O muito aguardado “Maléfica” estreou, finalmente, no nosso país. Ansiava há muito por tal. Sempre me fascinou uma história de fantasia vir a ser contada pela lado mais negro. Tal aconteceu no musical “Wicked: The Untold Story of the Witches of Oz”, de Stephen Schwartz, contado sob a perspectiva das bruxas da Terra de Oz (Elphaba, a Bruxa Malvada do Oeste e Glinda, a Bruxa Boa do Norte). Em "Maléfica" temos a história nunca antes contada da vilã mais simbólica da Disney, a partir do clássico de 1959 "A Bela Adormecida". Maléfica, uma jovem fada, linda e pura, vivia uma idílica vida num pacífico reino de seres fantásticos e de natureza exuberante, até ao dia em que um exército invasor ameaçou tal harmonia. Maléfica rapidamente se assume como a mais ardente defensora do seu reino (Moors) mas, no fim, acaba por ser vítima de uma traição com que não contava, uma acção que começa a transformar o seu coração puro em pedra… Apostada em vingar-se, Maléfica enfrenta o sucessor do rei invasor numa batalha épica e, por causa disso, lança uma maldição sobre Aurora, a sua filha recém-nascida. A mesmíssima que conhecemos do clássico. Porém, enquanto a menina cresce, Maléfica vai-se apercebendo de que Aurora pode ser a chave para a paz no seu reino e, talvez, também para a sua verdadeira felicidade… Portanto, tal como com “Wicked”, em que a rivalidade das bruxas começa com o interesse amoroso pelo mesmo homem e consequente despeito, também aqui a causa de todo o mal advém de um homem que, por ganância, trai o sentimento de Maléfica. É caso para dizer que o Homem é a causa de muitos dos males, tal como na vida real… É sempre complicado revisitar clássicos, já que muitas das referências estão enraizadas na cultura visual e qualquer “deslize” pode ser fatal, principalmente para os mais apegados ao original. Por isso, não deixa de ser notável o resultado de Robert Stromberg como realizador, que se vem juntar, assim, a outros clássicos que revisitados com personagens de carne e osso como Tim Burton, em “Alice no País das Maravilhas”. Além disso, Stromberg estava bem à vontade para revisitar o clássico “A Bela Adormecida”, pois a sua experiência com efeitos visuais (onde ele obteve o Oscar por “Alice no País das Maravilhas” e “Avatar”) fez resultar num filme esteticamente belo, com exuberantes figurinos e um fantástico design de produção.
Por outro lado, outro grande trunfo deste filme é o facto de a vilã vir a ser humanizada. Angelina Jolie encarna uma personagem mais complexa do que aparenta, mergulhada num sofrimento físico e emocional. Sem cair no papel de vítima, a actriz transita fácil e habilidosamente entre a bondade e a maldade, o perdão e a vingança, o amor e o ódio. Fazendo uso da sua extensa experiência como atriz dramática, Angelina Jolie também investe no tom irônico qb, tão necessário para Maléfica. O seu desempenho vai tão acima do esperado, que chega a ser aceitável que as personagens secundários apareçam pouco, já que eles convergem o desenvolvimento e brilho de Maléfica. A atriz assumiu todo o peso da produção, cuidando pessoalmente de cada detalhe da sua personagem. E a sua encarnação é precisa. Honrando o filme original, Jolie domina cada intervenção, diverte-se (e diverte-nos), criando um trabalho único. "Maléfica" é o novo #1 do box office. Na luta pela liderança da tabela, "Maléfica" terminou na frente não apenas a nível absoluto (48.813 espectadores) mas também em termos médios, com 581 bilhetes vendidos por cada um dos 72 ecrãs. Afinal, não era eu o único que ansiava por tal filme… Maléfica fora concebida como a “senhora de todo o mal” e, desde 1959, reinava como a mais cruel e poderosa das “vilãs” da Disney. Agora, em 2014, o estúdio decidiu destituir a personagem do seu posto. Afinal, aquela, cujo nome evocava a crueldade de alguém que, por despeito, condenou uma bela princesa a um sono eterno, vem agora contar a sua verdadeira história… Não percam! Mas tenham presente, no vosso imaginário, o filme clássico de animação.

Etiquetas:

Comente este artigo