Num universo onde a juventude é frequentemente tratada como o único bilhete válido para a visibilidade, a Zara assinala os seus 50 anos com uma campanha surpreendente e, acima de tudo, profundamente necessária. Para celebrar meio século desde a abertura da sua primeira loja na Corunha, em Espanha, a marca espanhola reuniu 50 das mais icónicas modelos do mundo, captadas pela lente visionária de Steven Meisel, num projeto que é tanto uma celebração de legado, como uma afirmação contra o ageism (conceito que já abordei no meu blog algumas vezes).

 

Enquanto observo esta campanha da Zara, não posso deixar de sentir uma lufada de ar fresco. Num tempo em que se fala tanto de inclusão, é raro ver o mercado da moda fazer algo verdadeiramente consequente nesse sentido, e aqui a marca fê-lo. Ver mulheres que moldaram a estética de várias épocas reunidas, não para representar o passado, mas para celebrar o presente, é profundamente inspirador. É também um lembrete de que estilo não tem prazo de validade, nem identidade fixa. Como alguém que sempre admirou a força das figuras femininas na moda (e fora dela), esta campanha toca-me de forma especial. Mais do que uma manobra de branding, vejo aqui um gesto simbólico, quase político, que espero ver replicado com mais frequência. Porque envelhecer não é desaparecer. É ganhar densidade. E, como esta campanha prova, também pode ser absolutamente deslumbrante.

 

 

O filme do Youtube, intitulado “50 Years, 50 Icons”, mostra-nos rostos lendários como Naomi Campbell, Carla Bruni, Linda Evangelista, Christy Turlington, Twiggy, Paulina Porizkova, Penelope Tree, Marisa Berenson, entre outras tantas figuras que atravessaram gerações: todas unidas numa interpretação vibrante e em playback da canção “I Feel Love”, de Donna Summer. Mais do que um desfile de rostos bonitos, o que se apresenta é uma celebração coletiva de histórias, personalidades, trajetórias e conquistas. A campanha mostra que a moda tem memória, mas também visão, e que há espaço (e necessidade) para dar palco a todas as fases da vida.

 

Uma mensagem contra o “ageism” na moda

 

Num sector ainda marcado por uma lógica de descartabilidade e constante renovação, este gesto da Zara surge como um manifesto visual contra os preconceitos da idade. Trata-se de uma ode à longevidade, à individualidade e ao carisma de mulheres que construíram carreiras memoráveis e que, ainda hoje, inspiram gerações. A ausência deliberada de nomes mais recentes e mediáticos, como as irmãs Hadid ou Kendall Jenner, não é uma falha, mas sim uma escolha simbólica: esta campanha não é sobre visibilidade momentânea, é sobre a influência duradoura. E também sobre afecto: muitas destas modelos trabalharam com Meisel ao longo das últimas décadas e, entre elas e o fotógrafo, há laços que vão além da imagem.

 

Linda Evangelista
 

A acompanhar o filme, a Zara lança uma coleção comemorativa com 128 peças desenhadas por Karl Templer, que se debruça sobre o guarda-roupa essencial com sofisticação e funcionalidade. Há smokings reinventados, calças em pele, vestidos em cetim, malhas soltas e acessórios elegantes em preto e branco, numa paleta que reforça o espírito intemporal da proposta. Para os colecionadores e amantes da marca, destaca-se ainda uma t-shirt de edição limitada com uma fotografia do grupo completo de modelos, um objeto que encapsula não apenas uma campanha, mas uma mensagem.

 

 Twiggy

 

Mas a comemoração não vive só de nostalgia. Ao longo dos últimos 50 anos, a Zara não só conquistou uma presença global como também implementou mudanças significativas: foi a primeira empresa de moda a assinar um acordo de boas práticas laborais com a IndustriALL GlobalUnion, em 2007, lançou o seu e-commerce em 2010, apostou numa linha de performance elevada com a SRPLS em 2018 e, em 2022, criou uma plataforma de revenda que incentiva à reutilização de peças, promovendo uma moda mais circular.

 

A atual presidente do grupo Inditex e filha do fundador da Zara, Amancio Ortega, Marta Ortega Pérez resume assim o espírito da celebração: “A criatividade é o coração da Zara: é a característica que nos define.” E essa criatividade, agora, também se revela na forma como desafia convenções estéticas, culturais e sociais. Não se trata apenas de vender roupa, mas de contar uma história com vozes experientes, com rugas, com elegância e com verdade. Desde que Amancio Ortega abriu a primeira loja na Corunha, em Espanha, em 1975, a Zara passou a dominar a moda feminina (e não só) em todo o mundo, oferecendo estilos modernos a um preço acessível.

 

 

A coleção-cápsula já está disponível online e em lojas selecionadas, incluindo o flagship da marca no Rossio, em Lisboa. Mais do que uma ação publicitária, este projeto prova que, quando bem contada, a moda pode ser também uma ferramenta de transformação cultural. Ao olhar para estas 50 mulheres, vemos não apenas rostos marcantes, mas aquilo que elas representam: força, presença e a certeza de que o tempo, longe de apagar o brilho, só o torna mais intenso. Mais do que moda: a celebração dos 50 anos da Zara combate o ageism com um bonito tributo às modelos de várias gerações.

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