Símbolo da Guerra Fria, dividiu a maior cidade alemã por décadas. No passado domingo, o seu derrube fez 25 anos. Um quarto de século passado desde a data histórica, qual o legado da queda do Muro de Berlim?

A queda do Muro, a 9 de Novembro de 1989, foi um evento que correu mundo, provocando, simultaneamente, a queda do Comunismo, a unificação da Alemanha e o início do fim da Guerra Fria. O mundo viu a queda do Muro como um símbolo do fim da Guerra Fria entre os EUA e a União Soviética. Foi a remoção de uma barreira que impedia a unificação de um país dividido. As pessoas viram o triunfo dos Direitos Humanos sobre os Governos. Foi um evento dramático, coberto pelos media mundiais… Volvidos estes anos, considerada a quarta maior economia do globo e a “locomotiva económica da Europa”, a Alemanha celebrou, no passado domingo, a data que permitiu ao país unir-se depois da divisão sofrida como resultado da trágica 2ª Guerra Mundial. Sobre a mesma, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, afirmou «a queda do Muro de Berlim há 25 anos atrás, num prenúncio do fim da Guerra Fria, mostrou ao mundo que os "sonhos podem-se tornar realidade" e deveria inspirar as pessoas dominadas pela tirania»…

Mas porque é que o Muro caiu? Há três razões para tal… A imediata, é a de que o Governo da Alemanha Oriental errou. Quis mudar as regras e viagens no princípio do mês de Novembro de 1989, para quem quisesse visitar a Alemanha Ocidental, e deu uma conferência de imprensa para anunciar as mudanças. Quando um jornalista perguntou ao porta-voz do Governo quando é que as mudanças iam entrar em vigor, o mesmo inventou uma resposta: imediatamente. Ora, os rumores espalharam-se e acreditou-se que se podia passar imediatamente para o outro lado e, aí, começou a pressão. O erro levou a um mal-entendido e produziu-se um movimento instantâneo de mudança. A segunda razão prende-se com a mudança que assolou a região em 1989: as negociações da Mesa Redonda na Polónia; as eleições naquele país; o êxodo de alemães orientais para embaixadas da Alemanha Ocidental; ou o crescente número de manifestações na Alemanha Oriental, sobretudo em Leipzig. O Governo da Alemanha de Leste teria que usar a força bruta para contrariar essa tendência. A terceira e última tem a ver com o papel de Mikhail Gorbachev na União Soviética. Gorbachev cedo mostrou que não iria “salvar” os regimes comunistas na Europa Oriental com as tropas soviéticas, como aconteceu na Alemanha Oriental em 1953...

De facto, o mundo mudou por completo há 25 anos, quando centenas de pessoas se juntaram, com pás e marretas, para destruir a barreira que separou uma nação durante 28 anos e que manteve o mundo em constante ameaça de nova guerra. O dia 9 de Novembro de 1989 é uma data histórica, pois traçou a linha que separa a era da Guerra Fria da era do pós-Guerra Fria. “A queda do Muro permitiu a expansão da União Europeia (UE), celebrando a prioridade à geoeconomia e não à geopolítica”, explica John Feffer, co-director de Foreign Policy In Focus no Instituto (Americano) de Estudos Políticos, um “think tank” sediado em Washington DC.

Além de representar uma grande mudança a nível político e económico, o fim da era do Muro também é visto como uma vitória dos Direitos Humanos, conseguindo inspirar milhares de activistas à procura da Democracia nas suas sociedades. Apesar de a queda do Muro ter trazido mudanças significativas, é um facto que também gerou expectativas e que, um quarto de século passado, continuam por cumprir. “As expectativas estavam muito altas, em 1989 – que todas as ditaduras iriam acabar, que todos os conflitos seriam resolvidos, uma economia equitativamente global e estabelecida… Todo o dinheiro gasto a nível militar poderia ser transferido para as necessidades humanas… Ora, muitas destas expectativas não foram concretizadas”, defende Feffer. E acrescenta: “As guerras não acabaram, muitos ditadores continuam no Poder. E os gastos militares continuam muito elevados.”

Portanto, novas ameaças têm vindo a surgir nos últimos tempos: o espectro de uma nova Guerra Fria começa a ensombrar o Mundo, com a crise na Ucrânia, cujo destino depende dos confrontos entre EUA/UE e a Rússia, e muitas vozes têm chamado à atenção para a possibilidade de um novo confronto, de baixa densidade, entre as grandes potências mundiais. “É importante chamar as coisas pelos nomes e o colapso das relações entre a Rússia e o Ocidente tem, de facto, de ser chamado de Guerra Fria”, escreveu, recentemente, Robert H. Legvold, professor do Departamento de Ciências Políticas da prestigiada Universidade de Columbia, na revista “Foreign Affairs”.

Assim, o 25.º aniversário da queda do Muro, que se celebrou domingo, chega a meio de uma crise internacional. Por isso mesmo, os festejos podem servir como lembrete para os EUA e Rússia dos males que podem trazer confrontos ideológicos e políticos, a nível internacional. “Nunca é tarde para reatar as relações EUA-Rússia e evitar uma nova Guerra Fria. Mas isso exigiria um novo acordo envolvendo Washington, Moscovo e Bruxelas", conclui Feffer.

Mas, obviamente, muitas razões há para se celebrar as bodas de prata da Queda e por isso, simbolicamente, o muro foi reconstruído com balões cintilantes. Para comemorar os 25 anos da queda do Muro de Berlim, o artista Christopher Bauder e o realizador Marc Bauder criaram o “Lichtgrenze”, uma reconstrução de 10 km do Muro. Só que, em vez de betão, o percurso original tem balões luminosos, que ficarão na cidade durante dois dias, ou seja, até hoje. E em seis localizações-chave ao longo do percurso, a “Lichtgrenze” mostra imagens históricas dos tempos em que o Muro ainda dominava a paisagem.

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