O terror tem vindo a ter um bom ano de bilheteira, com dois dos filmes do género de maior receita de todos os tempos em 2017. Primeiro, foi “Annabelle: A Criação do Mal” e depois “It”. Ambos ainda estão nos cinemas e são uma boa sugestão para este tempo de Halloweem. Quanto a “It”, o último que fui ver, trata-se da adaptação do romance de Stephen King. Mas ao contrário do que se possa pensar, este não é um remake da mini-série de 1990, e sim uma readaptação do livro.

27 anos após o seu primeiro “filme”, Pennywise regressa para se alimentar dos nossos medos numa nova encarnação que, graças a Bill Skarsgård, promete voltar a colocar a personagem no topo dos ícones dos filmes de terror. Conforme me referi, em 1990 já tinha havido uma adaptação, com Tim Curry numa interpretação marcante como Pennywise, mas a mini-série televisiva não resistiu ao passar do tempo… e o realizador “apadrinhado” por Guillermo del Toro, Andy Muschietti, colocou em prática parte do argumento escrito por Fukunaga para nos trazer um dos melhores filmes de terror de 2017. E também uma dos mais aguardados do ano. Bastou sair o trailer do filme e as espectativas aumentaram, tornando-o um dos filmes de terror mais antecipados desde o “The Conjuring” de 2013.

O enredo começa com o assassinato de uma criança, Georgie Denbrough (Jackson Robert Scott), numa pequena vala para escoamento de águas local. Um ano depois, no verão de 1989, o irmão mais velho de Georgie, Bill (Jaeden Lieberher) e o seu grupo de amigos, iniciam a busca do seu assassino. Porém, vêm a descobrir que o crime fora cometido por uma entidade do mal: Pennywise (Bill Skarsgård), um palhaço maquiavélico que anda a matar as crianças, supostamente dadas como desaparecidas.

A cada vinte e sete anos, acontece uma série de desgraças na pequena cidade de Derry, e Bill Denbrough juntamente com o seu grupo, o “Loser’s Club”, atribuem a Pennywise todos os “deaparecimentos” que têm acontecido ao longo do tempo. Pennywise, o palhaço dançarino, explora os medos e fobias das suas presas, e consegue, com isso, atraí-las para onde bem quer, transformando-se nos seus próprios medos ou fobias. Exemplo claro disso é o de Richie Tozier (Finn Wolfhard), que tem medo de palhaços. Quando o grupo de crianças vai, pela primeira vez, à casa abandonada onde está Pennywise, elas acabam por ser separados uns dos outros, e Richie vê-se trancado num quarto cheio de palhaços em bonecos... Uma curiosidade: um dos palhaços que podemos ver nessa divisão é um easter egg de Pennywise protagonizado por Tim Curry, na tal mini-série de 1990 “It – Palhaço Assassino”.

Este é um filme de terror repleto de momentos de tensão e de alguma descontração. Quando o ambiente fica mais tenso, sentimos algum desconforto, medo até, pois os medos e as fobias retratados são bem reais. A banda sonora do filme também complementa muito bem estas cenas. Por seu turno, Bill Skarsgård consegue ser verdadeiramente assustador como Pennywise, até mesmo quando nada faz, ficando parado a olhar para a câmara. Ele não apressa as coisas como qualquer mauzão, ao invés disso, diverte-se com as suas presas, ferindo-as e assustando-as muito mais do que elas imaginavam possível, o que o leva a desfrutar ainda mais do seu aguardado festim, que ocorre de 27 em 27 anos. Acho que desde a terrível Freira do “Conjuring 2” que não me sentia tão assustado com uma personagem do género. O guarda-roupa, a caracterização e, obviamente, a representação de Skarsgård pontuam para que este filme se torne, talvez, o mais visto do género este ano.

Uma outra importante referência maligna está presente neste filme, que representa muito bem o problema de “bullying”. Estas crianças não têm apenas medo de Pennywise, ou dos seus próprios receios, dado que elas também sofrem com o bully Henry Bowers (numa fantástica interpretação de Nicholas Hamilton), que sozinho serviria na perfeição como o vilão do filme.

“It” já tem sequela prevista. Vai haver um “It 2”, pois a obra original foi dividida em duas partes, visto que o livro contém mais de 1000 páginas. Assim, se neste filme temos a primeira parte a mostrar-nos a jornada das 7 crianças do “Loser’s Club” para encontrar os amigos desaparecidos, além de enfrentar o palhaço assassino, na segunda teremos as mesmas personagens em adulto, que regressam a Derry 27 anos depois, para voltar a enfrentar Pennywise. Depois deste “It”, digo-vos: vale a pena esperar. Apenas desejo que Muschietti retorne para fazer o segundo capítulo, pois ele fez um excelente trabalho.

Andy Muschietti soube colocar a nossa empatia com os jovens protagonistas de "It" a braços com um monstro aterrorizante, mas aquele que repugna em vez de seduzir. Ao invés de entregar a habitual sede de sangue da audiência, está muito mais preocupado em mostrar-nos o trauma, real e imaginado, que os seus pequenos heróis terão de enfrentar para derrotar uma criatura que se alimenta de medo. Vibrante, confiante e com uma quantidade surpreendente de emoção, “It” é quase tudo o que se pode querer de um filme de terror moderno. Estou certo de que se trata de um filme de terror que marcará esta geração e que se irá tornar um dos clássicos do género.


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