Confesso: nunca fui fã de ginásios, nem de grandes planos de treino. Mas há hábitos que, quase sem darmos por isso, fazem bem ao corpo, à mente… e ao nosso dia a dia. Um deles tem agora nome: phonning. Já tinham ouvido falar?
Pode parecer um estrangeirismo (e é), mas o conceito não podia ser mais simples e mais português, até. Trata-se de caminhar enquanto se fala ao telefone. Isso mesmo! Pegar no telemóvel, atender uma chamada e, em vez de nos sentarmos no sofá ou ficarmos parados, começamos a andar. Pela casa, pelo escritório, pela rua. O que antes era um gesto automático, hoje pode ser uma forma consciente de cuidar de nós.
Recentemente, li que mais de 31 milhões de espanhóis já o fazem. E com razão. Afinal, o phonning é uma resposta prática a um dos maiores dramas modernos: a falta de tempo. Não exige ténis de corrida, nem leggings, nem horários marcados. Apenas dois pés e uma boa conversa. Segundo dados da Comissão Nacional dos Mercados e da Concorrência (CNMC) de Espanha, em 2023 cada espanhol falou, em média, 40,29 horas ao telemóvel. Se considerarmos uma velocidade média de caminhada de 4,5 km/h, isso significa que um phonner percorre cerca de 181 quilómetros por ano, ou seja, mais de quatro maratonas, simplesmente a falar e a andar. Impressionante, não é? Um dado curioso que mostra como pequenos gestos acumulam grandes efeitos, mesmo sem darmos por isso.
Além disso, faz maravilhas ao coração, literalmente. Melhora a circulação, ajuda a controlar o peso, tonifica as pernas e até reforça os ossos. Mas o que mais me atrai é o lado mental: aquela sensação de bem-estar, quase como se cada passo servisse para aliviar uma preocupação. E, quando conversamos com alguém de quem gostamos, esse efeito é ainda mais poderoso.
Tenho dado por mim a aproveitar as chamadas com amigos, ou até reuniões telefónicas, para me pôr a mexer. Nem sempre consigo sair de casa, por isso caminho entre divisões, às vezes com música de fundo, outras vezes só com o som da voz do outro lado. E sabem que mais? Sabe-me bem. E sabe-me bem saber que estou a fazer algo por mim, mesmo que seja algo tão simples. Não digo que isto substitua um passeio à beira-mar ou uma ida ao ginásio (para quem não falha, claro), mas digo com certeza: o phonning faz sentido. E talvez devêssemos falar mais sobre estas pequenas formas de nos mexermos, sem pressão, sem metas inalcançáveis, sem culpa.
E se pensarmos bem, estamos sempre agarrados ao telemóvel, então, por que não usar esse tempo a nosso favor? A chamada com o Banco, a conversa com a tia, o amigo que não vemos há meses… tudo pode ser feito em movimento. Mesmo num dia de chuva, dentro de casa, o importante é o gesto: levantar-nos, dar uns passos, sair da estagnação. Há inclusive empresas que estão a incentivar os colaboradores a fazer chamadas em pé, a andar pelos corredores durante reuniões, a integrar este movimento no ambiente de trabalho. Não custa tentar. Aliás, custa mais ficar parado.
No fundo, o phonning é isso: um pequeno ritual de cuidado próprio, escondido no meio da rotina. Não há desculpas. Apenas o convite discreto de cuidarmos de nós, passo a passo, palavra a palavra. E se há tendência que vale a pena seguir, é esta. Porque no fundo, o phonning não requer ginásios, nem planos de fitness complexos. Requer apenas consciência, vontade de cuidar de nós e, claro, uma boa conversa ao telefone.