amor, esse sentimento sempre tão nobre e presente, torna-o mais poético do que arreigadamente "gay" como havia sido conotado. Afinal, resulta num telefilme que supera grande parte do muito que é estreado nas salas…

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