O Dia Mundial do Café celebra-se no próximo dia 14 de Abril. Razão pela qual venho reflectir sobre esta bebida, tão enraizada nos hábitos dos portugueses, mas ainda tão desconhecida… Por exemplo, sabiam que o café é uma das bebidas mais consumidas no mundo e que é a segunda matéria prima mais comercializada em todo o mundo, a seguir ao petróleo? Em Portugal, ao balcão, ele é conhecido por bica ou cimbalino, de acordo com a região onde se pede café. Se estivermos em Lisboa, o termo tradicional para o expresso é bica, um acrónimo que significa "Beber Isto Com Açúcar" (aposto que também não sabiam disto). Quando começou a ser comercializado em Lisboa, no café "A Brasileira", o café não agradou logo aos lisboetas e, por isso, foi criado este “slogan”, para que as pessoas adicionassem açúcar ao café. Curiosamente, hoje, os verdadeiros apreciadores de café consomem-no sempre sem açúcar, pois só assim é possível degustar, em pleno, a pureza do seu paladar… Já no Porto, quem pedir um cimbalino, tem como referência a La Cimbali, uma popular marca de máquinas de café que se tornou famosa no Norte. Nós, os portugueses, somos dos europeus que consomem menos café. Não acham estranho? Em média, um português consome 4 quilos de café por ano, o que equivale a 2,2 chávenas por dia… Consumido moderadamente, o café tem uma ação antioxidante, actuando no combate aos radicais livres e diminuindo os riscos de desenvolver doenças cardiovasculares e alguns tipos de cancro. Por outro lado, o excesso de café pode causar irritabilidade, ansiedade, inquietação, insónia, dores de cabeça, náuseas e problemas gastro-intestinais, devido à sua acidez. Mas afinal, o que tem o café? A composição química do café inclui, além da famosa cafeína, outras substâncias, cujos efeitos foram temas de inúmeras pesquisas. Por exemplo, já ouviram falar das lactonas? Pois é, muitos falam do efeito estimulante da cafeína, mas, na composição do café, as lactonas possuem um efeito estimulante sobre o sistema nervoso central que é tão ou mais significativo do que o da cafeína. Outros componentes são a celulose, que estimula os intestinos; os minerais, importantes para o metabolismo; os açúcares e o tanino, que contribuem para o sabor; e os lipídeos, que dão aquele aroma especial, que tanto gostamos… A história do café é marcada por interessantes acasos e coincidências. Estima-se que a sua origem tenha cerca de mil anos e esteja associada aos árabes, os primeiros a cultivarem o fruto. A região de Kafa, no Médio Oriente, parece ser o berço do café, tendo inclusive emprestado o seu nome à bebida. Mas interessante mesmo são os primeiros registos acerca do café, nos quais podemos perceber como a observação dos animais inspira o nosso quotidiano. Tudo começou na Etiópia, quando um pastor percebeu que suas cabras gostavam de comer um certo fruto pequenino, vermelho e arredondado. Estas mesmas cabras mostravam-se mais espertas e resistentes, depois de comê-lo. Quando o pastor resolveu experimentar esse fruto (esmagou-o com manteiga e fez uma pasta), conheceu os efeitos estimulantes do café. A versão bebida, porém, vem mesmo dos árabes. Isto foi no século XV. Com o passar do tempo, o café passaria não só a ser saboreado, como a ser estudado devido aos seus efeitos estimulantes e revigorantes. Através do comércio dos árabes com os europeus, o consumo do café foi ampliando-se e, com as grandes navegações, chegou à América Central e do Sul. Existem dois tipos de café: arábica e robusta. Ou seja, apenas duas espécies são cultivadas e comercializadas: a Coffea Arabica e Coffea Canephora, conhecido como Robusta. A Arabica, classificada apenas em 1753, é uma espécie rica em aroma, muito perfumada, doce e ligeiramente ácida. Os maiores cultivadores desta espécie são os países da América do Sul e Central, assim como alguns países da África e Ásia. Este grão possui numerosas variedades, como Bourbon, Catimorra, Mundo Novo, Caturra, Catuai, entre muitos outros. Actualmente, o ‘Arábica’ representa três quartos da produção mundial de café. A taxa de cafeína deste tipo de grão é de cerca de 1,4%Já a Coffea Canephora (Robusta), foi uma espécie descoberta e classificada no fim de 1800. Esta planta é muito difundida na África, Ásia, Indonésia e Brasil, fornecendo cerca de um quarto da produção mundial. Ela tem um crescimento rápido, melhor rendimento e é mais resistente aos parasitas. Floresce várias vezes por ano e, por isso, a sua produção por planta é ligeiramente superior à do Arábica. Os grãos contêm, em média, cerca de 2,5% de cafeína. A bebida que se obtém depois da torra do ‘Robusta’ é caracterizada por corpo e gosto achocolatado com sabor persistente. Portanto, a bebida do café é produzida a partir dos frutos destas duas espécies, que produzem sabores e aromas bem distintos. É o que se chama de Blends ou, para ficar mais claro, a harmonização dos grãos.
