Este vais ser um fim-de-semana cinéfilo de emoções fortes. Não duvidem! Ainda mais quando vaticinam chuva e vento forte para o fim-de-semana, nada melhor do que ir assistir um destes bons filmes no cinema. Devido a uma agenda agitada, desta vez acumulo e proponho dois filmes. Comecemos pelo mais “antigo”...

“Perdido em Marte”


Na mesma semana em que a NASA anunciou ter encontrado indícios de água líquida em Marte, estreou o filme “Perdido em Marte”, de Ridley Scott. No filme, baseado no livro “O Marciano”, de Andy Weir (que apesar de ter sido auto-editado transformou-se num “best-seller”), um astronauta fica retido no planeta vermelho e tem de fazer de tudo, os possíveis e os impossíveis, para sobreviver até que alguém o possa ir buscar.

A missão da NASA dedicada a estudar a história da água em Marte recolheu dados suficientes que podem indiciar a existência de água líquida no planeta. Bom, para já, tratam-se apenas de sais hidratados, mas no geral, os cientistas defendem o rigor científico do livro e do filme.

Em “The Martian”, o astronauta e botânico Mark Watney (Matt Damon) é julgado morto após uma grande tempestade em Marte, que obrigou os restantes membros da missão a deixarem o planeta e o colega para trás. Só que ao invés disso, Mark desperta e dá-se conta de que está sozinho no planeta vermelho e que tem de sobreviver com os poucos meios de que dispõe, até que uma outra missão o possa ir salvar. Fica à prova a capacidade da sobrevivência humana num planeta desolado e mortífero, através da aplicação de todos os conhecimentos científicos adquiridos. E com o astronauta temos um pouco de tudo: engenho e ciência, ação e aventura.

Eis uma filme de ficção científica bem realista, passado num hipotético futuro próximo, onde não há qualquer marciano à vista para nos aterrorizar, excepto o próprio Watney, que, por força das vis circunstâncias, se converte no primeiro e único habitante de Marte. No fundo, “Perdido em Marte” é uma espécie de “Robinson Crusoé” no espaço, mas com mais emoção.

A ação do filme divide-se entre a base marciana onde Watley, sozinho, tenta manter-se vivo e não desesperar, a nave da missão no seu longo trajeto de regresso à Terra, e as instalações da NASA, onde diretores, engenheiros, astrofísicos e matemáticos tentam pensar na maneira mais rápida e eficiente de ir buscar o seu astronauta, ao mesmo tempo em que se debatem com outros dilemas. Tudo isto “temperado” com o humor na adversidade, manifestado nos diversos ambientes, mas sobretudo nos monólogos da personagem de Matt Damon, enquanto este se dedica a cultivar batatas em solo marciano e a “fabricar” água no “habitat” da base, quando tenta arranjar forma de comunicar com o Cabo Canaveral improvisando com tecnologia ultrapassada ou na sua aversão à música “disco”, favorita da comandante da sua missão (Jessica Chastain) e única banda sonora a acompanhá-lo em Marte, quando nos põe a ouvir “Hot Stuff” de Donna Summer ou “Waterloo” dos ABBA, no meio da desolação daquele planeta.

Um belo filme de entretenimento, a provar que ter cientistas a habitar Marte faz parte das fantasias da humanidade. Mas se levar astronautas para Marte ainda não é possível, a agência espacial norte-americana espera que esteja para breve, com uma primeira viagem tripulada prevista para 2030.



“The Walk – O Desafio”


Ou a vertigem nas Torres Gémeas... Mesmo! Foi o que senti quando o vi em 3D no IMAX. O novo filme de Robert Zemeckis recria magnificamente, com recurso a tecnologia fotorealista inovadora e maestria em IMAX 3D, a real proeza de Philippe Petit, ocorrida em Agosto de 1974, quando atravessou os céus de Nova Iorque num arame.

Estando o cinema americano repleto de blockbusters com super-heróis dotados de super-poderes que levam a cabo feitos sobrehumanos, é bom e reconfortante encontrar um filme assim, sobre um ser humano normal que comete uma proeza incrível, quase sobrehumana. Dando-nos o mote de que “tudo é possível, basta querermos!”.

Este “The Walk – O Desafio”, de Robert Zemeckis, recria a fascinante travessia sobre um arame que o equilibrista francês Philippe Petit fez, ilegal e perigosamente, entre as Torres Gémeas, na madrugada de 7 de Agosto de 1974. Estes dois dois arranha-céus ainda estavam em fase de acabamento e eram alvo de grande hostilidade por parte dos nova-iorquinos, sendo encarados por muitos como verdadeiros “mamarrachos” que estragavam o “skyline” de Nova Iorque. Mas a sua grande proeza, a que o equilibrista chamou de “um gesto artístico”, veio a contribuir para “humanizar” as impopulares Torres Gémeas.

Quem diria, agora já nem existem... E que nostalgia ao vê-las recriadas. Bom, mas o verdadeiro Philippe Petit, actualmente com 65 anos, celebrou no ano passado o 40º aniversário da sua proeza, que ficou conhecida no mundo como “The Twin Tower high wire walk”. A sua história já fora contada em 2008, sob a forma de documentário, em “Homem no Arame”, de James Marsh, tendo vencido um Óscar na categoria, sendo que tanto este documentário, como o filme de Zemeckis, são baseados no livro que Petit escreveu, “To Reach the Clouds”.

Com “The Walk – O Desafio”, o realizador achou que a fascinante história podia e devia voltar a ser contada. Devido ao seu conteúdo dramático, por não terem sido feitas imagens cinematográficas nessa altura, apenas fotografias, e porque a travessia é irrepetível devido ao atentado de 11 de Setembro. Mas, sobretudo, pelo recurso a efeitos digitais, ao Imax e ao 3D, que vêm proporcionar-nos uma experiência visual e emocional única, sensacional mesmo.

Nesta reconstrução do grande feito, Philippe Petit é convincentemente interpretado por Joseph Gordon-Levitt. E Robert Zemeckis está de parabéns, por conseguir “ressuscitar” as desaparecidas Torres Gémeas no ano da conclusão da sua construção e por, graças ao Imax e ao 3D, conseguir pôr-nos bem lá no alto, sobre o arame, mesmo ao lado de Petit, a sentir o que ele sentiu, a desafiar a gravidade como ninguém a tinha desafiado antes e a sentir a vertigem do vazio como nunca antes o cinema conseguira transmitir. Bom, talvez com o vazio do espaço em “Gravidade”, que foi igualmente arrebatador em IMAX 3D.

Por isso, não percam! ‘The Walk – O Desafio’ é um filme onde o recurso ao 3D é inteira e gloriosamente justificado e empregue, pois temos a sensação de estarmos a experimentar algo realmente novo. Tensão, vertigem, medo e exaltação é só uma amostra do que o filme nos faz sentir, mas por favor, se não o conseguirem ver no Imax, vejam-no no maior ecrã que puderem encontrar.

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