Este novo filme de Ron Howard, um verdadeiro épico visual, estreou em Portugal nesta quinta-feira. E eu tive o privilégio de ir à sua ante-estreia e assisti-lo no IMAX 3D.

“No Coração do Mar”, toda uma arrebatadora aventura, é uma abordagem à história verídica na qual Herman Melville se terá inspirado para criar a sua epopeia literária “Moby Dick”. Tudo acontece no inverno de 1820, quando Essex, o barco baleeiro de Nova Inglaterra, fora atacado por algo em que ninguém podia imaginar ou acreditar: uma baleia de um tamanho colossal, com uma determinação irreal, que se sustenta num sentido de vingança quase humano. O desaire marítimo que ocorreu na vida real inspiraria Melville a escrever o seu livro “Moby Dick”. Só que a obra literária apenas conta metade da história… Já “In the Heart of the Sea”, baseado no livro da autoria de Nathaniel Phillbrick, narra as terríveis consequências desse encontro, quando a tripulação sobrevivente do barco é levada aos seus limites e forçada a fazer o impensável para permanecer viva. Enfrentando tempestades, fome, sede, pânico e desespero, os homens são levados a questionar as suas crenças mais profundas, do valor das suas vidas à moralidade dos seus actos, enquanto o seu capitão (Benjamin Walker) procura orientação no mar aberto e o seu primeiro imediato Owen Chase (Chris Hemsworth) ainda tenta uma maneira de derrotar a gigantesca baleia. Mais tarde, Herman Melville (Ben Whishaw), sabendo da lenda sobre o naufrágio do Essex, parte em busca da verdadeira história por trás da mesma. Eis que conhece um traumatizado sobrevivente (Brendan Gleeson).

O elenco conta também com os bons desempenhos de Cillian Murphy, Frank Dillane, Michelle Fairley e Charlotte Riley, mas o destaque vai mesmo para a dupla Hemsworth e Holland, curiosamente dois actores que já interpretaram super-heróis da Marvel (Thor e Homem-Aranha). Quanto ao filme, “No Coração do Mar” conta com belos cenários e com óptimos efeitos visuais. E, como em “Tubarão”, a tensão reside mais na ameaça do que no ataque em si, razão pela qual a baleia resulte mais interessante quando oculta.

O filme alterna entre dois tempos: a acção em alto mar, na luta contra as baleias, é-nos apresentada ao mesmo tempo que Melville vai descobrindo os pormenores desta história, contada pelo único sobrevivente ainda vivo, Tom Nickerson. A montagem alterna entre estes dois momentos espacio-temporais e o ritmo é bem conseguido, contrabalançando a acção e luta da tripulação contra as forças da Natureza, em 1820, e a calmo mas atormentado tempo presente do filme, com a dor das recordações e outras, quando Nickerson relata os acontecimentos que viveu.
Portanto, o que Melville veio a escrever não espelha a brutalidade e a complexidade do que realmente aconteceu. Além disso, esta história centra-se mais na ganância, no jogo de hierarquias, nas dificuldades da navegação e na importância do óleo de baleia, o petróleo do século XVIII.

No questionar valores, no desespero que coloca os instintos mais primitivos à frente do socialmente aceite, ou até mesmo o dilema moral - afinal, será que a baleia é mesmo a má da fita?, “No Coração do Mar” vale por tudo mas, sobretudo, pelos magníficos efeitos visuais. Mas cuidado, se o forem ver em 3D ou no Imax, podem ficar atordoados ou até meio enjoados, como eu, mas também percebo o porquê de tal, afinal o diretor de fotografia é o parceiro de longa data de Lars von Trier, Anthony Dod Mantle.

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