Em 1941, na revista "All Star Comics" nº8 surgiu aquela que ainda é a mais importante heroína dos “comics” - a Mulher Maravilha. Na altura, ela era como a maioria dos super-heróis da época, ligeiramente diferente do que conhecemos hoje. Bem, “ligeiramente” é como quem diz, porque não há quase semelhança alguma com a personagem da atualidade...

Criada pelo Dr. William Moulton Marston e a sua mulher, Elizabeth Holloway Marston, a Mulher Maravilha era um contraponto aos heróis masculinos da editora Detective Comics. Não foi a primeira heroína dos quadradinhos, mas um pormenor no contrato de Marston com a DC manteve-a como a mais duradoura.

Originalmente, o criador William Marstom nomeou-a de Suprema, mas esse nome foi logo rejeitado por ser muito parecido com o nome “Superman” (semelhança fonética em inglês) e, ento, acabou por ser nomeada Mulher Maravilha pelos editores da DC da altura. Na versão brasileira, já foi erroneamente traduzida como Super Mulher pela editora Orbis e Miss América na época da EBAL. O nome só mudou para o real Mulher Maravilha (em inglês, Wonder Woman) quando a série de TV “Mulher Maravilha” foi exibida no país. Em Portugal, a Mulher Maravilha é traduzida como Supermulher, o que também é erróneo. Supermulher é o nome de duas personagens já existentes na DC Comics, sendo uma vilã do Sindicato do Crime, e outra uma heroína que surgiu em duas aventuras de Super-Homem, e deixou de existir após o episódio “Crise nas Infinitas Terras”.

Tal como o Super-Homem, os poderes dela eram bem menores ao início e as histórias refletiam muito da visão dos Marston. As braceletes por exemplo, eram as “braceletes da submissão”. Se um homem unisse as duas, ela (e as outras amazonas, pois todas possuíam os mesmos poderes) perderia os seus poderes. Os Marston eram adeptos do BDSM e muitos dos seus posicionamentos refletiam-se nos primeiros anos da personagem, razão pela qual acabava por ser uma atividade corriqueira ver a Mulher Maravilha amarrada em algum momento das suas histórias.

E sabem qual o metal mais poderoso da banda-desenhada? As braceletes da Mulher Maravilha. Nunca foram quebrados ou danificados de nenhuma forma. E já foram atacados por balas, lasers, pelo Super Homem, Thor, Darkseid, todo o panteão grego e deuses cósmicos. Diz-se que as braceletes foram feitas por Hefesto, a partir do indestrutível escudo Aegis, de Atena. Elas refletem o poder combinado de Zeus, Poseidon e Hades. A sua outra arma é o Laço de Hestia, também conhecido como Laço da Verdade. E é bem o que o nome implica, a pessoa amarrada com o mesmo vê-se obrigada a responder com a verdade. Tal facto tem a ver com o seu criador, Marston, que também foi o autor do detector de mentiras (polígrafo). Certamente, nasceu dali a inspiração para a criação do laço.

Quanto ao seu mediatismo, a Mulher Maravilha teve algumas representações nos media. A mais célebre foi a série de 1975, com Lynda Carter, muito parecida fisicamente com a Mulher Maravilha dos quadradinhos. Lynda obteve fama nacional, pela primeira, vez ao ganhar o título de Miss Mundo EUA, em 1972, representando o estado de Arizona. Como candidata dos Estados Unidos a Miss Mundo, ela chegou às semifinais. Ao estrear no seu papel de protagonista na série de televisão Mulher-Maravilha, a sua interpretação foi tão perfeita que ganhou a estima dos fãs e o apreço da crítica, fazendo a série durar por três temporadas. Mais de três décadas após ter estreado neste papel, Lynda continua a ser imediatamente identificada como a Mulher-Maravilha. Em 1978, Lynda Carter foi eleita "A Mulher Mais Bonita do Mundo" pela International Academy of Beauty e pela British Press Organization. Quanto à personagem, também teve destaque nas séries televisivas animadas da DC, em particular, na Liga da Justiça. Recentemente, a Mulher Maravilha fez sua estreia no cinema no filme Super Homem Vs. Batman, interpretada pela israelita Gal Gadot. E em 2017 vai ter o seu próprio filme.

Enfim, a Mulher Maravilha tem-se mantido uma personagem relevante durante 75 anos. E já não indo para nova, ela está aí para as curvas e para abraçar causas das Nações Unidas - a Mulher Maravilha tornou-se embaixadora honorária. A cerimónia aconteceu na sede das Nações Unidas, com a presença da Warner Brothers e da DC Entertainment, no passado 21 de outubro. A partir de agora e durante o próximo ano, ela é também embaixadora honorária das Nações Unidas para o empoderamento das mulheres e das raparigas.

Mas uma polémica levantou-se: Porquê uma personagem de ficção da banda-desenhada e não uma pessoa real? Porquê uma boneca que, ainda por cima, tem uma imagem sexualizada? Esta não é a primeira vez que uma personagem de ficção é nomeada embaixadora honorária das Nações Unidas. A fada Sininhom de Peter Pan, já tratou de questões ecológicas, o Winnie the Pooh já olhou pela amizade e os Angry Birds já estiveram associados a questões climáticas. Catarina Furtado, embaixadora de boa vontade do Fundo das Nações Unidas para a População, está convencida de que esta pode ser uma boa "estratégia de marketing" para que se fale neste assunto: "Esta personagem da BD é uma mulher que tem super-poderes. Eu sei que muitas mulheres têm super-poderes e que os utilizam para continuar a sobreviver num mundo muito desigual entre homens e mulheres", afirma.

EM-PO-DE-RA-MEN-TO, uma palavra que se vai ouvir cada vez mais vezes. Uma palavra forte, porque não se trata apenas de conferir poder, mas também de preparar para o exercício do poder em várias esferas da sociedade. No mundo dos homens, a Mulher Maravilha é Diana Prince. Mas, quando se transforma, é uma heroína com super poderes para espalhar a paz e a justiça. E, agora, tem também esta responsabilidade. A super heroína foi escolhida para ser um dos rostos da campanha “All the wonders we can do” (as maravilhas que podemos fazer), que quer ser um impulso para atingir um dos objectivos globais da organização internacional para os próximos 15 anos: atingir a igualdade de género e empoderar todas as mulheres e meninas.

No fundo, a Mulher Maravilha surgiu como resposta ao Super Homem e, de certa forma, contra corrente. Na altura, a esmagadora maioria dos super heróis eram homens. As mulheres, regra geral, eram apenas as companheiras dos super-heróis, personagens secundárias… Uma super-heroína num mundo de homens, uma embaixadora à altura.




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