O conceito de metaverso já existia há algum tempo, mas ganhou novo fôlego em outubro de 2021, quando o Facebook se rebatizou como Meta. Esse foi um dos maiores marcos recentes no universo tecnológico e um sinal claro do que aí vem: um mundo cada vez mais conectado através desta realidade digital imersiva.

 

Tijolo a tijolo, ou melhor, linha de código a linha de código, o metaverso vai-se construindo diante dos nossos olhos. Plataformas como a Decentraland permitem comprar terrenos virtuais e erguer desde uma simples casa até uma verdadeira cidade digital, com toda a infraestrutura que conhecemos no mundo físico. Não por acaso, foi também nesse espaço que aconteceu a primeira Metaverse Fashion Week (MVFW), reunindo marcas de moda e acessórios, tanto históricas como digitais, que quiseram apresentar as suas novidades.

 

Shudu

 

Não surpreende, portanto, que nomes de luxo como Gucci, Prada, Balenciaga e Burberry estejam a investir no metaverso, garantindo presença e influência num território que promete redefinir o futuro. E onde há moda, há também influenciadores.

 

Do real ao virtual: quem são os influenciadores digitais?

 

Tradicionalmente, é sabido que um influenciador é alguém capaz de inspirar e influenciar comportamentos ou escolhas de consumo. No marketing digital, essa influência ganha força através das redes sociais, onde partilham dicas, estilos de vida, opiniões ou produtos, criando tendências que milhões de seguidores querem imitar.

 

Lil Miquela

 

Mas se, até agora, falávamos sobretudo de pessoas “de carne e osso”, a crescente digitalização trouxe uma novidade: os influenciadores virtuais. Confesso que, à primeira vista, a ideia de seguir alguém que não existe “na realidade” me pareceu um pouco estranha. Porém, quanto mais mergulho neste tema, mais percebo que o impacto destes “avatares” vai muito além de uma curiosidade tecnológica.

 

Segundo a plataforma Virtual Humans, já existem mais de 150 influenciadores virtuais ativos em redes sociais, muitos deles exclusivamente no Instagram. A maioria tem como público principal os jovens adultos, habituados a navegar entre o TikTok, o Snapchat e o Instagram. É nesse universo que estes rostos digitais, meticulosamente criados em 3D ou totalmente gerados por computador, conquistam legiões de seguidores.

 

Daisy

 

As marcas, por sua vez, não perdem tempo. Hugo Boss, por exemplo, incluiu as personagens virtuais Imma e Nobody Sausage nas suas campanhas da primavera/verão de 2022. Este último, uma salsicha “cartoonesca” e colorida, soma milhões de seguidores, provando que a influência no digital não depende da forma humana. Até a Kentucky Fried Chicken lançou um influenciador virtual como estratégia de marketing na China. Um homem de 50 e poucos anos, com cabelo penteado para trás, barba bem cuidada, com um lifestyle luxuoso mostrado em jatos particulares ou a levantar pesos no ginásio.

 

Colonel Sanders

 

Avatares digitais e o futuro do metaverso

 

Para já, a maioria destes influenciadores existe apenas nas redes sociais, mas o metaverso será o palco natural da sua evolução. Graças a tecnologias como captura de movimento, green screen e animação 3D, já há quem crie o seu próprio “eu virtual”, que pode até cantar, dançar ou interagir com seguidores em tempo real.

 

Ainda que tudo seja cuidadosamente guiado pelos criadores, para os fãs a experiência é real. É por isso que muitas destas figuras virtuais já promovem grandes marcas de moda, participam em eventos digitais e até defendem causas sociais. Pessoalmente, acho fascinante como um “avatar” pode gerar empatia e ligação emocional tão fortes quanto uma pessoa real. Tal é uma prova de que, no digital, as barreiras entre o real e o virtual se tornam cada vez mais ténues.

 

Rozy Oh

 

Porque seguimos quem não existe?

 

Lil Miquela

A mais famosa de todas. Criada pela startup Brud em 2016, apresenta-se como uma jovem de 19 anos e já foi considerada pela TIME uma das 25 personalidades mais influentes da internet. Colaborou com marcas como Prada, participou virtualmente no Coachella e até protagonizou uma campanha da Calvin Klein ao lado de Bella Hadid.

 


 

Shudu

Conhecida como “a primeira supermodelo digital do mundo”. Criada em 2017 pelo fotógrafo Cameron-James Wilson e lançada por Olivier Rousteing na campanha #BalmainArmy, chegou a enganar seguidores quando a Fenty Beauty partilhou uma das suas imagens pensando tratar-se de uma modelo real.

 


 

Rozy Oh

A primeira grande influenciadora virtual da Coreia do Sul, criada pela Sidus Studio X em 2020. Apresenta-se como uma jovem de 22 anos e é chamada de GamSeong JangIn (“especialista em expressões”) pelos fãs, graças à sua versatilidade.

 


 

Daisy e Maya

Daisy nasceu em Milão pelas mãos da Yoox Net-a-Porter, inspirada na atriz Hannah Gross, e já apareceu em campanhas da Calvin Klein e Tommy Hilfiger.

 

Daisy



Maya, por sua vez, foi criada pela Puma em 2020, lançando o modelo Rider e assumindo o papel de “virtual girl” do sudeste asiático.

 

Maya

 

Além delas, há também influenciadores virtuais masculinos, como Blawko, FN Meka, Knox Frost ou Liam Nikuro, todos a consolidarem espaço neste novo ecossistema.

 

Blawko

 
Liam Nikuro

 

O próximo passo

 

Tal como Mark Zuckerberg escreveu na sua carta de fundador em 2021, “o metaverso é a próxima fronteira da ligação entre pessoas, tal como as redes sociais foram há uma década”.



E se hoje seguimos influenciadores humanos e digitais nas redes tradicionais, amanhã será no metaverso que estes "avatares", reais ou virtuais, irão marcar tendências, ditar estilos e até inspirar causas. No fundo, não consigo deixar de pensar que, daqui a alguns anos, falar de um “influenciador virtual” será tão banal quanto hoje é falar de um youtuber ou de um criador de conteúdos no Instagram. Afinal, no mundo digital, a influência não conhece limites. E há um detalhe que me intriga particularmente: estes influenciadores virtuais nunca envelhecem, nunca morrem. Eles permanecem eternamente no auge, como personagens imortais de um futuro que já começou.

Etiquetas:

Comente este artigo