Bom, há 31, mais exactamente. Mas, inexplicavelmente, passou-me ao lado, no ano passado, o aniversário de um dos videojogos mais populares do mundo. Conhecido também como “o jogo de mente soviético”, a história do Tetris começou durante o período de Guerra Fria na URSS, quando os russos Alexey Pajitnov e Dmitry Pavlovsky trabalhavam no Centro de Computadores da Academia Russa de Ciência, em Moscovo.

Nessa altura, Alexey tentava levar para os ecrãs de computador o seu jogo favorito de Tetraminós. Este jogo de tabuleiro é composto por várias formas criadas com pequenos quadrados idênticos, e onde o objetivo é preencher uma área sem deixar espaços vazios. No fundo, é um puzzle mental. Com a ajuda do seu colega de trabalho, Dmitry Pavlovsky, eles acabaram por criar um simples jogo virtual com gráficos muito básicos e sem som. O jogo foi adaptado para o sistema Electronica 60. Ainda numa fase embrionária, o conceito deste projeto assentava em ir buscar todos os elementos dos puzzles com Tetraminós, adicionando algumas variáveis, como a gravidade e a imprevisibilidade da peça a usar a seguir. O jogo adicionava ainda um elemento de dificuldade: o aumento da velocidade à medida que as peças caiam. O objetivo para passar de nível era simples, criar linhas horizontais completas, que iam sendo eliminadas, abrindo espaço no ecrã para novas peças encaixarem. Caso fossem deixados espaços em aberto, a linha incompleta permanecia até que o “buraco” fosse preenchido.

Nesta altura de desenvolvimento, o jogo estava praticamente feito, tal como o conhecemos, com quase todas as mecânicas, mas eis que faltava o mais importante: o nome. Pajitnov “resolveu” este problema de uma maneira simples, agarrou nos Tetraminós e no seu desporto favorito, o Ténis, e assim nasceu o Tetris.
Vadim Gerasimov, foi também um elemento importante para a história do Tetris. O estudante da Academia Russa de Ciências, aproveitou os seus conhecimentos de programação e converteu o projeto de Pajitnov para computadores da IBM. A partir daqui, o Tetris tornou-se um fenómeno, pois os colaboradores do Centro de Computadores ficaram completamente viciados com o videojogo, ao ponto de colocarem em causa o seu trabalho.

No verão de 1985, o jogo, que continuava em desenvolvimento, recebeu cores. Esta atualização levou o jogo para as “ruas” de Moscovo e tornou-o ainda mais popular. O Tetris acabou, depois, por chegar a Budapeste, na Hungria, onde uma empresa de software inglesa o ficou a conhecer. Na altura, Pajitnov trabalhava para o governo soviético, por isso a sua propriedade intelectual pertencia ao Estado. Tal facto fez com que Pajitnov demorasse anos até receber qualquer tipo de receitas da sua criação… Mas na época, Pajitnov não tinha noção de que o Governo se podesse apoderar da sua propriedade intelectual. O Tetris tornou-se, assim, um catalisador de uma guerra de direitos entre a empresa governamental russa ELORG e algumas empresas ocidentais.

No meio destas batalhas legais, em 1986, apareceu nos Estados Unidos uma versão do Tetris para PC, que supostamente seria oficial. Este foi o primeiro jogo soviético a chegar ao público americano e foi comercializado como um símbolo cultural russo. Até então, era completamente diferente de tudo o que era comercializado nos E.U.A., onde o mercado estava saturado de videojogos de tiros, corridas e plataformas em vez de jogos que requeriam o uso da mente. Tal como todos os que já tinham experimentado o jogo antes, os jogadores ocidentais ficaram “colados” a esta novidade e o Tetris tornou-se extremamente popular. No entanto, ainda ninguém tinha direitos sobre o jogo.

Ao fim de alguns anos de batalhas legais entre empresas, incluindo a Atari, foram Henk Rogers e a Nintendo que conseguiram ficar com os direitos do jogo, em 1989. Com esta vitória, a Nintendo lançou o Tetris incluindo-o na sua consola NES e no popular GameBoy, com o objetivo de atrair mais consumidores. A versão de GameBoy apresentava-se sem cor e mas já incluia o seu tema icónico. Esta versão acabava por ser a mais parecida com o original de Pajitnov.
Para Pajitnov, 1996 foi um ano em grande, pois começou, finalmente, a receber royalties quando os direitos do jogo começaram a reverter para ele, em vez do governo russo. Aliou-se a Henk Rogers e ambos criaram a Tetris Company para tratar do licenciamento do jogo nos E.U.A., e começou a trabalhar na Microsoft, depois de se mudar para os E.U.A. cinco anos antes.

A popularidade do jogo foi-se alastrando ao longo dos anos e a febre do Tetris não tinha fim. O jogo até se tornou objeto de estudos científicos, onde alguns concluíram que demasiado tempo de exposição ao jogo fazia com que os jogadores vissem o mundo como peças de Tetris em termos de organização e de como tudo se pode encaixar. Essas reações ao jogo foram categorizadas como uma forma de alucinação chamada “O Efeito Tetris”. Saltando no tempo até 2012, o jogo foi passou a ser visto como terapia, prevenindo sintomas de stress pós-traumático.

Desde a sua criação, o Tetris tornou-se um fenómeno que se expandiu a diferentes culturas, raças e que atraiu não só jogadores, mas quase toda a gente. É, sem dúvida, um dos clássicos dos jogos eletrónicos e, mesmo passadas três décadas, em que se venderam mais de 170 milhões de cópias, continua a agradar a miúdos e graúdos. Durante todo este tempo apareceram centenas de imitações, versões alternativas e até melhorias do jogo, que são hoje acessíveis em quase todos os dispositivos eletrónicos e que continuam a vender milhões de cópias afirmando que foi e continua a ser um dos jogos mais populares da história dos videojogos. Trinta anos mais tarde e depois de já ter passado por todas as plataformas, o popular e viciante jogo mantém-se presente nas consolas de última geração. Quem nunca o jogou?


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