Pioneiros de estilo. Apesar de algumas destas lendas, como Alain Delon e Shelley Duvall, já não estarem entre nós, cada uma deixou uma marca inesquecível na moda e no universo do entretenimento. No panorama da moda, as grandes figuras do showbusiness e os rostos mais conhecidos tendem a ocupar o protagonismo, impondo estilos que definem a sua geração. Contudo, a verdadeira essência do estilo pode igualmente surgir de escolhas ousadas e subversivas, que desafiam as normas e resultam numa influência discreta, mas marcante, destes ícones. De modo que faço aqui uma homenagem a estes ícones de estilo, algumas vezes subestimados, refletindo sobre como redefiniram os horizontes da moda.

 



Alain Delon: o estilo Beatnik dos anos 50

O estilo de Alain Delon nos anos 50 foi determinante para o surgimento do movimento Beatnik, que rejeitava a formalidade clássica em prol de um visual despretensioso e intemporal. Delon ajudou a popularizar peças casuais como calças de ganga e t-shirts básicas, rompendo com os fatos e chapéus típicos da época. Ele captou o espírito Beatnik com “wife beaters” brancos, casacos bomber e camisolas, introduzindo uma estética descontraída que desafiava as convenções de moda masculinas da década.

 


Nos anos 60, Delon tornou-se um ícone de sofisticação, especialmente através de filmes como “Plein Soleil” (“O Sol Por Testemunha”). Camisas Oxford abotoadas, peças de linho e camisolas navy tornaram-se símbolos do seu estilo francês moderno, consolidando-o como um dos homens mais elegantes da sua geração. Com o anúncio do seu falecimento, em abril de 2024, figuras como Brigitte Bardot e Emmanuel Macron prestaram tributo à lenda que redefiniu a masculinidade e influenciou a moda por décadas.

 

 



Peggy Moffitt: O espírito do Mod nos anos 60

Embora Twiggy e Mia Farrow sejam frequentemente associadas ao movimento Mod, Peggy Moffitt desempenhou um papel central na definição deste estilo audacioso, com padrões geométricos e cores vibrantes. Em colaboração com o designer Rudi Gernreich e o fotógrafo William Claxton, Moffitt produziu imagens de moda provocadoras que refletiam uma mudança cultural.

 

 

Reconhecida pelo seu penteado bouffant, maquilhagem ousada e preferência por mini-saias, Moffitt capturou a exuberância juvenil da década, deixando um legado que continua a inspirar marcas e criadores contemporâneos.

 

 


 

Malcolm X: Elegância como resistência nos anos 60

Malcolm X fez do seu estilo uma afirmação política, adotando fatos bem cortados como símbolo de dignidade e respeito. A sua aparência profissional desafiava estereótipos, representando orgulho negro e autossuficiência. Num período de segregação, os fatos à medida tornaram-se uma forma de resistência visual, transmitindo uma mensagem de seriedade e determinação na luta pelos direitos civis.

 


Malcolm X usou a moda para afirmar a sua identidade e empoderar as comunidades negras, reforçando o seu estatuto como ícone de mudança.

 

 



Shelley Duvall: A excentricidade nos anos 70

Shelley Duvall destacou-se em Hollywood pela sua beleza única e pouco convencional, que contrastava com as normas da época. Os seus traços peculiares e a aparência natural desafiavam os padrões de atratividade glamourizados.

 


Em filmes como “Shining” e “Popeye”, Duvall demonstrou que a beleza podia ser multifacetada, trazendo profundidade às suas personagens. A sua influência ajudou a ampliar a definição de beleza no cinema, tornando-o mais inclusivo e diversificado.

 

 



Annie Lennox: Androgenia revolucionária nos anos 80

A cantora Annie Lennox, dos Eurythmics, desafiou as normas de género ao adotar um estilo andrógeno que combinava elementos masculinos e femininos. Os seus fatos de alfaiataria, camisas brancas e blazers com ombros largos tornaram-se icónicos nos anos 80, inspirando a aceitação de expressões de género fluido. Com o seu cabelo curto e maquilhagem marcante, Lennox deixou um impacto duradouro na música e na moda.

 


Até hoje, utiliza a sua plataforma para defender causas sociais e humanitárias, reforçando o seu estatuto como ícone cultural e de estilo.

 

 


Madonna:  Material girl pós-punk dos 80

Madonna emergiu nos anos 80 como uma criadora de tendências e um dos ícones de estilo mais influentes da sua geração. O seu sentido de moda ousado, variado e frequentemente controverso tornou-se parte essencial da sua imagem pública e consolidou o seu estatuto como uma força cultural revolucionária.

 


Inspirando-se no movimento punk da década de 1970, Madonna incorporou elementos rebeldes e arrojados no seu guarda-roupa. Itens como leggings, leg warmers e jóias vistosas foram combinados com ousadia, enquanto o espartilho de sutiã cónico, desenhado por Jean Paul Gaultier, se tornou uma assinatura icónica nos seus espetáculos. Este estilo não apenas simbolizava a liberdade criativa e individualidade, mas também ajudava Madonna a destacar-se no meio de outras estrelas pop. A sua maquilhagem era marcada por olhos intensamente delineados e lábios coloridos e vibrantes, complementando o impacto visual das suas roupas. Mudanças frequentes nos penteados – desde cortes curtos e geométricos a ondas longas ou penteados para trás – reforçavam a sua capacidade de reinvenção, um traço que viria a definir a sua carreira.

 

 

Além disso, o impacto de Madonna ia além da moda: a sua estética e atitude celebravam a expressão individual e a auto-afirmação. E a melhor coisa sobre a estética da roupa de Madonna nessa década é que, por mais atrevida que parecesse, era usada com uma confiança sem igual. Foi essa confiança inabalável com que exibia as suas escolhas arrojadas que solidificou o seu legado como um ícone cultural e de estilo, que continua a inspirar gerações até hoje.


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