A primeira aparição histórica do Pato Donald no ecrã foi na curta-metragem de animação de oito minutos intitulada “The Wise Little Hen” (“A Galinha Espertalhona”), há 90 anos. E eu decidi contar aqui um pouco da história desta personagem rabugenta e, ao mesmo tempo, muito carismática.

Donald foi originalmente concebido como uma personagem secundária, mas a sua popularidade imediata fez com que a Disney passasse a usá-lo extensivamente em histórias de banda-desenhada e curtas de animação, que surgiram de seguida. E poucos anos após a sua estreia, em 1934, o Pato Donald já tinha alcançado um estatuto de celebridade comparável ao de Shirley Temple ou de Greta Garbo.

Além de ser considerado o fiel escudeiro de Mickey Mouse, esta querida personagem da Disney é sobretudo conhecida pelo seu humor peculiar, pela sua pouca paciência e pela sua forma única de falar. Ele foi mudando ao longo do tempo, mas a sua "voz" continua inconfundível.

Tudo começou quando Walt Disney ouviu, pela primeira vez, a voz que inspiraria o surgimento do Pato Donald, há 90 anos. Tratava-se de um dobrador do estúdio, chamado Clarence Nash, a imitar vozes de animais no rádio. A partir daí, eles decidiram criar uma nova personagem, não uma ovelha, mas um pato marinheiro de temperamento explosivo e sempre de cabeça quente. Foi o próprio Nash quem dobrou Donald até ao seu falecimento, em 1985. Mais tarde, o animador Tony Anselmo (anteriormente treinado por Clarence Nash) veio emprestar a sua voz à personagem, fazendo-o há quase 40 anos. “As pessoas perguntam porque é que ele é tão popular. E eu acho que é porque toda a gente tem um pouco de Pato Donald dentro de si”, afirmou. “Vamos fazer algo e queremos divertir-nos, e quando alguma coisa nos atrapalha, zangamo-nos”.  O actor/dobrador revê-se na personagem, que contrasta com a afabilidade de Mickey, Minnie, Margarida ou Pateta. Anselmo, que foi aprendiz do actor da voz original do Pato Donald, considera que é a integridade da personalidade que mantém o pato relevante. “É uma personagem com aspeto apelativo e o que faz é divertido e entretém”.

O Pato Donald, que na realidade se chama Donald Fauntleroy Duck, fez a sua primeira aparição há exatamente 90 anos, em 9 de junho de 1934. Com a personalidade menos "comportada" que a do Mickey, acabou por se tornar na personagem que mais apareceu em filmes da Disney. Ao todo, foram 190 produções.

Ao longo dos anos, a aparência do Pato Donald também mudou. A primeira versão apresentava o bico e o pescoço bem mais longos e o corpo mais arredondado. Com o tempo, os olhos cresceram, ficaram mais expressivos, mais humanos, e já foram pretos e azuis. O chapéu branco passou a ser azul. O seu figurino mudou várias vezes.

"O Donald possui toda essa característica mais humana. Pode ser ranzinza e reclamar de todos os problemas da vida quotidiana. Mas ainda assim ele goza os bons momentos", afirma Mara Ronchi, diretora de produtos de consumo, jogos e publicações da Disney.

Os primeiros animadores a dar vida ao Pato Donald foram Art Babbit e Dick Huemer. Mas foi o jovem Carl Barks, que começou a trabalhar na Disney em 1942, quem deu ao Pato Donald uma rica história de fundo. Carl Barks também criou nomes como Scrooge McDuck (Tio Patinhas), Beagle Boys (Irmãos Metralha) e Magica De Spell (Maga Patalógica). E não nos esqueçamos de Dewey, Huey e Louie (Huguinho, Zezinho e Luisinho), que apareceram pela primeira vez no filme animado de 8 minutos "Donald's Nephews", de 1938.


No Brasil, e depois em Portugal, a editora Abril lançou a revista de banda-desenhada “O Pato Donald”, que esteve em circulação de forma ininterrupta por 68 anos, até julho de 2018. Contudo, as histórias seguem até hoje: a Panini publica, desde 2020, edições de colecionadores. Tanto lá, como cá, o traço de Pato Donald foi definido pelo desenhista brasileiro Moacir Soares, que desenhou a personagem por décadas - foi ele, inclusive, quem traçou a Margarida como a conhecemos atualmente, modificando a versão americana, que apenas adaptava a figura de Donald para o feminino, sem grandes alterações. Por causa dele, o Brasil tornou-se, por muitos anos, o maior produtor de banda-desenhada Disney do mundo, e hoje tal é considerada a melhor fase por historiadores.

Fora dos ecrãs há seis décadas, o Pato Donald protagoniza nova curta-metragem para celebrar os seus 90 anos com uma série de festividades. DIY Duck (“Pato Faça-Você-Mesmo”, em tradução livre) é o primeiro filme protagonizado pela personagem desde 1961, e foi o último projeto de animação do renomado Mark Henn, que se reformou em dezembro de 2023.

A curta mostra o Pato Donald a tentar efetuar alguns reparos domésticos, que começam com a substituição de uma lâmpada, e que rapidamente se transformam numa série de cómicas trapalhices. Certamente, o Disney+ terá muitos outros conteúdos do Pato Donald...

Com 90 anos, é caso para dizer: Parabéns, Pato Donald!

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