É sabido que esta cerimónia é uma antevisão da que se lhe segue em termos de cinema, os Oscars. Até lá, há ainda os Emmys, que apenas premeiam a televisão. Mas vale a pena fazer um pequeno balanço. Primeiro, por ter feito “história" e, segundo, por ser a primeira a acontecer após a dissolução da Hollywood Foreign Press Association (
Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood), com o acrescente de novas categorias.

A 81.ª edição dos Globos de Ouro teve lugar a 7 de janeiro de 2024 no Beverly Hilton Hotel, em Los Angeles, e nesta efeméride as premiações são anualmente entregues, desde 1944, pela Hollywood Foreign Press Association aos melhores profissionais do cinema e televisão no mundo. Tem sido uma parte importante da temporada de premiações da indústria cinematográfica, que culmina todos os anos com o Oscar. Mas ao contrário desta, cujas premiações são votadas pelos que fazem parte do meio cinematográfico (actores, argumentistas, realizadores, etc.), os Globos eram auferidos pelos media escritos. Contudo, esta edição dos Globos de Ouro foi a primeira desde a dissolução da Hollywood Foreign Press Association (HFPA) que, até então, era a responsável pela gestão do evento. Muitos pesaram que este seria o fim de uma das maiores premiações da indústria. Tal pode ter passado despercebido, mas no ano passado, em junho de 2023, os Globos de Ouro passaram a estar sob nova propriedade, que veio dissolver a organização sem fins lucrativos Hollywood Foreign Press Association e os seus membros, tendo a empresa se convertido num empreendimento com fins lucrativos. Os activos, direitos e propriedades dos Globos de Ouro foram adquiridos da HFPA por uma parceria entre a Dick Clark Productions e a Eldridge Industries, do bilionário empresário e investidor Todd Boehly. Os rendimentos que resultaram da transação, mais os recursos existentes da HFPA, foram convertidos na recém-formada Fundação Globos de Ouro, que supervisionará o alcance filantrópico e de caridade do grupo, de acordo com a parceria. Como parte da transação, irão produzir o certame anual dos Golden Globe Awards e ampliar as oportunidades comerciais para o mesmo. A HFPA – um pequeno e poderoso grupo de jornalistas de entretenimento internacionais que distribuía os Globos de Ouro há 80 anos – foi criticada nos últimos anos devido à sua ética, à escassez de membros e à falta de membros negros. O grupo, cuja legitimidade tem sido questionada há décadas, passou por uma revisão das suas operações, ao mesmo tempo que procurava expandir o número de membros e o número e diversidade de eleitores dos Globos de Ouro. Esta turbulência levou a NBC a retirar o programa de 2022 do ar. “Estamos muito orgulhosos de trazer os Globos de Ouro para a CBS, para celebrar os 81 anos de história do prémio”, afirmou Jay Penske, CEO da Penske Media, empresa que pertence à Dick Clark Productions. Mas voltando à cerimónia em si, por não se circunscrever apenas ao cinema, os serviços de streaming também foram os principalmente agraciados no que diz respeito às categorias de televisão - com a HBO, a Netflix e a Disney+ em grande destaque.



A primeira grande gala da temporada de prémios após o fim da greve dos argumentistas e atores, catapultou “Oppenheimer” e “Pobres Criaturas” como grandes vencedores, com “derrota” de “Barbie”, o mais nomeado e que acabou por arrecadar apenas duas estatuetas. De facto, os filmes de Christopher Nolan e de Yorgos Lanthimos, que inclui a participação da fadista portuguesa Carminho, consagraram-se grandes vencedores numa cerimónia que fez história ao premiar Lily Gladstone por “Assassinos da Lua das Flores”, a primeira indígena a receber o Globo de Ouro de Melhor Actriz.



