Após conquistar o mundo do boxe e de se “reformar”, Adonis Creed prospera na sua carreira profissional, como coproprietário de um ginásio, e na sua vida pessoal. Quando um amigo de infância e antigo prodígio do boxe amador, Damian, reaparece na sua vida após cumprir uma longa pena na prisão, ele está ansioso para provar que ainda merece a sua oportunidade no ringue. O confronto entre estes dois ex-amigos é muito mais do que uma luta. Extrapola o ringue e vai mais além... Para ajustar contas com o passado, Adonis aposta o seu futuro no grande combate com Damian, um lutador que não tem nada a perder.

Da Metro Goldwyn Mayer Pictures chega-nos “Creed III,” o primeiro filme realizado por Michael B. Jordan, que regressa ao seu papel de Adonis Creed na terceira parte deste franchise de sucesso. O filme conta também com a participação de Tessa Thompson, Jonathan Majors, Wood Harris, Florian Munteanu, a estreante Mila Kent e Phylicia Rashad.


O protagonista Michael B. Jordan realiza este filme a partir do argumento de Keenan Coogler e Zach Baylin e da história de Ryan Coogler, Keenan Coogler e Zach Baylin. O filme é produzidor, entre outros, por si próprio e Sylvester Stallone. Curiosamente, Creed III é a primeira longa-metragem da série que não conta com a presença de Sylvester Stallone no grande ecrã. Dolph Lundgren também não regressa e o Apollo de Carl Weathers apenas é mencionado a título de contexto. É na crença de uma “mitologia” já estabelecida que Michael B. Jordan se estreia como realizador e conta uma história de acerto de contas com o passado totalmente independente do que se viu em Rocky.


Sendo distribuído pela Metro Goldwyn Mayer Pictures na América do Norte e internacionalmente pela Warner Bros. Pictures, um facto curioso deste filme é que fui à sua antestreia sem nunca ter visto os primeiros Creed, embora bastante familiarizado com o universo de Rocky Balboa, onde Creed tem ido buscar inspiração, personagens e protagonistas. O caso da reinvenção que Creed tem vindo a realizar é notório, pois ao contrário de outros franchises de sucesso, Creed soube entender que a essência de Rocky não reside apenas em eventuais fórmulas de filme de boxe e sim no poder da história e na caracterização. Ao trocar a Philadelphia proletária dos ítalo-americanos pela Los Angeles da cultura negra e do entretenimento não foi apenas uma ruptura, mas uma transição suave, justamente pautada por uma roupagem nova que resultasse não só específica como autêntica.


Nas colinas de Hollywood surge Adonis, tipificado como magnata do desporto e caracterizado como um privilegiado que se deu bem na vida, pois disso depende o “gancho” do antagonismo com o “mau da fita”, o ex-detido Dame interpretado por Jonathan Majors. Outro trunfo do filme é o facto de o boxe ser mostrado como um desporto marcado pela hegemonia dos negros americanos e latinos, correspondendo à realidade, mas que, curiosamente, poucos filmes têm lidado com tal facto.



 

Do encontro eletrizante entre Michael B. Jordan e Jonathan Majors depende toda a sustentação de "Creed III", e o filme vai funcionando bem com o suspense sobre esse antagonismo. Mas não se pense que os confrontos apenas se dão no recinto de boxe. Os momentos dramáticos mais interessantes de "Creed III" não acontecem dentro do ringue e sim nos confrontos que vão ocorrendo, quer seja quando acompanhamos Jordan e Tessa Thompson a se comunicarem em linguagem gestual devido à filha, quer quando acontece a primeira conversa de Adonis e Dame no restaurante, cheia de palavras por dizer, o que nos faz preencher sozinhos as lacunas do que se virá a tornar um acerto de contas.


 

Embora, pessoalmente, eu ache o boxe um desporto muito violento, aqui fui surpreendido por uma encenação algo poética, quando em pleno confronto, as personagens deixam o ringue e revisitam o seu passado, ainda em luta, pelos mais variados cenários, o que traz alguma novidade ao género. Não se tratando de um blockbuster, esta última entrega do franchise vale bem a pena. Quer pela tensão dramática que encerra, quer pela coragem em mostrar o boxe como um desporto de negros e latinos, o esforço do realizador estreante está mais do que recompensado.


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