Roménia, 1952. Um padre veterano e uma freira noviça são enviados pelo Vaticano para investigarem o suicídio de uma freira no mosteiro de Carța, na Transilvânia. É esta a premissa do quinto capítulo da saga de terror "The Conjuring", inspirada nas investigações reais do casal Ed e Lorraine Warren, que dedicaram a vida a tentar perceber possíveis ocorrências sobrenaturais. Mas, no fundo, trata-se de um spin-off de "The Conjuring 2: A Evocação", com a acção a desenrolar-se antes de todos os outros filmes, sejam os da série "The Conjuring" ou "Annabelle". Aqui, o padre é interpretado por Demián Bichir, enquanto à freira é encarnada por Taissa Farmiga (irmã de Vera Farmiga, protagonista de ambos os "The Conjuring").
Este é o segundo filme realizado pelo britânico Corin Hardy, que já tinha realizado "The Hallow" em 2015, mas cuja obra não teve estreia comercial entre nós. A história de “The Nun” é escrita por James Wan, que realizou os dois "The Conjuring", e Gary Dauberman, que escreveu os dois "Annabelle" e que assina aqui o guião.
“The Nun - A Freira Maldita” tinha tudo para ser o perfeito filme de terror. Um trailer que provocou saltos de terror e que acabou por ser retirado pelo Youtube. Verdade, a publicidade ao filme provocou uma reacção de tal forma inflamada na internet que o YouTube viu-se forçado a retirá-la do ar. Depois, a sua estreia superou as expectativas não apenas nos EUA, mas a nível mundial. Além de arrecadar 53 milhões de dólares nos E.U.A., a produção fez mais 77 milhões em mercados internacionais, chegando a um total de 131 milhões só na estreia. Com tal, o filme tornou-se a maior estreia da série “The Conjuring” nos EUA. Até então, o recorde era do primeiro filme, com 41 milhões de dólares. Além disso, apenas no mercado doméstico norte-americano, o filme foi a segunda maior estreia de setembro, ficando só atrás do sucesso “It”, que arrecadou 123 milhões de dólares. Destaque para a Warner que consegue completar quatro semanas na 1ª e 2ª posição da bilheteira dos E.U.A., um feito que não acontecia há 25 anos. A distribuidora está há quatro semanas com filmes nas primeiras posições de bilheteira graças ao bom desempenho de “The Meg”, “Crazy Rich Asians” e “A Freira Maldita”. Como se não bastasse, “The Nun - A Freira Maldita” teve o melhor dia de estreia de sempre de um filme de terror em Portugal. Mas…
Em “The Nun – A Freira Maldita”, quinto filme da saga “The Conjuring”, que já teve dois títulos em nome próprio (em 2013 e 2016), mais dois spin-of (“Annabelle” e “Annabelle 2: A Criação do Mal”, em 2014 e 2017, respetivamente), após uma jovem freira enclausurada numa abadia na Roménia se suicidar, o sacerdote Burke (Demián Bichir) com um passado assombrado por um exorcismo e a noviça Irene (Taissa Farmiga) no limiar dos seus votos finais, são enviados pelo Vaticano para investigar tamanho e inesperado acontecimento. A sua missão era a de avaliar se o local ainda seria sagrado. Não demora muito para perceberem que se trata exactamente do contrário. Juntos, com a ajuda do agricultor Frenchie (Jonas Bloquet), vão descobrir o segredo da Ordem das irmãs devotas, arriscando não só as suas vidas, mas também as suas próprias almas e fé.
A série, iniciada por James Wan em 2013, tem uma abordagem estrutural feita à medida para um universo mais expandido: nos dois filmes principais, o casal Ed (Patrick Wilson) e Lorraine Warren (Vera Farmiga) encontra e enfrenta diversos demónios, que acabam por ser explorados com maiores detalhes em filmes a solo. Tal ocorreu com a boneca Annabelle e é o caso agora de “A Freira Maldita”, que incide na assombração demoníaca Valak (interpretado pela actriz Bonnie Aarons).
Visualmente, julgo tratar-se do melhor da saga. O filme não só surpreende nas composições (o mosteiro da Roménia com o seu ar de terror clássico, o uso de luz e sombras para desconcertar o espectador e o chiaroscuro a criar belos planos que realçam a imponência dos cenários ou a ameaça sobre os protagonistas), como também faz uso da temática religiosa: cruzes invertidas e em chamas, pentagramas e possessões que causam impacto. Além do visual simples e poderoso, quase gótico, também há uma boa gestão da tensão. Mesmo sem abandonar os habituais jump-scares de som elevado ou estridente, os sustos não são assim tão gratuitos como acontece nos dois filmes “Annabelle”, por exemplo, pois há toda uma construção feita através do silêncio e da claustrofobia, que ludibria as expectativas do público ao fazer aguantar as surpresas até o último momento.
Porém, o meu “mas” deve-se ao demónio em si. Este foi o momento de apresentar, de maneira mais detalhada, a história daquela figura que roubou a cena em “The Conjuring 2”: a freira demoníaca. Não foi à toa que a presença do demónio Valak no filme de 2016 deu que falar e que instigou o público a querer saber mais. Por que possuía aquele aspecto? Por que Lorraine sentia tanto pavor? Tais perguntas vão sendo respondidas, de maneira gradual, ao longo de “A Freira Maldita”. Este spin-off que é também uma prequela, mostra-nos as origens da freira demoníaca, mas não nos explica o que lhe acontece para que continue a assombrar vinte anos depois, quando se passa “The Conjuring 2”. E, acreditem, as melhores e mais assustadoras cenas da freira demoníaca continuam a ser as que aparecem em “The Conjuring 2”, que mesmo acontecendo em cenas à luz do dia, dão-nos muito mais medo e calafrios do que algumas vezes em que Valak surge aqui. Pode ser por culpa em não se tratar de novidade, ou devido aos constantes trailers do filme da net, mas é isto que penso.
Finalizando, depois de “Annabelle”, “The Nun - A Freira Maldita” demonstra como o universo partilhado de “The Conjuring” tem potencial, entregando-nos uma experiência com um certo gosto familiar, mas nova o suficiente para nos prender a atenção e assustar-nos. Goste-se ou não do género terror, pode-se dizer que a saga “The Conjuring” consegue introduzir personagens consistentes e casos ainda mais assustadores a cada nova abordagem. Mais um spin-off que respeita a linha da série e comprova que uma boa história pode gerar desdobramentos interessantes e promissores.
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