Clint Eastood realiza esta adaptação ao cinema da autobiografia de Chris Kyle, interpretado por um excelente Bradley Cooper. Com cerca de 160 mortes no currículo, Kyle foi considerado "o mais letal atirador da história do exército dos EUA". Coube ao actor encarnar a complexidade desta singular e real personagem…

O filme começa na altura em que Kyle, em criança, aprende a disparar com o pai, numa caçada. Este, por seu turno, transmite-lhe nesta fase uma importante filosofia de vida, em jeito de fábula. No seguimento de um confronto na escola, onde intercedeu para defender o irmão de um bully mais velho, Kyle aprendeu a diferença entre ser uma "ovelha", potencial vítima ao longo da vida, um "lobo", prepotente perante os outros e um "cão-pastor", capaz de proteger o rebanho dos predadores. Era este o seu caso no episódio escolar.

Esta ideia passa a ser linear e crucial ao longo da vida de Kyle, fazendo-o alistar-se no Exército americano, após ver na televisão os ataques terroristas a embaixadas norte-americanas em África (Quénia e Tanzânia) e, a gota de água, o ataque de 11 de Setembro às torres gémeas. Kyle aplica-se na perícia em tiro e num profundo sentido de proteção, quando passa a apoiar as missões militares no Iraque, transformando-se rapidamente num símbolo nacional, fama que lhe colocou a cabeça a prémio nos territórios onde atuava. Ao longo de quatro missões que decorrem em três anos, dois conflitos paralelos vão sendo desenvolvidos. O primeiro, com um sniper sírio ao serviço do Iraque, uma assombração competitiva para Kyle, que se vê superado e frustrado no seu instinto de protecção, e um segundo, com a sua mulher, sempre que regressava a casa, quando demonstrava uma extrema dificuldade em fazer-se presente enquanto marido e pai.

Clint Eastwood continua, com este filme, a deixar-se seduzir pela adaptação de histórias reais para o cinema. Depois de “Invictus”,” J. Edgar” e” Jersey Boys”, Eastwood conta-nos em “Sniper Americano” a história de um texano que ganhou a alcunha de "Legend" ao tornar-se o atirador furtivo mais letal da história do exército americano. A narrativa de Eastwood é baseada no livro de Kyle “American Sniper: The Autobiography of the Most Lethal Sniper in U.S. Militar History”, que ficou 18 semanas na lista de best-sellers do New York Times, sendo 13 em primeiro lugar, mas (que conste que não li o livro), arrisco a dizer que o filme fique aquém das dimensões políticas e do inconsciente humano que poderia explorar e desenvolver. Ao invés disso, faz uso repetido das várias missões militares, cumprindo à risca, cronológica e geograficamente, o percurso de Kyle...

Bradley Cooper, por seu turno vê o perfil da sua vida profissional a se elevar. Depois de se tornar colaborador frequente de David O. Russell e de garantir notoriedade desmedida na série de comédias “A Ressaca”, ele lá tomou fôlego e vive agora bafejado pelo sucesso. Na Broadway, rendem-se, com ovações, quando surge no palco, com aspeto deformado, em “O Homem Elefante”. Esta semana, mais uma coroa de louros: o filme “Sniper Americano” quebrou recordes de audiência na sua estreia americana, isto depois de ter arrecadado uma espantosa soma de nomeações para os Óscares – incluindo a de Melhor Actor. O desempenho de Cooper é irrepreensível. Não é apenas o menino bonito de olhos azuis… O actor até engordou para ficar mais fisicamente parecido com o verdadeiro Kyle e fez um trabalho de voz notável e, claro, a sua presença dentro da narrativa é admirável.

Voltando ao filme, membro das Forças de Operações Especiais da Marinha dos Estados Unidos, Chris Kyle salva inúmeras vidas no campo de batalha com a sua precisão. Ele serve por quatro angustiantes vezes no Iraque, levando à letra o lema “não deixar ninguém para trás”. Mas ao regressar para a sua mulher, Taya Renae Kyle (Sienna Miller) e para as crianças, Kyle descobre que é a guerra que, afinal, ele não consegue deixar para trás… “Sniper Americano”, um filme que merece ser visto!

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