Da Disney/Pixar, "Divertida-Mente 2" regressa ao interior da mente de Riley, acabada de entrar na adolescência, no momento em que a central de controlo passa por obras repentinas para abrir lugar a novas Emoções! A Alegria, a Tristeza, a Raiva, o Medo e a Repulsa, que há muito administram uma operação bem-sucedida em todas as áreas, não sabem como se irão sentir com o aparecimento da Ansiedade. E ela não vem sozinha... Tédio, Vergonha e Inveja também surgem. Até a Nostalgia dá o ar da sua graça.

Por cá, tive o privilégio de poder ir à sua antestreia no dia 6 de julho, uma vez que o filme só vai para as salas de cinema nesta quinta-feira, dia 11, resultando numa das estreias mais tardias a nível mundial. Curiosamente, nós, os portugueses, estamos entre os últimos a ver "Divertida-Mente 2”, quando este filme de animação já é um dos maiores sucessos de bilheteira de sempre.

Na Alemanha, a estreia da animação da Pixar ocorreu a 12 de junho, dois dias antes dos lançamentos nos EUA e no Reino Unido. No dia 19, foi a vez de Espanha, França e Itália, numa altura em que o filme já estava em exibição em dezenas de países da América Latina, incluindo o Brasil, assim como no Médio Oriente e na Ásia. De facto, entre os principais mercados, Portugal só superou os Países Baixos e a Suécia (estreia a 17 de julho) e o Japão (estreia a 1 de agosto). Num contexto de estreias quase simultâneas a nível mundial, esta situação é uma raridade: "Divertida-Mente 2 (Inside Out 2)" chega tarde às salas portuguesas, já consagrado como um dos maiores sucessos de bilheteira de sempre.

Esta sequela da Pixar tem subido vertiginosamente nos rankings de bilheteiras. Foi a animação a atingir mais rapidamente a marca de mil milhões de dólares em receitas mundiais e, até 2 de julho, com apenas 22 dias de exibição, já arrecadou 1,074 mil milhões de dólares (990 milhões de euros), tornando-se o filme mais rentável de 2024, superando os 712 milhões conquistados por "Dune: Parte Dois" (não obstante, a superprodução de Denis Villeneuve continua a ser o maior sucesso de um filme em imagem real).

 

O primeiro "Divertida-Mente" é, sem dúvida, um dos filmes mais queridos da Pixar. E há bons motivos para isso: a sua história profunda e emocionante apresenta personagens carismáticas que refletem as complexidades das nossas próprias mentes. É singelo e divertido para crianças, ao mesmo tempo que traz uma mensagem relevante para os adultos. Além de ter sido um sucesso de público e crítica. Portanto, é surpreendente que tenham demorado nove anos para lançar uma sequela rodeada de elevadas expectativas.

Neste novo "episódio", voltamos à mente de Riley, agora com 13 anos. Alegria aprendeu a dividir melhor as funções com os seus colegas: Tristeza, Repulsa, Raiva e Medo. Ela parece ter o controlo da situação, mas tudo se transforma em caos novamente quando novas emoções surgem na sala de comando. Liderando o grupo de novatos está a Ansiedade, uma figura cor-de-laranja e meio chanfrada, determinada a planear o futuro de Riley, sempre focada no lado negativo das coisas.


Com ela, temos a Inveja (uma emoção pequena, mas cheia de energia), o Tédio (que encarna o lado blasé de qualquer adolescente) e a Vergonha (uma figura grande e afetuosa, mas muito tímida). Quando Ansiedade e Alegria entram em conflito, as emoções “antigas” são expulsas da sala de comando e precisam de encontrar uma forma de restaurar as convicções e o "senso de si mesma" de Riley. Por sua vez, Ansiedade e o seu séquito tentam navegar pelas crises da adolescência, o que pode vir a ter consequências graves.

Sendo "Divertida-Mente" uma das minhas animações preferidas, confesso que estava expectante e receoso que a continuação viesse a estragar o legado do filme original. Felizmente, posso dizer que "Divertida-Mente 2" pode não ser tão perfeito como o primeiro, até porque não tem o factor surpresa, mas é uma continuação digna da história. Realizada por Kelsey Mann (que substitui Pete Docter, o atual diretor da Pixar), esta nova longa-metragem demonstra que lidar com emoções mais simples já era por si complicado, mas quando se entra na adolescência, tudo é vivido com mais intensidade. Para ilustrar que as sensibilidades estão mais afloradas, com apenas o toque de um botão do controlo modificado na sala de comando, as reações da agora adolescente Riley tornam-se bem mais violentas e energéticas.


E a Ansiedade vem antecipar todas as coisas que podem dar errado. Ela mostra-se querida e engraçada no início do filme, mas com o tempo começa a comandar a vida da jovem, transformando-se numa ameaça que se torna a antagonista no arco de conflitos de Riley. No entanto, mais uma vez, aprendemos que Riley precisa de sentir todas as suas emoções, inclusive as mais complicadas e negativas. Faz parte do seu amadurecimento. O problema surge quando uma delas – a tal Ansiedade - assume o controlo de maneira obsessiva. Portanto, nada é simples no universo de "Divertida-Mente 2". Tudo tem camadas, pois não lidamos com as emoções da mesma forma quando crescemos. Alegria, em certo momento, desabafa e explica, entre lágrimas, que "ninguém sabe o quanto é difícil manter-se sempre feliz". E a Tristeza, apesar de toda a sua aparente lentidão, não é responsável por estagnar Riley - pelo contrário, ela serve para extravasar o que está dentro dela e, de certa forma, move a miúda em direção ao que deseja. Outro pormenor interessante desta nova entrega é o facto de adentrarmos noutras mentes, como a da mãe e do pai, tendo acesso a salas de comando bem diferentes.


A maturidade de "Divertida-Mente 2" está em entender que os sentimentos se transformam e surgem como algo profundo e novo; em nos mostrar que as convicções que adquirimos ao longo da vida são o que nos define. Apresenta, de forma lúdica, como as emoções se comunicam entre si nos nossos anos de formação e ajudam a moldar quem somos, lidando de frente com as questões do amadurecimento.

No final, "Divertida-Mente 2" é uma sequência do filme de 2015 que aborda, de forma leve, a origem de um transtorno de ansiedade. Com um argumento engenhoso e excelentes piadas, cumpre a missão de ser um filme que nos diverte, além de ser uma jornada emocional sobre a nossa própria consciência. Se o primeiro filme nos ensinou que está tudo bem em nos sentirmos tristes, este segundo mostra que devemos abraçar todas as nossas facetas.

Etiquetas:

Comente este artigo