Mas os milhares de estudos desenvolvidos ao longo dos últimos anos, em torno desta bebida, uma das mais consumidas no mundo, chegaram à mesma conclusão: o café faz bem à saúde. Desde que bebido com moderação, os benefícios do café são muitos e diversificados. Vejamos: 1.Numa investigação realizada na conceituada Escola de Medicina de Harvard, onde foram observadas mais de 193,000 pessoas, chegou-se à conclusão que quem bebia café de forma regular tinha um risco menor de vir a desenvolver diabetes (tipo 2), do que aquelas pessoas que não bebiam café. Mesmo as pessoas que bebem descafeinado, têm uma maior probabilidade de desenvolver diabetes do que aquelas que bebem café normal. 2.Um copo de café contém cerca de 1 grama de fibra solúvel, o que significa que o seu consumo contribui para manter os níveis de colesterol baixos. 3.Alguns estudos sugerem que o café pode contribuir para a diminuição do risco de doenças cardiovasculares. O “American Journal of Clinical Nutrition” contém um estudo que alerta para o facto de pessoas saudáveis, com 65 anos ou mais, que bebiam 4 ou mais chávenas de café por dia tinham menos 53% de probabilidades de desenvolver uma doença cardíaca. 4.O café contém magnésio, o que permite que as células do organismo se tornem mais sensíveis à insulina. Resultado? Uma maior sensibilidade à insulina significa manter os níveis de energia e de glicose no sangue saudáveis e equilibrados. 5.Uma caneca de café tem mais antioxidantes do que uma porção de mirtilos. Os antioxidantes são responsáveis por um sem número de benefícios saudáveis, incluindo o atrasar do processo de envelhecimento e o aumento da esperança de vida. Para além disso, o poder anti-inflamatório dos antioxidantes é extremamente eficaz, o que se revela crucial na luta contra doenças cardíacas e diabetes. 6.Alguns estudos foram mais longe e sugerem que o consumo regular e moderado de café pode diminuir o risco de vir a desenvolver doenças como pedra nos rins, cirrose, Parkinson’s, cancro no fígado, próstata e cólon. 7.Para além de ser um diurético natural, o café pode ser um aliado na luta contra o excesso de peso. Baixo em calorias, o café acelera o metabolismo o que, por sua vez, ajuda a queimar gordura e calorias indesejadas. 8.O consumo diário e moderado de café pode ajudar a melhorar o estado de espírito e ainda combater a depressão. Em muitos casos, tomar um café também pode ajudar a aliviar uma dor de cabeça, aumentar os níveis de concentração e a memória. Adicionalmente, já foi ligado à demência, ou seja, o consumo de café reduz em cerca de 65% o risco de desenvolver esta doença psicológica. 9.Curiosamente, o café tem ainda benefícios para os dentes, ou seja, o composto Trigonellina, que confere ao café o seu aroma e sabor amargo, tem propriedades antibacterianas e anti-adesivas que previnem contra a formação de cáries dentárias. 10.A cafeína, presente no café, é um poderoso aliado no que toca à resistência e performance desportiva, quer se trate de um atleta de alta competição, quer seja um praticante regular de algum tipo de atividade física. Para além disso, o café pode reduzir as dores musculares que muitas vezes sucedem ao exercício físico em cerca de 48%.
Agora, algumas dicas e curiosidades, para preparar melhor o cafezinho: - Evitem a água da torneira para a preparação do café. O excesso de cloro na água pode alterar o sabor, por isso, prefiram água filtrada ou mineral; - O pó não deve ser reaproveitado. - Quando se utilizar pela primeira vez um coador de pano, ferva-no em água misturada com café, para tirar o cheiro do tecido. - Consumam o café logo que este seja feito, pois ele começa a perder as suas características 15 minutos depois de pronto. - Antes de servir o café, agite-no levemente para uniformizar a mistura. - O café ficou pronto? Vejam, então, para que mais serve o pó e a borra de café: para clarear e limpar a pia e o chão de cozinha, utilizem a borra do café; o pó de café, colocado num copo dentro do frigorifico, ajuda a eliminar os maus cheiros; um bom adubo, quando a borra do café é adicionada à terra em vasos de flores e plantas. Hoje, o seu uso estendeu-se a todo mundo. O café é usado em bebidas quentes, frias, doces e salgados. Com a chegada do tempo mais quente, o café com gelo começa a ganhar adeptos. Mas quem resiste a uma boa chávena de café expresso? Eu não passo sem uma. Aliás, chego a consumir três, pelo que espero usufruir de todos os seus benefícios…

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