A cidade de Lisboa possui uma rede de metropolitano desde 1959. No entanto, tal empreendimento, que demorou mais de um século a ganhar forma, passou por vários projetos utópicos. Foi um processo longo e polémico, que começou no reinado de D. Luís e que desencadeou debates e paixões. Não foi fácil… Por todo o mundo, eram poucas as cidades que já possuíam este transporte coletivo urbano. A primeira cidade a inaugurar uma rede de metropolitano foi Londres, a 10 de Janeiro de 1863.

Mas recordemos… A primeira proposta para construir um metropolitano de Lisboa surgiu em 1855 e previa um traçado que ligasse Santa Apolónia a Algés, com passagem pelo Rossio, São Bento, a Rua das Janelas Verdes e Alcântara. O custo do empreendimento estava orçado em 500$00 reis por metro corrente de túnel, mas a proposta não avançou. Em Maio de 1888, é apresentado pelo Engenheiro Militar Henrique Lima e Cunha à Associação dos Engenheiros Civis Portugueses um novo projeto para o metropolitano. Por razões económicas, o projeto que previa uma extensão de 14 quilómetros, com cerca de 14 estações, passando pelas freguesias mais populosas da cidade de Lisboa (Alcântara, Rato, Largo do Intendente e Cais dos Soldados), não chegou a ser aprovado. A 16 de Maio de 1922, três comerciantes moradores em Lisboa, interessados na concessão do metro, entregam na Câmara Municipal um requerimento onde propõem desenvolver, a expensas próprias, os estudos e orçamentos necessários. A proposta previa que a rede do metropolitano fosse constituída por duas linhas de via dupla subterrâneas, que iriam de Alcântara ao Rossio e de Alcântara aos Caminhos-de-Ferro. A rede, com um total de 8,6 quilómetros, teria 11 estações, com capacidade para composições de quatro carruagens. A via férrea deveria ter a mesma bitola dos elétricos que já circulavam na capital, de forma a permitir a circulação do metro nas linhas da Carris. Eis aqui mais uma proposta que não avançou...
No entanto, dois anos mais tarde, quando a construção de uma rede de metropolitano parecia já um dado irreversível, a Câmara Municipal de Lisboa, presidida na altura por Agostinho Inácio da Conceição Estrela, lança um concurso público destinado à concessão e exploração de uma rede de metropolitano. O projeto - o mais complexo até à época - passava pela construção de oito linhas, com um total de 26,8 quilómetros. É recebida a única proposta que dera entrada, da autoria de dois espanhóis, de Madrid. Mas o projeto acabaria também por ser anulado, devido a uma divergência de critérios propostos para a concessão.

Já no início de 1925 é lançado um novo concurso e, em Abril do mesmo ano, a autarquia de Lisboa, entretanto presidida por Albano Augusto de Portugal Durão, aprova a adjudicação aos madrilenos. O estudo económico e financeiro partia do pressuposto de que seria possível que a rede de metropolitano conseguisse transportar, por ano e por quilómetro de via dupla, cinco milhões de passageiros. Contudo, em 1926, depois de a Câmara de Lisboa ter indeferido um requerimento entregue pelos espanhóis, onde os concessionários do metropolitano sugeriam alterações ao contrato, a sociedade madrilena informa que desiste do processo de construção… Até 1945, a construção de uma rede de metropolitano em Lisboa parecia ter ficado esquecida. Mas nesse ano, são apresentadas mais três propostas para a construção da rede subterrânea.

E eis que, finalmente, o sonho se transforma em realidade… No final da II Guerra Mundial, perante a retoma da economia e a ajuda do Plano Marshall, surge novamente a ideia de se construir uma rede de metropolitano em Lisboa. E a 26 de Janeiro de 1948, é lavrada a escritura de constituição de uma nova sociedade, Metropolitano de Lisboa, S.A.R.L, bem como a escritura de concessão à Sociedade do exclusivo do estudo técnico e económico do Metropolitano. A 1 de julho de 1949 é outorgada a concessão para a instalação e exploração do respetivo serviço público. Em 1950, os projetos das obras do Metro no que respeita a galerias, estações, montagem de via, instalações de ventilação e abastecimento de energia e de sinalização prosseguem e, no final do ano, é aprovado, oficialmente, o projeto do troço entre Sete Rios e Rotunda, assim como o ramal das oficinas.

