“Missão: Impossível – O Ajuste de Contas Final”: será mesmo esta a última corrida de Ethan Hunt? Há quase trinta anos que acompanhamos a personagem Ethan Hunt a saltar de aviões, a correr contra o tempo e a desafiar a física com um estoicismo que só Tom Cruise conseguiria tornar plausível. Agora, com “Missão: Impossível – O Ajuste de Contas Final”, a saga regressa com aquele que pode ser, ou não, o seu derradeiro capítulo, numa explosiva homenagem ao cinema de ação que não se rende à facilidade do digital. E, pela complexidade e exigência do argumento, nem poderia...
Realizado por Christopher McQuarrie, este novo filme ultrapassou todas as expectativas, ao quebrar o recorde de bilheteira da saga logo na sua estreia. Só nos EUA, arrecadou 8 milhões de dólares na noite em que estreou, com previsões que apontam para 85 milhões durante o fim de semana do Memorial Day. E não é apenas na América: na Índia, por exemplo, superou os 6 milhões em menos de uma semana. Globalmente, caminha a passos largos para os 200 milhões.
Mas, mais do que números, por muito impressionantes que sejam, este “Ajuste de Contas Final” representa uma espécie de testamento cinematográfico. Um filme que não se limita a repetir fórmulas, mas que arrisca, expande e, acima de tudo, acredita.
IA vs. Humanidade
Nesta oitava missão, Ethan Hunt enfrenta o seu inimigo mais insidioso: a Entidade, uma inteligência artificial que ameaça controlar, e destruir, a humanidade. Acompanhado por rostos familiares como Luther (Ving Rhames), Benji (Simon Pegg) e Grace (Hayley Atwell), e por novas caras como Hannah Waddingham e Holt McCallany, Hunt mergulha num conflito que transcende o físico e "flerta" com o espiritual.
A IA é aqui mais do que um vilão: é um “anti-deus”, um algoritmo todo-poderoso capaz de manipular a realidade. Hunt, por outro lado, surge como uma espécie de Messias, relutante, com a sua “cruz” literal e metafórica às costas, numa missão que é tanto física, quanto simbólica. Em vez de dogmas, o nosso herói prega a verdade com cenas de ação de cortar a respiração.
Cinema em estado puro
Sim, há uma narrativa com altos e baixos: o primeiro acto é denso e exigente, mas quando o filme ganha ritmo, faz aquilo que só "Missão: Impossível" sabe fazer: deslumbra. As cenas filmadas num verdadeiro submarino, as perseguições em plena tundra ártica e o clímax aéreo com dois aviões bimotores são não só proezas técnicas, mas também homenagens à arte de fazer cinema “à moda antiga”.
Não se trata apenas de espetáculo visual. Trata-se de crença. Crença na experiência humana, na emoção, na vulnerabilidade do corpo físico perante o perigo. Crença, sobretudo, num cinema que não se resume a CGI, mas que vive de suor, risco e paixão.
O fim ou um novo começo?
Apesar de anunciado como “epílogo”, o filme deixa pontas soltas e personagens com espaço para crescer. Há quem diga que esta é a conclusão definitiva. Outros, que é apenas uma pausa. Seja como for, “Missão: Impossível – O Ajuste de Contas Final” não é apenas mais um blockbuster. É uma autêntica carta de amor ao cinema, escrita com a ousadia e a dedicação de um homem que, goste-se ou não, se tornou sinónimo de espetáculo. Porque Tom Cruise acredita no cinema. E nós, ao vê-lo em ação, também acreditamos.
Parecia impossível fazer melhor do que o último filme. Mas, tal como o próprio Ethan Hunt, este novo capítulo provou que não há limites quando o desafio é grande. Num tempo em que tanto se vê em ecrãs pequenos (refiro-me ao streaming e ecrãs de iPads ou telemóveis), “Missão: Impossível – O Ajuste de Contas Final” é um lembrete poderoso daquilo que o cinema, em sala, ainda pode provocar. Este não é apenas mais um filme de ação, é uma experiência sensorial, um espetáculo imagético que vibra em cada sequência, que nos faz prender a respiração e esquecer, por instantes, o mundo lá fora. Por isso, se há filmes que merecem ser vistos no grande ecrã, com som envolvente e imagens arrebatadoras, este é um deles. Tom Cruise não arriscou a vida (literalmente, pois pouco ou nenhum uso faz de duplos) para o vermos num ecrã pequeno. Façam-se à estrada, escolham a melhor sala de cinema e deixem-se levar por esta “missão” onde a emoção é real e impossível de ignorar.