A artista japonesa Yayoi Kusama (Japão, 1929) expõe em Serralves, até 29 de setembro, mais de 160 pinturas, desenhos e esculturas sobre a sua história de vida e obra. A mostra "Yayoi Kusama: 1945 – HOJE" está organizada cronologicamente e por temas: Infinito, Acumulação, Conectividade Radical, Biocósmico e Morte e Força de Vida. Esta é a maior retrospectiva da artista na Europa e, em simultâneo, a sua primeira mostra individual no nosso país.

Os mais de 160 trabalhos narram a história da vida e obra da artista japonesa, hoje com 95 anos, e exploram a sua carreira desde os seus primeiros desenhos, realizados na sua adolescência, durante a Segunda Guerra Mundial, às suas obras mais recentes de arte imersiva. A curadora da exposição, Filipa Loureiro, revelou que a exposição não se circunscreve ao museu, mas estende-se também ao parque de Serralves onde as suas famosas abóboras amarelas com bolinhas pretas e o "Narcissus Garden" (esferas de aço inoxidável de diferentes dimensões) estão a ser exibidas.

A exposição reúne imagens pintadas por Yayoi Kusama ao longo da sua carreira. Essas imagens transmitem as suas experiências psicológicas e emocionais, bem como a ideia de infinito. Além disso, a exposição inclui obras mais antigas que abordam a destruição testemunhada durante a Segunda Guerra Mundial. Entre os trabalhos expostos, encontram-se padrões circulares que funcionam como metáforas para o sol, a terra e a lua. Também estão presentes peças "semi-representacionais" com cores fortes e saturadas, retratando perfis de mulheres e brotos de flores em cenas que simbolizam a vida humana e vegetal. Esta exposição foi concebida e organizada pelo Museu de Cultura Visual M+ de Hong Kong, em colaboração com a Fundação de Serralves e o Museu Guggenheim de Bilbau.


Mas quem é Yayoi Kusama?

 

Ela é uma das artistas mais importantes do nosso tempo, conhecida pelas suas instalações imersivas chamadas "Infinity Mirror Rooms". A sua estética incorpora luz, bolinhas e abóboras. Kusama ganhou destaque nos anos 1960 em Nova Iorque, onde realizou happenings provocantes e exibiu pinturas alucinatórias com loops e pontos, que ela chamou de "Redes Infinitas". Além disso, ela influenciou Andy Warhol e antecipou a ascensão da arte feminista e pop. As suas obras já foram exibidas no Museu de Arte Moderna, no Centro Pompidou, na Tate Modern e no Museu Nacional de Arte Moderna de Tóquio. Em 1993, Kusama representou o Japão na Bienal de Veneza. Atualmente, o seu trabalho é regularmente vendido por valores de sete dígitos no mercado secundário. Ao longo de sua diversificada carreira, Kusama continuou a explorar os seus próprios transtornos obsessivo-compulsivos, sexualidade, liberdade e percepção.



 

Influências na sua obra


Surrealismo: Kusama foi inspirada pelo movimento surrealista, especialmente pelos trabalhos de Salvador Dalí, e também se interessava em explorar o subconsciente e a imaginação através da arte.

 

Minimalismo: Kusama também foi influenciada pelo movimento minimalista, especialmente pelos trabalhos de Donald Judd e Sol LeWitt. Apreciava a simplicidade e a limpeza das formas minimalistas, mas também gostava de subverter essas ideias ao adicionar os seus próprios padrões e cores.

 

Arte pop: Kusama participou no cenário artístico de Nova Iorque durante a era da arte pop e foi influenciada por artistas como Andy Warhol e Claes Oldenburg. Gostava da natureza popular e acessível da arte pop e incorporou alguns desses elementos nas suas próprias obras.

 

Cultura japonesa: Kusama cresceu no Japão durante a Segunda Guerra Mundial, e a cultura japonesa teve uma forte influência na sua vida e trabalho. Foi influenciada pela arte tradicional japonesa, como a arte do ukiyo-e e a cerimónia do chá, e também pela cultura pop japonesa, como a música e a moda.

 

Doenças mentais: Desde a infância, Kusama sofre de transtornos mentais, que influenciaram profundamente a sua arte. Utiliza padrões repetitivos para expressar sentimentos de ansiedade e obsessão, e incorpora elementos de alucinação e delírio em algumas das suas obras.




As abóboras e as bolas

 

Kusama tem um fascínio por abóboras desde a infância no Japão, e as bolas ou pontos também são uma obsessão que começou na sua infância, quando experienciava alucinações com pontos cobrindo tudo no seu campo de visão. Estes elementos têm sido recorrentes na sua arte.

Kusama tem utilizado a abóbora como um elemento fulcral na sua arte desde a década de 1950, incluindo esculturas de abóbora em várias formas e tamanhos, bem como pinturas e desenhos de abóboras. A abóbora para a artista é uma forma simples e humilde, mas também uma representação da fertilidade, da abundância e da vida. As bolas ou pontos, que exerceram uma experiência de "visão obsessiva" também se tornaram uma fonte de inspiração para a sua produção artística. Para Kusama, as bolas e pontos representam uma sensação de unidade e infinito. Já a abóbora é um objeto que transmite uma sensação de alegria e esperança, e é um símbolo recorrente da sua arte repleta de imaginação e a fantasia.


 

Como se tornou tão famosa?

Yayoi Kusama tornou-se famosa por várias razões. Em primeiro lugar, o fenómeno das redes sociais, especialmente o Instagram (verifiquem, por exemplo, #YayoiKusama ou #InfiniteKusama), desempenhou um papel crucial, com milhares de pessoas a se fotografarem nas suas instalações e a compartilharem nas respetivas redes sociais, criando uma enorme visibilidade para o seu trabalho. Além disso, a sua colaboração com a Louis Vuitton em 2012 e novamente em 2023 também contribuiu para aumentar a sua fama, trazendo a sua arte para o mundo da moda de luxo.



A mostra em Serralves é uma oportunidade única para os portugueses experimentarem a maior retrospetiva da artista japonesa na Europa que, mesmo aos 95 anos, continua a criar, apesar de viver há quase cinquenta anos num hospital psiquiátrico, quando o transtorno obsessivo-compulsivo e as alucinações que a atormentam desde a infância começaram a agravar-se. “Tem o seu atelier próximo do hospital, onde faz os tratamentos, mas continua a trabalhar todos os dias”, partilha Filipa Loureiro, curadora da exposição. Até 29 de setembro, no Porto, podem visitar a montagem da ambiciosa retrospetiva “Yayoi Kusama: 1945 — Hoje”.

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