Depois da grande estreia em Angola, o filme angolano "Njinga, Rainha de Angola", produzido pela Semba Comunicação, vai estrear em Portugal, amanhã, dia 10. Eu, que tive o privilégio de assistir à sua ante-estreia no cinema São Jorge, no passado domingo, venho “levantar um pouco o véu”… O filme conta-nos a trajetória de uma das mais importantes mulheres africanas que marcou a história de Angola. A mulher em questão é Njinga, guerreira africana, que durante quarenta anos lutou pela independência dos reinos de Ndongo e Matamba, ao longo do século XVII. Uma verdadeira viagem no tempo e na história desse país, para conhecer a vida de luta desta destemida mulher. A história começa em 1617, ano em que o pai de Njinga, o Rei Kilwanji, morre. A partir daí, Njinga é testemunha do crescente domínio português e da perda de soberania dos povos ao seu redor. Depois do assassinato do seu filho e ao presenciar o declínio do seu reino, Njinga concentra a sua energia na luta pela libertação dos Mbundu. Após vários anos de incursões portuguesas para a captura de escravos, e entre batalhas intermitentes que vamos podendo ver, Njinga consegue negociar um tratado de termos iguais, chegando a converter-se ao cristianismo como forma de fortalecer a confiança entre os dois povos, adoptando o nome português de Ana de Sousa. Portanto, só após quatro décadas de conflito com o lema deixado por seu pai “quem ficar, luta até vencer”, é finalmente selada a paz com os portugueses, que a vieram a reconhecer como a rainha de Matamba e Ndongo. Determinada a proteger os seus, ajudou a reinserir antigos escravos e formou uma economia que, ao contrário de outras, não dependia do tráfico de pessoas. O filme não mostra, mas sabe-se que Njinga faleceu aos 80 anos de idade, admirada e respeitada por Portugal, depois de uma luta corajosa contra a ocupação colonial, em defesa do povo Mbundu. Para retratar a história desta guerreira o mais próximo possível da realidade, foi previamente realizado um colóquio internacional sobre a rainha Njinga, com a participação da UNESCO. "A rainha Njinga foi considerada pela UNESCO uma das 25 figuras femininas mais importantes da História de África. Por isso, é fundamental ter a trajetória dela contada e uma honra poder mostrar aos portugueses um pouco da história angolana”, foi dito por uma das responsáveis pela Semba no São Jorge.
O filme “Njinga, Rainha de Angola, marca a estreia de Lesliana Pereira, que a encarna, como protagonista no grande ecrã. Para além de Lesliana, fazem parte do elenco, os actores Erica Chissapa, Ana Santos, Sílvio Nascimento, Miguel Hurst, Jaime Joaquim, José Fidalgo, Paulo Pinto, Philippe Leroux e Orlando Sérgio. O argumento ficou a cargo de Joana Jorge e a realização do português Sérgio Graciano (conhecido pelas séries "Conta-me como Foi" e "Depois do Adeus"). A belíssima partitura musical chega-nos pela mão de Rodrigo Leão. A produção da Semba Comunicação, rodada inteiramente em Angola, com direito a lindíssimas paisagens, mereceu elogios por parte dos espectadores presentes, que, como eu, muitos afirmaram que o filme permite ter uma visão aproximada dos contornos que envolveram o tráfico de escravos a partir do actual território de Angola para as Américas. Segundo o realizador, “a importância desta obra está no facto de ela ser contada pelos próprios angolanos”. A não perder…

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