Primeiro spin-off de “Velocidade Furiosa”, com Dwayne "The Rock" Johnson e Jason Statham a retomarem os papéis de Luke Hobbs e Deckard Shaw, esta nova entrega está em exibição nos cinemas desde 1 de Agosto, à qual tive o privilégio de ir à sua ante-estreia. Nunca fui muito fã desta saga, mas este filme deixou-me curioso… de modo que decidi escrever sobre ele. Depois de oito filmes que acumularam quase cinco mil milhões de dólares a nível mundial, o franchise “Velocidade Furiosa” conta agora com o seu primeiro spin-off.
Desde que o possante Hobbs (Johnson), um dedicado operacional do Serviço de Segurança Diplomática dos Estados Unidos, e o rebelde Shaw (Statham), um antigo agente do exército britânico, se enfrentaram pela primeira vez em “Velocidade Furiosa 7”, em 2015, a dupla não parou de trocar insultos e socos, enquanto tentavam dar cabo um ao outro. Porém, quando Brixton (Idris Elba), um anarquista cibernético geneticamente alterado, assume o controlo de uma ameaça biológica que pode mudar a humanidade para sempre, e derrota uma excelente e destemida agente do MI6 à margem da lei (Vanessa Kirby), curiosamente irmã de Shaw, os dois inimigos têm de se unir para destruir o único homem mais perigoso do que eles.
Luke Hobbs, o agente federal que foi antagonista da equipa de "Velocidade Furiosa" no Rio de Janeiro, no quinto filme da saga, e depois se tornou aliado deles, e Deckard Shaw, vilão do sétimo filme e posteriormente também comparsa, juntam-se neste primeiro filme derivado de um dos mais populares franchises da actualidade, que dura desde 2011. Desta feita, os dois juntam-se para ajudar a irmã de Shaw, Hattie, agente do MI6 que tem como missão apanhar um ex-colega tornado terrorista, Brixton Lore, que usa uma tecnologia que lhe dá uma força sobre-humana.
Realizado por David Leitch, duplo e coordenador de duplos transformado em realizador no primeiro "John Wick", tendo também assinado "Atomic Blonde - Agente Especial", este “Hobbs & Shaw” abre um novo caminho no universo “Velocidade Furiosa”, garantindo ação a nível global, de Los Angeles a Londres, e do deserto tóxico de Chernobil até à paisagem exuberante de Samoa. Com oito filmes na bagagem - e mais um a caminho, previsto para 2020 -, a franquia “Velocidade Furiosa” está mais do que estabelecida no imaginário popular. A mescla de um elenco carismático com sequências de acção mirabolantes e algo impossíveis tornou-se a tónica de quase todos os filmes, permeado por um humor singular, típico de quem não se leva nem um pouco a sério. E este primeiro spin-off investe mais neste caminho em detrimento de outra característica básica da série: as disputas de carros. O foco aqui está muito mais nas diferenças entre Luke Hobbs e Deckard Shaw, ressaltadas não só nos inúmeros confrontos verbais (e cómicos) entre ambos - com direito a provocações gratuitas típicas de adolescentes com muito mais testosterona -, mas também a nível visual. Neste sentido, o início é emblemático: da paleta de cores entre o quente e o azulado, do clima chuvoso de Londres em contraste com o soalheiro de Los Angeles, Hobbs e Shaw são como água e óleo, não combinam nem se misturam, mas precisam mesmo de trabalhar juntos em busca de um objectivo comum, embora por motivos distintos.
“Hobbs & Shaw” vai bebendo da fonte da cronologia da série, ao resgatar a personagem de Helen Mirren para inserir no enredo a irmã de Shaw, mas também aposta em algo inédito até então: o piscar de olho à ficção científica, personificada pela complexidade do vilão, um homem alterado a partir de experiências tecnológicas de forma a promover a evolução da espécie humana. De alguma forma, o exagero das cenas de acção chegou também à narrativa, que não de mau de todo, pelo contrário. “Hobbs & Shaw” tão depressa assume-se como um filme exagerado e cómico, quanto bem feito. Repleto de piadas em torno das personagens de The Rock e Statham, o filme ainda conta com Vanessa Kirby, que não só reafirma o carisma demonstrado em “Missão: Impossível - Fallout” quanto demonstra desenvoltura e competência nas cenas de acção.
Como filme de entretenimento funciona bem, muito também devido ao carisma e à disposição vinda de seus protagonistas. O mérito também cabe ao realizador. Leitch não apenas consegue contrastes visuais decorrentes das suas personagens principais, como também detalhes bem-humorados como o inconfundível som típico de "Transformers" nas mudanças decorrentes na moto de Idris Elba e, especialmente, pelas boas cenas de acção, impulsionadas pela ágil movimentação de câmaras.
Dois senão: por um lado, a "família" de "Velocidade Furiosa" (Michelle Rodriguez, Roman Pearce, etc.), mostrou-se zangada não disfarçou o desprezo que têm por este primeiro spin-off; por outro e apenas por cá, a exclusão de “Velocidade Furiosa: Hobbs & Shaw” das salas de cinema da NOS. Talvez por isso, se tenha ficado pelos 64.696 espectadores em Portugal no seu fim-de-semana de estreia, sendo assim batida pelo filme “O Rei Leão”, que ao terceiro fim-de-semana em exibição conseguiu atrair mais 123.795 espectadores. É importante que se trata de um spin-off da saga “Velocidade Furiosa” sem Vin Diesel e Michelle Rodriguez (rostos primordiais da franquia, juntamente com o falecido Paul Walker) no elenco, e que o mesmo passou "apenas" por 99 ecrãs e 1.184 sessões, contra os 155 ecrãs de “O Rei Leão” e as suas 2.053 sessões. De notar que o maior exibidor nacional, que explora 31 multiplexes por todo o país, é também distribuidor da Universal Pictures, o estúdio responsável pela série "Velocidade Furiosa", uma das mais rentáveis nas bilheteiras nos últimos anos. A verdade é que quer que seja o que se tenha passado, esta decisão rara no mercado do cinema em Portugal - da saga distribuída pela NOS Lusomundo Audiovisuais não surgir nas salas da "irmã" de negócios NOS Cinema – causou grande impacto no resultado nas bilheteiras. A Nos Cinemas justificou a não presença do filme nas suas salas devido a um desacordo com a Universal Pictures, que "impôs condições comerciais que a NOS não pôde aceitar”. Com isto, “O Rei Leão” não é só o filme mais visto do ano em Portugal (840 mil espectadores) como um dos filmes mais vistos no nosso país desde 2004, sendo praticamente certo que fará concorrência ao actual número 1 da tabela, "Avatar" (1,2 milhões de espectadores).
Lá fora, “Hobbs & Shaw” fez sucesso nas bilheteiras no último fim-de-semana com 60,8 milhões de dólares, superando as bilheteiras domésticas e ampliando a sua participação global de 180 milhões. Espera-se que o filme aumente ainda mais enquanto o verão avança, pois na sua segunda semana de exibição nos Estados Unidos, “Hobbs & Shaw”deve lideram novamente a bilheteira doméstica - projecções indicam que o derivado de "Velocidade Perigosa" deve fazer cerca de 28 milhões de dólares neste final de semana. Um valor suficiente para superar “O Rei Leão” e “Era Uma Vez em Hollywood” no mercado americano.
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