“Oppenheimer" foi consagrado com cinco importantes prémios nas categorias de cinema, incluindo Melhor Filme Dramático. Christopher Nolan foi distinguido como Melhor Realizador, Cillian Murphy recebeu o prémio de Melhor Actor, Robert Downey Jr. foi reconhecido como Melhor Actor Secundário, e Ludwig Göransson foi premiado pela Melhor Banda Sonora. Robert Downey Jr. expressou a sua admiração, descrevendo o filme como uma "incrível obra-prima", vencendo colegas como Robert De Niro, Ryan Gosling, Willem Dafoe, Charles Melton e Mark Ruffalo. O actor destacou ainda o sucesso financeiro, com o filme a atingir um bilhão de dólares em receitas de bilheteira, ao contar a história do criador da bomba atómica. Noutra categoria, "Pobres Criaturas" surpreendeu ao vencer como Melhor Filme Musical ou Comédia, superando as expectativas em relação a "Barbie". Yorgos Lanthimos foi reconhecido com o Melhor Filme, enquanto Emma Stone recebeu o prémio de Melhor Actriz na categoria. "Os Excluídos" de Alcexander Payne, com estreia em Portugal em 15 de Fevereiro, também se destacou, rendendo a Da’Vine Joy Randolph o Globo de Melhor Actriz Secundária e premiando Paul Giamatti como Melhor Actor em Comédia.


 

Com duas estatuetas, mas com uma clara sensação de derrota, ficou “Barbie”, o maior blockbuster de 2023. O título da Warner Bros. tinha nove nomeações, mais que "Oppenheimer", mas só conquistou a categoria de Melhor Canção – uma vitória de Billie Eilish e Finneas O’Connell por “What Was I Made For” – e pela nova categoria criada de conquista cinemática e de bilheteira. Este novo prémio deu à actriz Margot Robbie e à realizadora Greta Gerwig a oportunidade de subirem ao palco e dizerem algumas palavras de agradecimento. “Fizemos este filme com amor. Obrigada por retribuírem”, disse Robbie. Esta vitória inaugural de “Barbie” em conquista cinematográfica e de bilheteira diz-nos muito sobre como os filmes são realmente valorizados.

 

O filme foi indicado a nove prémios, incluindo Melhor Filme: Musical ou Comédia, Melhor Realizador para Greta Gerwig e nomeações de interpretação para os seus protagonistas Margot Robbie e Ryan Gosling. No entanto, o grande prémio que “Barbie” ganhou faz todo o sentido. Noutras palavras, venceu o prémio de filme que rendeu enormes quantias de dinheiro e que teve uma campanha de marketing incrível. O filme teve um orçamento de marketing de 150 milhões de dólares e arrecadou 1,4 bilhões de dólares de receitas em todo o mundo. Sem dúvida, “Barbie” foi o evento cinematográfico de 2023. “Gostaríamos de dedicar isto a cada pessoa do planeta que se vestiu bem e foi ao melhor lugar do planeta: os cinemas”, afirmou Robbie ao aceitar a estatueta. É um prémio que aponta para o facto de que “Barbie” foi uma obra-prima de marketing e que as pessoas se divertiram muito a fazer parte da diversão.



A campanha de marketing de “Barbie” foi tão boa que nos próximos anos provavelmente nos lembraremos mais do verão cor-de-rosa do que aquele filme “de maior sucesso” sobre o tipo que inventou a bomba atómica. E esta nova categoria de prémio dos Globos sinaliza uma mudança quanto ao que nos faz considerar um filme “valioso”. Não importa se “Barbie” era um filme bem-feito, mas sim o facto de ser divertido e de as pessoas serem influenciadas pelo frenesim à sua volta e de irem ao cinema mesmo assim. Portanto, há que reconhecer mérito nisso. E todos queremos que os cinemas sobrevivam. Convém referir que com a ajuda de “Barbie”, os cinemas portugueses continuaram a recuperar público em 2023, somando mais 2,4 milhões de pessoas nas salas do que em 2022. O ano findou com 12 milhões de box office e ainda a curar feridas da pandemia. EUA celebram o incremento de público nas salas de 20%.


 

“Maestro”, de Bradley Cooper, uma grande aposta Netflix, saiu de mãos a abanar. Mas em termos do pequeno ecrã, a última temporada da série “Succession” triunfou nesta 81ª edição dos Globos de Ouro, numa noite que também foi de sonho para “Rixa” e “The Bear”. Para além de ser premiada como Melhor Série Dramática, “Succession”, da HBO,  foi também distinguida nas categorias de Melhor Interpretação por uma Actriz em Série de Televisão’ (Sarah Snook), Melhor Interpretação por um Actor em Série de Televisão (Kieran Culkin) e Melhor Interpretação por um Actor Secundário em Série de Televisão (Matthew Macfadyen), no segmento de Drama.


