Copos sexy, cheios com bebidas elegantes, saborosas e misteriosas. Bares de gin a aparecer como cogumelos, uma revista dedicada exclusivamente à bebida, um evento, o Gin Tasting, que voltou a ter uma edição na semana passada, várias marcas nacionais a nascerem… É, o gin é a bebida da moda e, para muita gente, é muito mais do que isso! Sejam adeptos ou não, há que reconhecer esta tendência que tem vindo a assolar o país. Mas o que aconteceu aos portugueses para, num ápice, andarem todos com um copo-balão gelado na mão? A verdade é que o gin tónico nem sempre foi esta "febre" em Portugal e raras eram as vezes em que era realmente bem servido. Cometiam-se muitos erros, como deitar a garrafa de gin para dentro do copo e tirar espaço à água tónica. Mas agora, o país parece ter-se rendido a esta bebida destilada, obtida a partir de cereais como milho, trigo e cevada e, posteriormente, aromatizada com “botânicas”, com a presença obrigatória do zimbro. Trata-se de um cocktail e, como tal, obedece a regras e a números precisos, tal como qualquer receita. Não é à toa que a “cocktelaria” seja equiparada à pastelaria. Ora, foi a negligência dessas “regras” que veio desacreditar o gin e a ser preterido por outras bebidas destiladas, como a vodka ou o whisky.

A revitalização do gin é recente e data de 2007 e 2008. A vizinha Espanha foi responsável por dar-lhe uma lufada de ar fresco. Tudo porque, nas cozinhas de Madrid e de Barcelona, devido a serem muito quentes, os chefs começarem a beber, ao final do dia, água tónica, com muito gelo, em copos grandes, para se refrescarem. A partir daí, foi uma questão de tempo até alcançarem a fórmula perfeita para o gin tónico. E esta versão “moderna” de gin tónico saltou a fronteira, começando a difundir-se no Norte. Na altura, o “Gin Club”, que actualmente se chama “The Gin House”, localizado no Porto, foi um dos primeiros impulsionadores. Na capital, essa função deveu-se à “Taberna Moderna”, que se lembrou de servir o gin como parte integrante da refeição.

Agora, os bares que servem a bebida em questão são mais que muitos e aqueles que a procuram, idem. Certamente, a vinda de muitas marcas estrangeiras, que continuam a proliferar, veio ajudar. Mas o mais relevante desta tendência é o surgimento de marcas portuguesas. Primeiro, chegou “Big Boss” e a seguir, a “NAO” (gin envelhecido em pipas de vinho do Porto). A “Templus”, que afirma ser o primeiro gin biológico da Península Ibérica, não tardou muito a chegar e foi logo precedida pela “Sharish”, proveniente de Monsaraz. No início deste ano, o empresário Pedro Miguel Ramos lançou o seu “Amo-te.Gin”, no qual se realça a conjugação da rosa, coentro, flor de laranjeira, poejo e o zimbro da Serra da Estrela. E também chegou aos escaparates o “Wild Snow Dog”, destilado de zimbro da Serra da Estrela e de mais nove botânicos: angélica, coentro, amêndoa, rosa, kumkuat, noz-moscada, cássia, canela e casca de limão. Também neste ano, surgiu um novo Gin nacional no mercado: “Tinto”. E há poucos dias atrás, nasceu o “Gin Nautilus”, um gin “com sabor a mar”. De realçar que este gin, do mesmo produtor do “Templus” e com tripla destilação, é aromatizado com algas da Ria de Aveiro. Foi lançado a 21 de Maio e já tem encomendas de diversos países. Será caso para dizer que o gin também tem alma nacional?

O certo é que, hoje em dia, qualquer bar que se preze tem de ter várias marcas de gin e aquele que não servir gin tónico, pode crer, está condenado ao insucesso. Segundo o entendido de gins, do colectivo Gin Lovers, e autor (juntamente com Daniel Carvalho) do “Primeiro Livro Português sobre o Mundo do Gin - Vamos Beber um Gin?”, o jornalista Miguel Somsem, o grande problema do país ao nível do gin reside na falta de formação existente no mercado. “Os clientes, às vezes, sabem mais do que os bartenders. A maior revolução que precisa de ser feita é ao nível do serviço”.

Uma parte de gin para quatro partes de água tónica. Um copo grande, com capacidade superior a 60cl, muitos cubos de gelo, de preferência, de água mineral, especiarias ou cascas de limão ou laranja a infundirem. Uma receita simples que veio revolucionar o gosto por esta bebida por parte dos portugueses, quando antes um gin tónico era apenas isso, um gin tónico, a água tónica era a que havia e o preço era mais acessível do que um whisky ou do que um cocktail. Mas hoje as coisas mudaram a valer! E já ninguém gosta de beber gin num copo vulgar…

E o gin tónico é pedido de acordo com ingredientes específicos, ao gosto do consumidor: clássico (predominante de zimbro com um toque picante); cítrico (dominado pelos aromas de laranja, limão ou tangerina); spicy (reforçado com sementes de coentros, raiz de lírio, canela, cardamomo, pimenta e noz-moscada); ou herbal (com tomilho, hortelã, alecrim ou manjericão). Já para não falar da água tónica, que deixou de ser um mero líquido gasoso adocicado para diluir o álcool para passar a ser tão importante (ou mais, dizem os entendidos) do que o próprio gin. Uma boa tónica tem a capacidade de transformar um gin razoável num bom gin, mas uma má tónica tem o condão de transformar um bom gin num mau gin. Acreditem! E até aqui, os consumidores estão mais atentos…

Posto tudo isto, qual o futuro do gin tónico em Portugal? Miguel Somsen explica que essa é uma questão recorrente. E defende: “É uma bebida que está a dar. Está na moda e a moda renova-se, não desaparece. O gin terá de se renovar, caso as pessoas queiram continuar a bebê-lo. É, realmente, uma bebida com muita vida”. Acrescentando: “Os gins premium não são conversa, são um produto de qualidade gastronómica. O gin premium vai abrir a porta a mais produtos premium na área dos destilados e alimentação. Sim, os hambúrgueres também estão na moda. Mas algum de nós acredita que daqui a dez anos voltaremos a comer apenas hambúrgueres congelados? Não me parece”.

Anotem na agenda: o Dia Nacional do Gin Tónico assinala-se a 27 de Junho. Mais info em www.ginlovers.pt

E termino, com a receita para um gin tónico “standard”:
É preciso um copo-balão grande, uma colher alta e um doseador. É indispensável um bom gin (nem mais!), gelo, água tónica, um citrino (lima, laranja ou limão) e algumas especiarias (por exemplo zimbro, pimenta-rosa, cardamomo… etc).
1. Pressionem a casca do citrino contra o copo para espalhar os óleos.
2. Encham o copo de cubos de gelo e deixem gelar o copo. No fim, retirem a água que derreteu.
3. Adicionem 5cl de gin para cada 20cl de água tónica; vertam a água tónica pelo cabo da colher para perder menos gás.
4. Juntem as especiarias: três a quatro bagas de zimbro esmagadas; pimenta-rosa ou pimenta-de-sichuan.
5. Misturem com a colher... e desfrutem com amigos!!!
(e podem ir variando com outros gins, outras águas tónicas e outras especiarias).

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