Não é fácil falar de um filme que acaba de estrear e que divide muitos… Quando nem sequer me atrevi a ler o livro que lhe serve de base. Apenas sabia que se tratava de uma história de dominação e submissão entre Christian, um jovem e solitário multimilionário, e Anastasia, uma tímida universitária. Mas “As Cinquenta Sombras de Grey” é a adaptação cinematográfica mais aguardada, dos últimos tempos, do livro best-seller que se tornou um fenómeno global. Desde o seu lançamento, a trilogia "Cinquenta Sombras" foi já traduzida em 51 idiomas em todo o mundo e vendeu mais de 100 milhões de cópias, tornando-se uma das séries de livros mais vendida de sempre. As principais sessões de cinema no fim-de-semana de estreia, principalmente o Dia dos Namorados, estão praticamente esgotadas, um pouco por todo o país. Numa iniciativa inédita de pré-vendas, que arrancou dois meses antes da estreia, a 13 de dezembro, já foram vendidos 47.342 bilhetes para “As Cinquenta Sombras de Grey”. O trailer foi também um dos mais vistos de sempre e o filme promete agora vir a ser um êxito de bilheteira.

O romance erótico da autora inglesa Erika Leonard James foi publicado em 2011 e conta a história de paixão entre uma jovem e inexperiente estudante de Literatura, Anastacia Steele, e um milionário carismático, presidente de uma poderosa empresa, Christian Grey. O filme foi realizado também por uma britânica, Sam Taylor-Johnson e conta com Dakota Johnson e Jamie Dornan nos principais papéis. Os papeis de protagonista podem valer a ambos o passaporte para a primeira liga de Hollywood. Quanto a Jamie Dornan, cedo, este outrora modelo, apaixonou-se pela representação. O seu primeiro trabalho, como actor profissional, foi em «Maria Antonieta», realizado por Sofia Coppola. Ao elenco juntam-se ainda, entre outros, Luke Grimes, como Elliot, o irmão de Christian; Eloise Mumford como Kate, melhor amiga e companheira de quarto de Anastasia; Marcia Gay Harden como Drª Grace Trevelyan Grey, a mãe de Christian; a cantora Rita Ora como Mia, irmã de Christian; Callum Keith Rennie como Ray, o padrasto de Anastasia; Jennifer Ehle como Carla, mãe de Anastasia; e Dylan Neal como Bob, o marido de Carla. “As Cinquenta Sombras de Grey” foi produzido por Michael De Luca e Dana Brunetti, em parceria com E L James, a criadora da série. Kelly Marcel foi a responsável pelo argumento do filme.

Mas, parece que as cenas de sexo em "50 Sombras de Grey" deixam muito a desejar… As primeiras críticas arrasam o filme, sobretudo pela falta de nudez e... sexo. A maioria das críticas publicadas lamentam a falta de sexo, de genitais à vista e de orgasmos, ao contrário das descrições bem explícitas que constam no livro. Por exemplo, o “Entertainment Weekly” escreveu: "Ninguém no filme mostra os genitais. Christian em particular parece fazer muitas coisas sem camisa mas com as calças vestidas, o que não pode ser confortável para um jovem tão ativo". E o que Lisa Schwarzbaum considera mais frustante é que "ninguém transpira, ninguém se empenha, ninguém perde o controlo ou mesmo finge perder o controlo fingindo um orgasmo". Já o Fox News escreve: "Medíocre" é a palavra usada por Justin Craig, que descreve o filme como "moderado" no que toca às cenas de sexo explícito. "Vêem-se cenas mais perturbantes em "Saw" ou na "Guerra dos Tronos." "A realizadora Sam Taylor-Johnson trata o filme tão seriamente como se fosse um cadáver", acrescenta.

De facto, em “As Cinquenta Sombras de Grey” há (e tinha de haver) algumas diferenças entre o livro e o filme. Por isso, o site Huffington Post já enumerou algumas das diferenças. Vejamos as principais, sintetizadas:
- Regras sobre comida e exercício: Quem leu o livro sabe que Ana tinha, no contrato, cláusulas sobre comer regularmente e exercitar-se, algo bastante importante até no livro e que origina várias cenas. No filme, contudo, nada é mencionado.
- O primeiro espancamento: Depois das primeiras palmadas que Ana recebe por parte do seu querido Christian, o protagonista sai de casa, deixando a jovem em lágrimas. Contudo, na história original ele regressa e tenta confortá-la, coisa que não acontece na versão cinematrográfica, onde ele não regressa.
- As bolas Ben Wa: No livro, Christian dá a Ana uma experiência sensorial inesquecível através da mistura das bolas Ben Wa, seguidas de uma sessão de espancamento que, no final, leva ao seu orgasmo. No filme, não há referências a esta cena, que foi a primeira em que Ana desfrutou, realmente, do sadomasoquismo.
- A deusa interior: No livro, Ana está constantemente a falar da sua “deusa interior”, algo que acabou por levar à saturação alguns fãs dos livros. Para alívio desses leitoras, não há menção à deusa interior no filme.
- O espelho no tecto: Na primeira vez que Christian e Ana se envolvem sexual, e que Ana perde a virgindade, pode ver-se o espelho no tecto do quarto de Christian. Nada disto é descrito no livro de E.L.James.

Mas então, o que podemos esperar do filme? Um sociopata e uma sonsa, em 120 minutos de dança de acasalamento? De facto, o filme é algo asséptico e automatizado, pois só assim o sexo poderia ser bem aceite em qualquer sala de cinema. O problema é que, como típico produto do cinema americano mainstream, o filme, por mais ousado e atrevido que queira parecer, acaba por deixar cair a máscara e faz do fetiche uma patologia. Mas não se enganem: “As cinquenta sombras de Grey” não é apenas sobre sexo — e é surpreendentemente bom.

Na maior parte das vezes, é extremamente difícil adaptar um romance popular para o grande ecrã e o que temos aqui é um grande best-seller, recheado com ação sadomasoquista — isto numa altura em que os filmes de Hollywood se tornaram todos “moles”, sem sexo. Eis que as luzes se apagaram e adivinhem? “As cinquenta sombras de Grey” acabou por não ser apenas divertido, mas um filme que também sabe exactamente o que está a fazer. Considerando que o romance trata a relação de Anastasia Steele e Christian Grey com a devida seriedade, Taylor-Johnson e a argumentista Kelly Marcel viram o que podia ser engraçado nesse cenário fetichista. Portanto, o romance foca essencialmente o bondage. Já o filme centra-se mais no facto de Anastasia tentar resgatar o psicologicamente retorcido Grey, tentando ensinar-lhe como amar, em parte por o ir encontrando na metade do caminho dos seus estranhos desejos. Isto até poderia tornar o filme piegas, mas não. E o que o torna envolvente e cativante é Dakota Johnson, uma atriz de charme indescritivelmente estranho, que aplica a habilidade em trazer uma personagem finamente delineada para a vibrante vida. Canalizando tanto as habilidades de seu pai, Don Johnson, e de sua mãe, Melanie Griffith, ela consegue fazer duas coisas opostas ao mesmo tempo. Mesmo quando ela encontra no estilo sexual de Grey um sabor bastante divertido, em cada gesto e expressão ela vai revelando que também o pode excitar. Parece que, com “As cinquenta sombras de Grey”, Dakota Johnson se tornou numa estrela de cinema…


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