Na passada semana, tive o prazer de ir à ante-estreia do filme “Rio, I love you”, ou “Rio, Eu Te Amo”, em português do Brasil. Trata-se de um novo episódio da série de filmes Cities of love, que já nos deu “Paris, je t’aime” e “New York, I love you”. Todos estes filmes têm servido como um menu de degustação, que oferece pequenas porções para conquistar o público de pratos maiores. Criada pelo francês Emmanuel Benbihy, esta série aposta sempre no turismo, oferecendo-nos várias experiências com a assinatura de reconhecidos realizadores. No caso de “Rio, Eu te Amo”, há toda uma estratégia económica, também usada por Paris e Nova Iorque, mas um pouco mais assumida. A empresa de cosméticos “O Boticário” aparece nos créditos iniciais e vai aparecendo ao longo do filme. Nada contra, até porque cada vez mais, o cinema tem de viver desses dinheiros…

Portanto, tal como os seus antecessores, temos também aqui uma manta de retalhos, de histórias e estórias, alinhavadas por realizadores como Vicente Amorim, Guillermo Arriaga, Stephan Elliott, Im Sang-soo, Nadine Labaki, Fernando Meirelles, José Padilha, Carlos Saldanha, Paolo Sorrentino, John Torturro e Andrucha Waddington, sempre com o Rio de Janeiro como pano de fundo, e abrilhantadas por actores como Fernanda Montenegro, Eduardo Sterblitch, Emily Mortimer, Basil Hoffman, Ryan Kwanten, Marcelo Serrado, Bebel Gilberto, John Turturro, Tonico Pereira, Roberta Rodrigues, Vanessa Paradis, Vincent Cassel, Bruna Linzmeyer, Rodrigo Santoro, Wagner Moura, Harvey Keitel, entre outros. Ao todo, “Rio, Eu Te Amo” reúne dez episódios, onde cada um revela um bairro e uma característica marcante da “cidade maravilhosa”.

Por serem muitas e uma mais ou menos interessante do que a outra, vou-me centrar apenas nas que mais me tocaram… Por exemplo, “Dona Fulana”, por Andrucha Waddington, onde um rapaz, que acreditava que a sua avó, que conhecera quando criança, estava morta, a vai reencontrar na rua. Dona Fulana (Fernanda Montenegro) mora na rua, e de lá não quer sair. Nem mesmo com os apelos do neto, ela recusa-se a voltar para casa, e ainda o leva a ter uma experiência inesquecível pela cidade. Já em “Acho que Estou Apaixonado”, temos um famoso actor internacional, Jay, que está no Brasil para divulgar o seu novo filme no Festival do Rio. Ele não vê a hora de voltar para o hotel e descansar, mas o seu motorista não pára de falar com ele e de o chatear. Quando Jay se depara com o Pão de Açúcar, fica deslumbrado e é atraído até ao ponto turístico. Aqui, Stephan Elliott, o realizador de “Priscilla, a Rainha do Deserto” optou por contar a sua própria história de amor no Rio de Janeiro, colocando Ryan Kwanten e Marcelo Serrado numa escalada, sem equipamento de segurança, para encontrarem o amor no topo…

Em “O Vampiro do Rio”, temos uma inesperada aparição. Com cenas interessantes, como vampiros a sambar no morro, é um dos trechos mais surpreendentes e o que mais jus faz à cidade. Fernando é um garçon de meia-idade, que trabalha num movimentado restaurante turístico. Ele mora no Vidigal e guarda um grande segredo, mas é apaixonado por Isabel, sua vizinha, uma mulher que trabalha como prostituta para sustentar a filha.

Com “Pas de Deux, temos a subtileza de Carlos Saldanha. Um casal de bailarinos está a ensaiar para um novo espetáculo, quando ele (Rodrigo Santoro) recebe um convite para se apresentar no estrangeiro. O jovem hesita em aceitar a proposta, com medo de prejudicar o seu relacionamento com a parceira. A faltarem poucos minutos para entrar no palco, a discussão sobe de intensidade, mas o show tem que continuar…

E em “O Milagre” temos ternura e humor por Nadine Labaki. Durante uma filmagem no Rio, um casal de actores conhece uma criança que acredita estar a receber telefonemas de Jesus. E mais não conto… Há mais histórias e todas acabam por nos surpreender.

“Rio, Eu Te Amo” não deixa de ser também um retrato de um certo Brasil. Uma mescla de talento e liberdade criativa, com mensagens institucionais, de arte com propaganda, de crítica social. É uma experiência interessante, que apesar de nem sempre estar bem rematada na soma dos seus trechos, talvez seja o filme mais genuíno de Cities of Love.

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