Esta foi uma ante-estreia difícil pra mim… Tinha a certeza de que me iria afectar, como me afectou, devido ao facto de a minha mãe possuir demência há 4 anos. Mas também pensei ter um efeito catártico, e teve. Mas centremo-nos no filme. Aos 50 anos, Alice Howland (Julianne Moore) era uma mulher realizada: tinha um casamento feliz, os filhos bem crescidos e uma carreira prestigiante como professora universitária. Tudo lhe corria de feição até ao momento em que começou a esquecer-se de palavras básicas e a baralhar-se com as coisas mais simples do dia-a-dia. Após efectuar alguns exames, recebe o terrível diagnóstico: encontra-se num primeiro estádio de Alzheimer precoce, um tipo de demência que provoca uma deterioração progressiva e irreversível da memória, atenção, concentração, linguagem e pensamento. Consciente do que o agora nebuloso futuro lhe reserva, Alice fica determinada a viver um dia de cada vez e a tentar superar cada contrariedade, com a maior tranquilidade possível. Deste modo, vai vivendo cada momento sabendo que, em breve, a doença vai alterar totalmente a forma como percepciona o mundo – e como o mundo a vai percepcionar a ela…

“A arte de perder não é nenhum mistério”, escreveu Elizabeth Bishop no poema citado por Alice, aquando do seu discurso num congresso sobre Alzheimer, com médicos e pacientes. Alice, outrora professora de Linguística na Universidade de Columbia, foi fazer a sua apresentação já diagnosticada com Alzheimer e lá arranjou uma maneira de conseguir ler o texto que preparou, sobre a sua angústia, sem perder o fio à meada: com um marcador fluorescente ia sublinhando o que ia lendo. A arte de perder a memória é o que Alice aprende, seja com questionários no telemóvel em que pergunta a si própria o nome da filha mais velha ou o mês em que faz anos, seja com um vídeo, em que fala para o seu eu do futuro…

Da lista das várias enfermidades que afectam o ser humano numa altura suposta e geralmente mais avançada do seu tempo de vida, o Alzheimer, a manifestação mais comum de demência, está, certamente, no topo das mais aterradoras, acima até de um AVC/ataque cardíaco, pois, ao menos, este é imediato, cerca de 99% das vezes. Ainda sem cura, quem dele padece é obrigado a ver folhas da sua vida rasgadas de forma aleatória, primeiro memórias de um verão passado, nomes de objetos, depois os nomes dos próprios familiares, até se deparar com um completo vazio identitário.

Com realização e argumento de Richard Glatzer e Wash Westmoreland, “O Meu Nome é Alice” é uma história dramática que adapta o "best-seller" homónimo, escrito em 2007 por Lisa Genova, professora da Universidade de Harvard e doutorada em Neurociência. O elenco conta, para além de Julianne Moore, com a participação de Alec Baldwin, Kristen Stewart, Kate Bosworth e Shane McRae. Filme de uma violência psicológica intensa, sobretudo para quem, como eu, possui familiares nesta situação, “O Meu Nome é Alice” é também sublime na forma como mostra a decadência da pessoa com Alzheimer, graças à extraordinária performance, digna de um Oscar, por parte de Julianne Moore.

São filmes como este que nos mostram a dura realidade do Alzheimer. E “O Meu Nome é Alice” acaba por nos apanhar de surpresa, pois mostra o desespero que é ir perdendo a memória até começar-se a desaparecer por completo... Por isso, independentemente das nossas histórias pessoais, considero ser este um filme a não perder.

Etiquetas:

Comente este artigo