Este novo filme, sucessor de “The Conjuring - A Evocação” (2013) e “The Conjuring 2: A Evocação” (2016), conta mais um capítulo da história baseada em factos reais do casal norte-americano Warren, famoso por investigar aparições demoníacas e casos paranormais. Este novo episódio recupera Ed (Patrick Wilson) e Lorraine Warren (Vera Farmiga) na reinterpretação de um dos casos reais mais conhecidos do casal: o julgamento de Arne Cheynne Johnson, o primeiro réu dos Estados Unidos a defender-se da acusação de homicídio sob a alegação de possessão demoníaca. De forma a lidar com um caso delicado como este, a tradicional fórmula de assombração dos antecessores filmes é posta de lado, e “The Conjuring 3: A Obra do Diabo” coloca os protagonistas numa verdadeira investigação, quase policial, para tentar reunir provas palpáveis que justifiquem o acto horrendo cometido pelo rapaz de 19 anos. E é precisamente por isso que este filme começa a destacar-se dos restantes.

“The Conjuring 3: A Obra do Diabo” também se afasta dos seus antecessores por outros motivos: o franchising de terror criado em 2013 por James Wan conta, pela primeira vez, com um novo realizador, Michael Chaves (o mesmo de “A Maldição da Mulher que Chora”), e também é o primeiro filme a não possuir uma personagem para um spin-off. Convém recordar que no primeiro filme a boneca Annabelle fez tanto sucesso que obteve três filmes em nome próprio. Já com “The Conjuring 2: Evocação”, foi a vez do terrível Valak em forma de freira demoníaca roubar a cena e ganhar um filme só para si.

 

Neste terceiro capítulo, a arrepiante história de terror, homicídio e de uma entidade malévola que chocou até os experientes investigadores de atividades paranormais, Ed e Lorraine Warren, é um dos mais sensacionais casos dos seus arquivos, que começa com a luta pela alma de um jovem rapaz, levando-os para além de algo que nunca tinham visto. Pela primeira vez na história dos E.U.A., um suspeito de homicídio declara estar possuído por um demónio para se defender.

 

É inegável que The Conjuring se tenha tornado um dos principais franchisings de terror dos últimos tempos. Idealizada por James Wan, elevou o patamar do terror mainstream, transformando uma narrativa saturada da casa mal-assombrada num grande espetáculo com sustos criativos, aspectos técnicos arrojados e performances espantosas. Porém, quando foi anunciado que o cineasta não iria comandar o terceiro capítulo, grande parte do público fã ficou algo receoso... Mas a boa notícia é que o realizador Michael Chaves conseguiu dar continuidade à saga de forma bem-sucedida. Além de nos entregar sequências macabras e inovadoras que já se tornaram marca registada, “The Conjuring 3 - A Obra do Diabo” traz algumas mudanças bem-vindas a este género. Uma delas é o tom investigativo extremamente cativante que domina boa parte da história.



Baseada em factos reais, o filme acompanha Arne (Ruairi O'Connor), que se torna acusado de homicídio após esfaquear um colega. No tribunal, ele alegou que cometera o crime por conta de uma possessão demoníaca. E é aí que entram os Warren: na época, o casal de investigadores paranormais estava envolvido com o caso, e decidiu ajudar a provar a inocência do rapaz. A premissa é tão interessante, que é impossível não embarcar nesta jornada logo no primeiro instante. E, claro, a abordagem investigativa faz com que o desenrolar da trama fique ainda mais cativante. A cada minuto, novas questões vão sendo levantadas, criando uma amálgama de teorias que nos cativa, enquanto espectadores, de forma objetiva e eficaz. Nos filmes anteriores, o foco de James Wan era retratar e solucionar os eventos sobrenaturais que recaiam sobre as famílias. Mas aqui, a dramatização do paranormal vai sendo um pouco posta de lado, dando espaço a uma experiência que está sempre a interferir com o nosso sentido de curiosidade.


Mas não se pense que não haja jumpscares. Há e bastante criativos, porém não os posso mencionar como exemplo para não ser spoiler. E para quem, como eu, viu o aterrorizante “O Exorcista” de 1973, as primeiras cenas servem como uma espécie de releitura angustiante desse filme, referenciando cenas icónicas do clássico original como a chegada do padre à casa da família MacNeill, bem como a terrível disfunção corporal genialmente desempenhada por Linda Blair como Regan. Além disso, a direção de arte e a edição não desapontam: através de técnicas de cores, luzes e cortes perspicazes, conseguem criar sequências intensivas que nos colocam na pele das personagens.



Apesar de “The Conjuring 3: A Obra do Diabo” ser baseado numa história real e assustadora, como muitas adaptações para o cinema, toma algumas liberdades criativas que não aconteceram na realidade para efeitos narrativos, o que é compreensível para se conseguir um bom filme de terror. Portanto, a base do caso investigado pelo casal Warren é, de facto, verdadeira. Antes do assassinato de Alan Bono, os Glatzels tinham realmente entrado em contato com Ed e Lorraine Warren para ajudar o seu filho de 11 anos, David Glatzel, que eles acreditavam estar a hospedar um demónio (ou, mais precisamente, 43 demónios, segundo os Warren). Arne Johnson, o verdadeiro, também afirmou que o demónio presente em David acabou por passar para ele durante a realização do exorcismo no menino. Depois de Johnson ter cometido o assassinato de Bono, tal como no filme, ele acabou a usar a possessão demoníaca como defesa no tribunal, mas ainda foi condenado por homicídio culposo. Porém, embora seja baseado numa história real, é legitimo que “The Conjuring 3: A Obra do Diabo” tome algumas liberdades criativas na sua narrativa. As maiores partes ficcionadas no filme de terror surgem com a história de ocultismo, especialmente com a horrível Isla Kastner (Eugenie Bondurant) que faz conexão com os eventos dos filmes Annabelle. O filme tampouco deixar passar muito tempo no drama do tribunal (ainda bem, pois poderia tornar-se aborrecido) e passa para a história de como os Warren encontram um enigmático e assustador totem satânico por baixo da casa dos Glatzel. Quando os Warren investigam o caso de uma rapariga morta chamada Katie Lincoln (Andrea Andrade) – uma personagem fictícia que também fora esfaqueada 22 vezes como Arne Johnson –, eles ligam a sua morte ao crime de Johnson após rastrear o corpo de Jessica Louise Strong (Ingrid Bisu), a amiga que a matou. Usando os seus dons extra-sensoriais, Lorraine consegue localizar a Ocultista após tocar o cadáver de Jessica...



Portanto, “The Conjuring 3: A Obra do Diabo” é uma adição muito satisfatória e bem-conseguida ao franchising. Apesar de ao início parecer tentar replicar a fórmula narrativa de Wan, a história encontra fôlego para apostar em direções diferentes e inéditas, criar novos sustos e entreter com bastante competência, ou seja, causar muito medo. A não perder!

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