 

Apesar de "Maestro", de Bradley Cooper, não ter conquistado prémios, a última temporada de "Succession" destacou-se na 81ª edição dos Globos de Ouro, sendo premiada como Melhor Série Dramática, com reconhecimento para Sarah Snook, Kieran Culkin e Matthew Macfadyen em diversas categorias de interpretação. A Netflix teve êxito com "Beef", recebendo Globos de Ouro por Melhor Minissérie, Antologia ou Filme para Televisão, assim como pelas actuações de Ali Wong e Steven Yeun. Por seu turno, "The Crown" obteve distinção pela actuação de Elizabeth Debicki. Além disso, a Netflix conquistou o prémio de Melhor Interpretação em Comédia 'Stand-up' em Televisão para Ricky Gervais por "Armageddon", graça à introdução de mais um novo prémio para distinguir o melhor entre os comediantes 'stand-up'.

 

A Disney+ também celebrou, visto que a segunda temporada de "The Bear" foi reconhecida nas categorias de Melhor Série de Televisão, Melhor Interpretação por uma Actriz (Ayo Edebiri) e Melhor Interpretação por um Actor (Jeremy Allen White) na categoria de Musical ou Comédia. Fiquem com a lista de vencedores nas categorias de Cinema e Televisão.

 

 

Vencedores nas categorias de cinema:

 

Melhor Realização

Christopher Nolan, "Oppenheimer"

 

Melhor Argumento

Justine Triet, "Anatomia de uma Queda"

 

Melhor Filme Dramático

"Oppenheimer"

 

Melhor Actriz em Filme Dramático

Lily Gladstone, "Assassinos da Lua das Flores"

 

Melhor Actor em Filme Dramático

Cillian Murphy, "Oppenheimer"

 

Melhor Actor Secundário em Filme 

Robert Downey Jr., "Oppenheimer"

 

Melhor Actriz Secundária em Filme 

Da'Vine Joy Randolph, "Os Excluídos"

 

Melhor Filme Musical ou Comédia

"Pobres Criaturas"

 

Melhor Actor em Filme musical ou comédia

Paul Giamatti, "Os Excluídos"

 

Melhor Actriz em Filme musical ou comédia

Emma Stone, "Pobres Criaturas"

 

Melhor Filme de Animação

"O Rapaz e a Garça" de Hayao Miyazaki

 

Melhor Filme em Língua Estrangeira 

"Anatomia de uma Queda" (França)

 

Melhor Canção 

"What Was I Made For", Billie Eilish e Finneas O'Connell para "Barbie"

 

Melhor Banda-Sonora

Ludwig Göransson, "Oppenheimer"

 

 

Vencedores nas categorias de televisão:

 

Melhor Série Dramática

“Succession” (HBO)

 

Melhor Actriz em série dramática

Sarah Snook, “Succession” (HBO)

 

Melhor Actor em série dramática

Kieran Culkin, “Succession”  (HBO)

 

Melhor Actriz Secundária em televisão

Elizabeth Debicki, “The Crown” (Netflix)

 

Melhor Actor Secundário em televisão

Matthew Macfadyen, “Succession” (HBO)

 

Melhor Minissérie ou Filme para Televisão

“Beef” (Netflix)

 

Melhor Actriz em minissérie ou filme para televisão

Ali Wong, “Beef” (Netflix)

 

Melhor Actor em minissérie ou filme para televisão

Steven Yeun, “Beef” (Netflix)

 

Melhor Série Musical ou Comédia

“The Bear” (FX)

 

Melhor Actriz em série musical ou comédia

Ayo Edebiri, “The Bear” (FX)

 

Melhor Actor em série musical ou comédia

Jeremy Allen White, “The Bear” (FX)

 

Melhor Performance Stand-Up para Televisão

Ricky Gervais, “Armageddon” (Netflix)

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