Que filme surpreendente, ao qual tive a oportunidade de assistir à sua antestreia. Trata-se de uma comédia-romântica com uma reviravolta que nos leva numa aventura inesperada. Nele, Iris (Sophie Thatcher) está completamente apaixonada por Josh (Jack Quaid, filho de Dennis Quaid e de Meg Ryan). Eis que ele a convida para passar um fim-de-semana numa luxuosa cabana junto a um lago com o seu grupo de amigos e ela aceita. Quando ambos decidem juntar-se ao grupo – Kat (Megan Suri), o seu namorado rico e dono da casa do lago, Sergey (Rupert Friend), e o casal maravilha Eli (Harvey Guillén) e Patrick (Lukas Gage) – o pior acontece quando um deles é morto, acabando por despoletar uma narrativa que prossegue por caminhos inesperados. Além disso, a descoberta de algo inimaginável de Iris sobre si própria transforma a escapadela, supostamente relaxante, numa experiência aterradora e perigosa para todos os que a rodeiam.

Com uma ação situada num futuro próximo, este thriller de ficção científica com nuances de comédia negra é realizado por Drew Hancock. O realizador, que já conta com uma carreira notável na televisão, faz aqui a transição para o grande ecrã com "Companion", uma obra que combina comédia romântica, ficção científica e terror, apresentando uma reviravolta inesperada numa premissa que poderia facilmente ter saído de "Black Mirror". 



Falar sobre "Companion" sem revelar a sua surpreendente reviravolta é um verdadeiro desafio, pois esta define grande parte da narrativa. No entanto, o filme conduz-nos por uma aventura moral onde as fronteiras entre o certo e o errado são constantemente desafiadas, revelando gradualmente as personagens através de uma série de eventos desencadeados por um incidente violento. Compreendo que, nos dias de hoje, é raro assistir a um filme sem qualquer informação prévia. No entanto, foi exatamente essa a minha experiência — nada sabia, nem mesmo o motivo pelo qual a protagonista tinha os olhos completamente brancos no cartaz do filme. Acreditem, ver "Companion" no grande ecrã sem expectativas garante uma experiência de surpresa e estupefação genuínas, moldando por completo a perceção da trajetória da história.

 


Hancock constrói habilmente a primeira meia hora do filme, culminando num twist narrativo surpreendente e original. Embora a experiência continue válida para quem já conhece os seus segredos, nunca será tão intensa quanto para aqueles que entram no cinema sem saber o que esperar. Trata-se de um filme audaz, que aborda temas clássicos do género e questões tecnológicas com um ritmo implacável, subvertendo expectativas de forma eficaz. Com uma duração de apenas 90 minutos, evita alongamentos desnecessários, mantendo-se conciso e envolvente. A combinação de tons, a atmosfera inquietante e a exploração de temas complexos, como abuso, amor e controlo, elevam a obra acima de meros sustos fáceis, deixando uma impressão emocional que perdura além dos créditos finais. 

 

O elenco mostra-se coeso, com Sophie Thatcher a carregar o filme de forma magistral, enquanto Quaid explora um tipo de personagem ao qual já está habituado, com Gage e Guillén a complementarem o conjunto de forma dinâmica. Thatcher, em particular, revela um impressionante alcance emocional, com uma capacidade expressiva versátil e um timing cómico irrepreensível. A sua interpretação dá vida a uma personagem complexa, transformando tópicos delicados como autocontrolo e afirmação em questões profundamente relacionáveis. É um desempenho notável.



Hancock, por sua vez, garante que o filme se mantenha envolvente, construindo um universo credível sem recorrer a soluções excessivamente mirabolantes para justificar as suas reviravoltas. Embora levante questões filosóficas sobre a crescente influência da tecnologia nas nossas vidas, a abordagem permanece acessível, contribuindo para a narrativa tanto no seu lado mais intelectual quanto na vertente satírica.

 

"Companion" é um filme intrigante, que nos convida a refletir sobre a forma como a tecnologia coexiste com as imperfeições humanas e as consequências das nossas escolhas. Com uma mistura eficaz de humor, terror e temáticas provocadoras, conta com um elenco competente, mesmo sem grandes nomes, mantendo o espetador investido do início ao fim. 

 

 

Apesar de não revolucionar o género, a forma como Drew Hancock trabalha um conceito familiar com uma abordagem pessoal e uma execução tecnicamente sólida resulta numa experiência cativante. Com uma prestação memorável de Sophie Thatcher, este thriller psicológico com toques de comédia, romance e ficção científica destaca-se como uma das primeiras grandes surpresas do ano — altamente recomendado para quem quiser uma experiência autêntica e sem spoilers prévios.

 


 


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