O homem-morcego, lançado em Março de 1939, foi criado por Bob Kane e Bill Finger, e rapidamente se tornou numa das personagens mais conhecidas de todos os tempos do mundo da banda-desenhada. Batman transformou-se numa febre comercial, e nas décadas seguintes, estava nas televisões e nas salas dos cinemas, sendo que as suas revistas vendiam como “pão quente”. O combatente do crime da cidade de Gotham não parou de receber elogios por parte da crítica e dos fãs. Bob Kane não foi o único criador do homem-morcego. Foi o escritor Bill Finger que veio complementar psicologica e dramaticamente a personagem, porém, este último não obteve nenhum crédito financeiro com a criação do combatente misterioso do crime, ficando “a ver navios”. Só Kane é que registou a marca Batman, tendo sido contratado pela editora National, que depois se transformaria na DC Comics. Mas adiante...

Estávamos em 1939 quando ocorreu a publicação da história “The Case of the Chemical Syndicate”, da revista Detective Comics, onde a personagem apareceu pela primeira vez. A sua criação foi uma encomenda da DC Comics para aproveitar o sucesso do Superman ou Super-Homem, criado um ano antes. A tarefa ficou a cargo de Bob Kane, que procurou influências bastante variadas, que iam do Drácula e Zorro, até ao Leonardo Da Vinci. O resultado final foi um cavaleiro das trevas que, ao longo dos anos, ganhou aliados (como o tenente Gordon, Robin e a Batgirl), diversos icónicos vilões (Joker, Pinguim, ou a Catwoman), e tornou-se num dos maiores ícones da cultura pop e um sucesso desmesurado nos livros aos quadradinhos, cinemas, TV, jogos, brinquedos e os mais diversos objetos licenciados. Além de ganhar uma mitologia rica e receber novos tratamentos no traço dos uniformes e do logo do personagem ao longo dos anos, tendo passado pelas mãos de Tim Burton, Neil Gaiman, Frank Miller, Christopher Nolan ou Alan Moore. É, sem dúvida, o super-herói mais filmado de sempre, mas também o mais “analisado no divã”: é o justiceiro fictício mais analisado por psiquiatras e psicólogos.

No ano seguinte, saiu a primeira revista Batman, já com outras duas personagens que ajudaram a definir este cavaleiro das trevas – Joker e Catwoman. A primeira era de Batman foi algo escura e tortuosa. Nos anos 50 e 60 tornou-se mais sorridente, quase paternal, além de bastante “camp” na série televisiva protagonizada por Adam West. Depois, veio a loucura do vigilante na sua incansável busca por vingança, com um storytelling mais rico e inovador, acompanhando as tensões dos anos 70. Mas em 1986 há uma grande mudança…

Nos últimos tempos, duas figuras centrais do universo Marvel (o outro gigante da edição de comics mundial, que também está a cumprir 75 anos este ano e de que darei conta mais adiante) mudaram. Thor, o Deus do trovão vai ser uma mulher e o Capitão América vai deixar de ser loiro para ser um negro. Há cinco anos, a Batwoman viveu a sua homossexualidade e há dois, a Marvel celebrou o seu primeiro casamento gay (na edição #50 da série Astonishing X-Men, Jean-Paul Beaubier, conhecido no universo Marvel como Northstar (Estrela Polar), pede em casamento o seu namorado, Kyle Jinadu, um jovem sem superpoderes). O Super-Homem já morreu e ressuscitou inúmeras vezes e Bruce Wayne também…“Estas inflexões narrativas são um golpe duplo: tira-se o fôlego aos fãs com a mudança drástica e reconquistam-se os seus corações um ano depois, devolvendo tudo à ‘normalidade’”, contextualiza João Lemos, ilustrador e autor de banda-desenhada português, que já colaborou com a Marvel. Apesar de, lembra, Batman também já ter tido outras vidas, nos chamados universos alternativos da DC (do Japão medieval a uma Gotham vitoriana, exemplifica), este ilustrador considera: “À noite, todas as silhuetas icónicas são pardas mas, a longo prazo, a história requer elementos como a duplicidade de um semi-diurno Bruce Wayne para se sustentar”. Ou seja, no fundo, a essência do homem-morcego é menos permeável a estes mecanismos de diversificação e mercado por parte das editoras. Mas uma dessas séries de histórias independentes mudou o Batman para sempre.

Com “The Dark Knight Returns” tudo mudou! Frank Miller (o mesmo de “Sin City” e “300”) reescreveu e redesenhou, com Klaus Janson a história de Batman numa minissérie em que o justiceiro aparecia mais velho (55 anos), Gotham inundada de crime e o Super-Homem em modo de perseguição ao homem-morcego em jeito de saído da reforma. Muitas outras histórias e momentos ajudaram a definir o Batman, mas “o que o Frank Miller fez é agora inseparável do ADN da personagem, que se tornou assim o contraponto lunar do solar Super-Homem”, defende João Lemos. Mudou a nossa percepção do que é hoje” a personagem. Batman tornou-se, com essa história, mais cruel, mais sádico e, por isso, mais real.

Batman é a prova de que não é preciso super-poderes para se ser um super-herói e sempre se reinventar. E este ano, todos os fãs estão a festejar os 3 quartos de século do homem-morcego. Apesar de ainda estar em fase de produção, o novo filme com a personagem, dessa vez vivida por Ben Affleck (e que ainda não se sabe se é uma participação em Superman 2 ou um crossover Batman VS Superman) só deve chegar aos cinemas em 2016. Contudo, até lá, os admiradores do universo do Cavaleiro das Trevas, tal como eu, podem acompanhar, numa nova série live action de televisão, a história das origens e do passado do Comissário Gordon, do Pinguim, do Enigma e outras personagens míticas, numa das cidades mais perigosas do mundo, Gotham. A série “Gotham” passa no canal FOX, às terças à noite e já estreou. Não percam, pois está muito bem conseguida!

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