Para quem acompanha o cenário da cultura drag, sabe certamente quem é Pabllo Vittar. Esta cantora e drag queen é uma das mais famosas do Brasil e do mundo, contando com milhares de seguidores nas redes sociais. Já possui alguns respeitosos hits e tem realizado colaborações com diversos grandes nomes da indústria musical global, de Anitta a Charli XCX.

Mas por que razão vos estou a falar disto? Porque o assunto deste meu post é a elevação da arte drag, motivada pela marca italiana que catapultou duas celebridades promovidas pela série de sucesso da TV, “RuPaul’s Drag Race”. Para vestir as cores da coleção outono / inverno de 2021/2022, Jeremy Scott, diretor artístico da Moschino, convidou duas celebridades da versão americana do programa de televisão: Gigi Goode, da 12ª temporada, e Symone, da 13ª e última temporada.


Fotografadas por Marcus Mam, estas duas drag personificam o mais puro estilo de “Old Hollywood Glamour”, segundo Scott. Se esta iniciativa permite que a reputação das duas protagonistas - que têm mais de um milhão de assinantes no Instagram – aumente, também reforça o crescente interesse do segmento do luxo por este programa em prol da inclusividade. Em junho passado, por ocasião do mês de orgulho, a casa Balenciaga também se juntou a RuPaul Charles, figura icónica da comunidade drag e mentora da Drag Race, para apresentar uma coleção cápsula única.

Portanto, esta “arte” não é nenhuma novidade e está, desde sempre, muito ligada à comunidade LGBTQ+. Na verdade, as drags surgiram nos anos 1930 nos Estados Unidos, quando homens gay se vestiam e maquilhavam como mulheres e encontravam na performance com lipsync em bares da época uma forma de entretenimento, para eles próprios e para os que os aplaudiam.

Portanto, de forma simplificada e objetiva, uma drag queen é uma personagem criada para uma performance, para uma atuação, e não uma identidade 24 horas por dia que a pessoa que está por detrás traz à vida. É preciso ter isto em mente para fazer a distinção de travestismo, ultimamente mais conotado com sexo de rua.

De lá para cá, formaram-se movimentos, aconteceram confrontos pela liberdade - vale a pena ver o filme-documentário “Paris is Burning!” - e muitos símbolos nasceram, até que finalmente a arte drag se tornasse mainstream - muito graças ao reality show, premiado nos Emmy, “RuPaul's Drag Race”. Toda a história da arte drag é extensa e interessante por si, acreditem, mas teria de escrever um post enorme para dar conta de tudo.

Voltando à inusitada campanha da marca italiana, seria um eufemismo dizer que Jeremy Scott deu uma nova vida à Moschino. Felizmente, o extravagante estilista americano não está a dar sinais de diminuir o seu tom de kitsch. Desde 2013, temos vindo a receber coleções repletas de diversão inspiradas em tudo, desde McDonald's a Maria Antonieta. Sem mencionar uma vasta gama de campanhas publicitárias gloriosas e espetaculares fotografadas por Steven Meisel. Agora, coube a Marcus Mam pôr-se atrás da lente para captar as drag queens Gigi Goode e Symone, um par de ícones da cultura pop a oferecer uma quantidade infinita de glamour nas imagens vibrantes da campanha de imprensa e outdoor. Duas drag a provar que podem ser muito mais do que apenas isso...

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