Como sabem, gosto muito de contar “histórias”, de mostrar coisas novas ou reflectir sobre algo comum, mas de que muitos poucos sabem. No fundo, de contribuir para um melhor conhecimento sobre algo que me desperta a curiosidade ou me apraz. Por isso, eis-me agora a falar do Cavalo Lusitano. Uma raça equestre tão nossa mas, fora os aficionados, de que muito se desconhece… E se nós por cá temos muitos produtos magníficos bem reconhecidos, o Cavalo Lusitano é um deles. Sabiam que foi este cavalo que deu origem à lenda grega do Centauro, quando por aqui homens e cavalos se confundiam num só? Pois é!

O puro-sangue lusitano (PSL), uma raça de cavalos com origem em Portugal, é o cavalo de sela mais antigo do Mundo, sendo montado aproximadamente há mais de 5.000 mil anos. Tem ancestrais comuns aos da raça Sorraia e Árabe. Estas duas raças que formam os denominados cavalos ibéricos, evoluíram a partir de cavalos primitivos existentes na Península Ibérica, dos quais se supõe descenderem directamente do pequeno grupo da raça Sorraia ainda existente. Pensa-se também que essa raça primitiva foi cruzada com cavalos "Bereber", oriundos do Norte de África e, mais tarde, sofreram igualmente influência do árabe.

Portanto, o cavalo Lusitano é o descendente directo deste cavalo Ibérico, antepassado de todos os cavalos que estiveram na base da equitação em todo o mundo, desde a Europa ao Norte de África, à Ásia Menor, à Índia e à China. Graças ao isolamento desta zona da Europa, aqui sobreviveu e evoluiu desde há cerca de quinze mil anos, tornando-se num cavalo extraordinário quase completamente livre de influências estranhas até há bem pouco tempo. Este cavalo constitui hoje uma preciosa herança genética da Andaluzia e de Portugal.

Este singular cavalo veio expandir-se por toda a Europa, Ásia e Norte de África, sendo usado ainda no século XVIII como melhorador universal. É só nos séculos XIX e XX que vem a sofrer diversas infusões de sangues estranhos, em consequência da necessidade de maior força de tracção. Foram apenas duzentos anos, mas o efeito “abastardou” dramaticamente o original, tendo-lhe dado maior dimensão e peso, retirando-lhe ligeireza. Há quem diga que o psiquismo também se degradou, perdendo-se “finura”, ardência, vibração e o “desejo de adivinhar a vontade do cavaleiro”…

Podem ter-se degradado parte das suas características originais, mas na natureza nada se perde, tudo se transforma. E se chegámos onde chegámos, com cavalos maiores e melhores, foi graças ao trabalho inteligente dos criadores e, claro, à base de uma genética poderosa, que quinze mil anos de selecção não deixaram destruir por uns “meros” duzentos anos de perturbação. Pelo contrário, tendo tirado partido destas influências e chegando hoje à produção de cavalos de maior dimensão e de qualidade de andamentos, capazes de ombrear com todas as raças especializadas, em quase todas as modalidades do desporto equestre moderno.

Há cerca de 30 anos atrás, ainda consequência da forte ditadura, houve que reequacionar tudo o que se refere à selecção e melhoria da raça Lusitana. Um pequeno grupo de criadores redefiniu, com muito rigor, o padrão da raça, base de partida fundamental para a melhoria na selecção. Tendo apenas passado três décadas, a evolução consequente da raça é espantosa! Mas, perguntam-se, como foi possível, em tão pouco tempo, a raça ter regressado em grande às suas características ancestrais? A resposta é simples e a explicação reside no enorme potencial genético da raça Lusitana: após dois séculos, quando muitos perceberam e incorreram no sentido da importância que impunha a própria raça, os resultados foram surgindo. A raça estava apenas “mascarada”, mas a sua essência estava lá, resultado de milhares de anos de selecção. Portanto, todo um património genético que sobreviveu às várias infusões de sangue estranho e que só esperava que os criadores lusos se unissem, para o soltar. E devolver ao país o seu cavalo milenar.

Hoje, o puro-sangue lusitano apresenta aptidão natural para a alta escola (Haute École) e exercícios de ares altos, uma vez que põe os membros posteriores debaixo da massa com grande facilidade. Assim, o Lusitano tem-se revelado capaz não só para o toureio e equitação clássica, mas também nas disciplinas equestres federadas como dressage, obstáculos, atrelagem e, em especial, equitação de trabalho, estando no mesmo patamar que os melhores especialistas da modalidade.

E auguram-se novos desafios para esta raça. O actual Governo quer potenciar o turismo equestre no país, passando por dar maior visibilidade ao Cavalo Lusitano, produto que considera "extraordinário e de qualidade única". O turismo equestre pode vir a representar muito para Portugal...

Actualmente, a competição, o toureio e a arte equestre utilizam, cada vez mais, cavalos Lusitanos em todo o Mundo. E foram estes cavalos portugueses, os utilizados na produção da saga em filme "O Senhor dos Anéis".

Mais informações em www.cavalo-lusitano.com

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