Em Setembro de 1954, o Engenheiro Francisco de Mello e Castro é nomeado presidente do Metro (cargo que desempenhou até ao final de Agosto de 1972). E no dia 18, é aberto o concurso para adjudicação das obras, material circulante e instalações fixas. As propostas são abertas em Dezembro e conduzem a um encargo total de 196 mil contos. Sete anos decorridos desde os estudos preliminares, a 11 de Julho de 1955 procede-se à assinatura dos contratos referentes à execução do primeiro escalão da rede do Metropolitano de Lisboa. E a 1 de Agosto arrancam, finalmente, os trabalhos de construção do Metro.
Quatro anos depois do arranque das obras e mais de um século após a primeira proposta, as obras do Metropolitano de Lisboa ficam praticamente concluídas e é testado o novo meio de transporte da capital. A primeira geração de material circulante foi a ML70 e o primeiro troço da rede teve como arquiteto Keil do Amaral e a intervenção plástica da artista Maria Keil do Amaral, com exceção da estação da Avenida, que foi intervencionada por Rogério Ribeiro.

A 29 de Dezembro de 1959, assiste-se à inauguração oficial da rede do Metro, que consistia numa linha em Y, com uma extensão de 6,5 quilómetros, percorridos por 24 comboios, e 11 estações, com dois troços distintos, Sete Rios (atualmente Jardim Zoológico) e Entre Campos – Rotunda (hoje Marquês de Pombal) – Restauradores. A estação da Rotunda permitia a correspondência entre os dois troços. As composições eram constituídas por duas carruagens. O Metropolitano de Lisboa foi oficialmente inaugurado pelo seu Presidente D. Francisco Manuel de Mello, tendo como convidado o Cardeal Cerejeira que abençoou este transporte, bem como esteve presente o Presidente da República, Almirante Américo Tomás.

Antes, no dia 22 de Dezembro de 1959, a imprensa estava dominada pelos títulos centrais em letras apelativas que anunciavam que “O Metropolitano é inaugurado dia 29”. Uma realidade que se materializava, finalmente, após tantos anos de obras que mudaram a face de Lisboa. Obras essas envoltas em polémica e descrença em relação à utilidade e importância, para a cidade, de um transporte como aquele “debaixo da terra”. Razão pela qual, em 1957, o Metro iniciara a edição de folhetos intitulados “Manual do Mirone”, onde constavam as características do, então, futuro metropolitano e os métodos de construção.

Nos dias que antecederam a tão aguardada abertura deste novo inovador meio de transporte, os lisboetas muito conversavam como referia o Diário Ilustrado: “O Metropolitano de Lisboa ainda não está a funcionar e é já um centro social lisboeta”. Ninguém estava indiferente a esta tão grande inauguração!

No dia seguinte, a 30 de Dezembro de 1959, dia da abertura ao público, por volta das três horas da manhã, existiam filas intermináveis à porta das estações para utilizar o novo meio de transporte. A afluência foi tanta que algumas estações foram obrigadas, por motivos de segurança, a cancelar temporariamente a venda de bilhetes, de forma a que os passageiros não invadissem o cais. A população, que acudiu em massa ao Metropolitano, fez deste dia não apenas um dia com uma nova modalidade de deslocação, mas todo um divertimento. Entre as principais atrações, estavam as escadas rolantes da estação do Parque. Imagine-se… Portanto, a curiosidade das primeiras escadas rolantes, a magia da técnica, o fascínio de todo um espaço labiríntico moveu, vigorosamente, toda a cidade, permitindo a entrada em todo um novo mundo.

O Metropolitano de Lisboa surgiu para colmatar o problema de tráfego na grande cidade. E hoje, mais do que nunca, percebe-se a sua necessidade. 55 anos depois, o Metro conta com 55 estações. Números coincidentes de sucesso! Parabéns Metro!!!

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