Nas últimas décadas, adaptar videojogos ao grande ecrã e TV tornou-se uma grande tendência em Hollywood. Títulos como “The Last of Us”, “Sonic” ou “Fallout” conseguiram conquistar crítica e público, enquanto outros, como “Tomb Raider: A Origem”, “Uncharted” ou “Borderlands”, não escaparam à crítica negativa. Neste cenário volátil, surge “Um Filme Minecraft”, uma aposta da Warner Bros. Pictures que tenta transportar para o cinema uma das franquias mais populares da história dos videojogos — com mais de 300 milhões de cópias vendidas e 170 milhões de jogadores activos mensais em 2024.
Realizado por Jared Hess, conhecido pelo seu estilo excêntrico em obras como “Nacho Libre”, o filme parte de uma premissa difícil: adaptar um universo sem narrativa linear, onde tudo é possível e onde a criatividade do jogador é o fio condutor. Não existindo uma história concreta a seguir, “Um Filme Minecraft” opta por apresentar “uma entre as muitas histórias que poderiam acontecer naquele mundo”. Assim, acompanhamos Steve (Jack Black), um adulto desiludido com a vida real, que descobre um portal para o Mundo Superior e embarca numa jornada imprevisível ao lado de outras personagens, incluindo Garrett “O Lixeiro” Garrison (Jason Momoa).
A dinâmica entre Black e Momoa é, sem dúvida, o maior trunfo do filme. A química entre ambos é contagiante — fruto de uma amizade evidente dentro e fora do ecrã — e garante alguns dos momentos mais hilariantes da produção. Jack Black, mais uma vez, interpreta uma versão caricatural de si próprio, como em “Escola de Rock” ou “Jumanji”, enquanto Momoa assume o papel inesperado de um antigo campeão de videojogos em declínio, que encontra redenção dentro do próprio jogo. Este desvio do habitual “tipo durão” que o actor costuma interpretar acaba por funcionar, conferindo-lhe uma leveza e sentido de humor refrescantes.
Ainda assim, nem tudo corre de forma exemplar. A narrativa é construída sobre arquétipos reconhecíveis e falta-lhe profundidade no desenvolvimento de personagens. Figuras como Natalie (Emma Myers) ou Marlene (Jennifer Coolidge) surgem pouco aproveitadas e parecem existir apenas para cumprir função. A estrutura do argumento, por vezes previsível, segue uma fórmula já vista em adaptações semelhantes, o que tira algum brilho à proposta.
Por outro lado, a componente visual surpreende. Após alguma apreensão gerada pelos trailers, a computação gráfica revelou-se eficaz: os cenários são vibrantes, com uma estética pixelizada bem-adaptada ao universo Minecraft. A Digital Domain, responsável pelos efeitos, tem provas dadas em filmes como “Duna” ou “Vingadores: Ultimato”, e aqui volta a demonstrar competência.
É inegável que Jared Hess imprimiu à produção a sua marca de irreverência e absurdo, o que impede “Um Filme Minecraft” de cair totalmente na banalidade. Os elementos do jogo — ferramentas, mobs, blocos e habilidades — são bem inseridos e ajudam a criar situações inusitadas, onde o humor físico e as reviravoltas surreais encontram espaço para brilhar.
No fim de contas, tudo depende das expectativas com que se entra na sala de cinema. Quem procura uma história complexa ou inovadora pode sentir-se desiludido. Mas para quem está disposto a embarcar numa aventura leve, com humor acessível e referências divertidas ao universo do jogo, “Um Filme Minecraft” oferece cerca de 100 minutos de puro e descomprometido entretenimento. Não é uma obra-prima, nem o melhor trabalho do realizador, mas há ali um coração pulsante e personagens carismáticas que tornam esta incursão no mundo dos blocos numa experiência, no mínimo, simpática e agradável.